XXIV: As injustiças contra a juventude

13 5 0
                                    

Luciana sabia que depois do que tinha acontecido com Alicia, algo tinha estado oculto dentro daquela livraria onde o livreiro e a menina Almeida se encontravam a maior parte do tempo fechados. 

Assim que a loira saiu de casa e foi em direção à livraria, Luciana também correu para a casa do coronel Almeida e fez questão de falar com o pai da menina. Contou tudo o que tinha visto e que corresse ao menos para salvar sua filha da vergonha antes que fosse tarde. 

O coronel duvidou dela e quase colocou o revólver na cabeça dela, mas pelo sim ou pelo não, foi tirar a prova concreta se Francisca estava ou não na livraria fechada com o livreiro. 

Luciana balançou a cabeça prevendo a desgraça que iria acontecer. Queria comentar com Silvana o escândalo que estava prestes a acontecer, mas dava conta da ausência contínua da amiga. Sempre ausente, sempre fechada em casa. Alguma coisa estava acontecendo e sendo escondida.

Tarcísio sorria para Francisca, respeitosamente. Ela assinava o documento e o olhava ansiosa. Ela o via levar o documento para finalizar. O passaporte era feito atrás da livraria, na sala justo ao lado. 

Virgílio que estava vigiando a porta do lado de fora levava um murro. O homem gritava no susto, e Francisca e Tarcísio pulavam de medo. 

O homem continuava sendo espancado e antes que Francisca pudesse fugir pela porta de trás, um tiro transpassou a porta e acertou a estante e a bala ficou presa em um livro. Francisca era coberta pelo dono da livraria que tentava a defender dos tiros, e logo, Umberto arrombava a sala e a porta batia. 

Francisca começou a sentir o que viria depois e seu rosto começou a ficar vermelho. Umberto apontava o revólver para o homem e cuspia no chão.

— Tu não vai viver para ver o dia de amanhã. — anunciou ao homem antes de lhe dar um tiro na barriga. — E você... — Francisca tinha gritado de susto e tentava se livrar do pai, mas ele vinha correndo atrás dela e a puxou pelos cabelos. — Você... Eu vou te arrebentar.

Umberto começava a acertar ela com o rebenque e arrastava a filha pela livraria afora enquanto ela chorava desesperadamente. Os joelhos arrastavam pelo chão rasgando a meia e a pele. Os gritos ecoavam pela rua e quando passavam pela praça, todos viam o que estava acontecendo. Ele a acertou em todos os lugares menos no rosto porque ainda a queria casar e a usar como moeda de troca. 

Raimundo veio correndo implorando para o pai parar. Tentava agarrar a irmã, contudo o jagunço o agarrou e levou preso até a casa dos Almeida. 

— Eu não vou. — a menina gritava de volta em prantos completamente histérica enquanto era puxada pelos degraus da casa. 

— Eu vou te arrebentar. — continuava batendo, mas Raimundo se colocava em cima da irmã e o rosto dele era cortado pela ponta do rebenque. — Raimundo sai! — puxou o garoto. 

— Corre, Francisca. Francisca corre! — berrou a meio da distração do pai.

A loira se virava e começava a correr para o andar seguinte. Trancou a porta e puxou o móvel para tentar impedir a passagem. Umberto não tinha pressa. Olhava a bochecha rasgada do filho e seguia para o andar seguinte. Empurrava a porta com o pé e forçava a porta. A madeira começava a ceder e a maçaneta rompia de vez. O móvel caía e o estrondo fazia Francisca se assustar com o som, estava escondida dentro do armário. Chorava tentando controlar o medo. 

— Você sempre teve essas ideias de maluca. — abriu a porta do armário. — Mas tu não vai ficar me fazendo passar vergonha não. Eu vou mostrar a essa cidade como se corrige filha desobediente. Tu vai vir ou eu te puxo? 

Francisca tentou parar de chorar, porém os soluços saíam por si só. Tremia de medo e de dor. Mal conseguia ficar em pé. Tinha apanhado tanto que tudo doía. 

Magris A história de uma cidadeजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें