XXXIV: Tudo às pressas

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Os coronéis iam saindo do escritório do intendente, tinham se reunido para comentar a herança em maioria indo diretamente para as mãos de Rufino, após seu pai morrer. O problema é que Rufino não tinha o exato dom para as terras de cultivo do ouro negro. O clima era tenso e coberto de um silêncio constrangedor. Decidiam apenas que Henrique iria lhe ajudar em primeiro plano e logo que seus convidados saíram o coronel teve uma ideia supimpa! Iria fazer a neta mais velha casar com o Rufino e quase tudo estaria resolvido por fim.  

Josefina aproveitou que todos saíram e alugou o avô. 

— Eu estou de saída, Josefina. — se levantou para ir atrás do jovem que iria fazer casar com a neta. 

— Eu sei. Eu vou ser sucinta e frontal. 

Henrique levantou as sobrancelhas surpreso e voltou a se sentar em sua poltrona. 

— Meu vestido de noiva está pronto. — encolheu os ombros. — Meu enxoval, as decorações, tudo... Até a data está colocada, três dias e sem noivo.  

— Eu acabo de te arranjar um noivo. Tudo está acertado. — gesticulou.

— É. Mas não está acertado para mim. Tem algo errado. Mais que errado. Vou deixar não que o senhor continue colocando cabresto em mim. Vou deixar não que o senhor decida com quem vou passar o restante dos meus dias.  

— Que conversa é essa, Josefina? — franziu o cenho e buscou um cigarro. Tateou a roupa em busca de um alívio. — Tudo tem que estar perfeito para as eleições. Minha neta bem casada com um coronel, um jovem coronel. E que votará em mim.

— O senhor fez uma escolha que era eu quem deveria ter feito. — o olhou e levantou a sobrancelha. 

— Como é que é? 

— Não vou casar com nenhum homem que o senhor indicar! — berrou perdendo a linha. 

— Como não, Josefina? Você quer me afrontar? — começou a sentir as mãos tremerem, não conseguia nem acertar o fogo em seu cigarro. 

— Querer eu não quero, mas será necessário pois sei que o senhor não cede facilmente. — respirou fundo tentando controlar sua atitude e o tom de voz para que não voltasse a gritar. O via acender o cigarro e puxar o ar com força, muita força.

— O que está dizendo? — as cinzas do cigarro iam caindo enquanto ele olhava a neta em choque. — Então vai ser sacerdotisa e caso Lucrécia no teu lugar. — decidiu rapidamente.

— Quero não saber do casamento de Lucrécia, se ela for esperta, irá fazer justo igual a mim para defender seus sentimentos. Não serei sacerdotisa, sim que subirei no altar, mas não com um homem que não tenha sido eu a escolher. 

— Como é que é? — levantou a sobrancelha. — Se não com Rufino com quem? 

— Severino. 

— O garçom? — gritou sentindo o coração palpitar. 

— Eu o amo. — confessou com seu ar superior e tom franco. 

O avô levantou chateado e jogou tudo o que estava na mesa ao chão. O cigarro caiu dos lábios e rolou pelo tapete. O coração já estava frágil, tremendo a ponto de parar, o rosto estava perdendo a cor e a raiva fazia a corrente sanguínea entrar em tráfego. 

— Como isso aconteceu? Pelos Deuses. 

— Como aconteceu não. Como acontecerá. Eu lhe faço um cenário. — levantou e foi até à porta para poder sair assim que terminasse de falar e que não tivesse a chance de levar uma bofetada. — Se o senhor não se contentar com a minha escolha eu vou expor os segredos que o senhor tanto esconde dentro das paredes dessa casa. Uma vergonha? A família do intendente, o filho mais velho enganado pela esposa e pelo irmão, crimes e crimes escondidos, mas o pior é eu nem saber de quem eu sou filha, Ricardo ou Murilo? O senhor viveu tão preocupado com seu poder, com suas eleições que deixou de ver o que acontecia debaixo do seu nariz. Mas não na minha vida. Eu vou decidir a partir de agora. Boba foi a tia Olinda de deixar o senhor decidir por ela, antes e agora. Nem é sua esposa, mas é o senhor que coloca as rédeas nela. Isso eu não quero para mim e o senhor se me amasse tanto quanto jura que sim, deixaria que eu seguisse meu coração. Iria se importar com a minha felicidade e não com fazendas, com títulos, com casamentos arranjados, mas o senhor sabe não o que é amor.

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora