XXV: Baile de anúncios

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Gertrudes correu para se sentar ao lado de Josefina. Vinha puxando Cordélia e via Gregório entregar as bebidas em bandejas prateadas. 

Seus olhares eram tensos e urgentes.

— Vocês chegaram tarde. — contou a menina Marques ao ver a viúva de Santos se sentar ao lado de Irina Gomes. — Valentim pediu minha mão para uma dança, disse que queria falar com vocês antes de dançar. 

— E o que há? 

— Acho que meu avô quer me casar com o menino Crives, o Justino. 

— Eu nunca mais o vi. — Cordélia esperava que alguém passasse com um refresco. 

— Onde o veria? — franziu. 

— No bar, na saída dele. Afinal, Justino é um cliente assíduo do estabelecimento de mulheres. Bom, era. Nunca mais foi ao bar e não me parece que tenha ido ao bordel. — sussurrou baixinho. 

— Pois. E nem vir fazer a corte ele veio. Veja só. — levantou e aceitou ser levada por Valentim. 

Cordélia e Gertrudes se olharam. 

Martin e Ariedes entraram pelo salão e se sentaram perto da saída da área de refeição. 

— Eu não vejo motivo para baile. Depois de um absurdo o que aconteceu... 

— Ainda bem que Francisca se foi. Agora eu imagino é como. Como conseguiu escapar? 

A herdeira Santos encolheu os ombros e voltou a seguir Gregório com os olhos. 

As duas viam Martin chamar Filomena para dançar. Ela recuou um pouco, todavia o pai permitia uma vez que não tinha nenhum laço com o coronel Marques. 

Ariedes também era empurrado para cima de Constança, que tinha vindo na companhia do pai e da madrasta. 

Logo chegava Justino sozinho. Ele passava olhares pesados para a madrasta que tentava disfarçar. 

Vicente convidava Cordélia para dançar, logo após Gertrudes ser levada por Gaspar. A menina Santos tentou recuar, não tinha nenhuma pretensão de passar tempo com o menino Gomes. Não deixava de olhar o garçom, ansiosa pela presença dele naquela noite. Deveria se encontrar com ela no jardim, pensava se a beijaria novamente e sentiria aqueles calores desesperados. 

Luciana sorriu amargamente ao ver que ninguém lhe chamava para dançar. Nem os feiosos do final da pirâmide social. Antes, era ela e Silvana toda a noite, mas agora nem justificação Silvana dava para sua falta no baile.  

— Talvez seja melhor parar, não? Dançando assim eu fico até sem ar. — Gertrudes tentava arranjar formas de fugir de Gaspar. 

— Mas a gente só dançou duas vezes. 

— Minha avó disse que não é prudente dançar mais de duas vezes com um senhor. Saberá. 

— Eu mesma irei falar com sua avó. Ela permitirá. 

— Por favor, me deixe descansar um pouco. — pediu com toda educação.

Gaspar sorria ao ver os olhos coloridos e acompanhou-a de volta à sua mesa. 

— Me permita a próxima dança? — Martin apareceu ao lado de Cordélia. 

— Por que deveria? — franziu debochando dele, mas aceitou ser levada.

A música diminuía de frequência e ficava muito mais calma. 

— Me perdoe se lhe ofendi no outro dia. — sussurrou bastante acanhado, já estavam quase no final da dança, mas não queria que acabasse, tinha que a fazer ficar para uma próxima. — Mas confesso que não consigo esquecê-la com aquele vestido curto, ainda me lembro de quando seus cabelos tocavam a lombar. Seu cheiro é atraente, não consigo tirar meus olhos dos seus ombros nus. 

Magris A história de uma cidadeWhere stories live. Discover now