Severino e Cordélia desceram as escadas da casa enquanto ela fechava a bolsa de mão.
— Te falta a boina. — o irmão informou ao trancar a porta.
A garota suspirou e voltou a abrir a bolsa.
— Eu já disse que odeio uniforme? — reclamou mais uma vez de uma outra regra da sociedade magreense.
— Se fosse para Greta também teria que usar uniforme.
— Esqueci lá em cima. — destrancou a porta. — Mas em Greta usar magia é uma exigência e não um crime. Leis ridículas!
Severino, o irmão, fazia sinal para ela se apressar.
Cordélia vinha correndo as escadas segurando a boina na cabeça. Via Martin conversando com Severino.
— Ah, você sempre a leva? — apontou à menina. — Bom dia, senhorita Bastos.
— Evite pegar lepra, senhor Mendes. — negava deixar-se tocar por ele. — Papai disse que as pessoas julgam quando uma mocinha solteira sai sozinha tão cedo. Ou demasiadamente tarde.
— E convém ser da vossa família.
— Exato. Talvez não percebam que mocinhas solteiras tenham pernas como qualquer senhora casada.
— E que pernas. — molhou os lábios olhando para a menina.
Severino o olhou feio e deu uma cotovelada.
— Bom, queria eu me oferecer para vos acompanhar, mas creio que meus assuntos com vosso pai são de força maior.
— Boa sorte com isso, já que nosso pai está mal amanhecido. — Severino riu.
— Vamos logo ou eu vou chegar atrasada? — levantou a sobrancelha de forma exigente com seu tom irônico.
— Nesse caso, eu vos acompanho e na volta falo com o senhor Bastos. — sorriu e foi andando com a dupla.
— Se andarem mais depressa, talvez eu consiga chegar a tempo. — resmungou vendo a entrada da escola ficar vazia.
Ela começava a correr, mas Severino a puxava de repente. O rapaz do leite na bicicleta tocou a buzina assustado e pediu desculpas uma vez antes de continuar sua distribuição.
— Eu odeio esta cidade. — murmurou ao irmão. — Por que não há mercados e cada um vai comprar seu leite?
— Há o mercado, na rua da praia. — Martin defendeu.
— Aquilo mais é um pavilhão que usam para colocar peixe passado porque não há gelo suficiente e frutas aquecidas pelo sol. — atravessou a rua. — Não precisa vir me buscar. — olhou o irmão. — E nem vir atrás de mim quando vir Josefina.
Ele a olhava convencido sempre com seu jeito engraçado e de carisma em exagero. Martin sorriu porque lhe gostava a forma que Cordélia falava, o fazia lembrar de como era em sua cidade e não nesta era de trevas em que Magris estava presa.
Cordélia correu pelos corredores da escola e parou à frente de sua sala para retomar o fôlego e abriu a porta da classe.
Não havia professor. As meninas estavam conversando entre si e outras distrações.
A jovem andou até seu lugar no fim da sala e colocou sua bolsa atrás, nos cabides e retirou a boina. Quando voltou, Josefina estava sentada em cima de sua mesa e Gertrudes se sentava em sua cadeira.
— Está atrasada.
— Sim, meu irmão é um babaca. — suspirou.
— Ele é agradável. — Josefina sorriu.
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Magris A história de uma cidade
RomanceMagris: A historia de uma cidade se trata de um mundo mágico dominado há dez séculos por uma família originalmente bruxa, contudo Magris é uma das poucas cidades que está terminantemente proibida de fazer uso da magia ou da manipulação dos elementos...