XVI: Manhã de distração

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Josefina franziu o cenho vendo a cara de Gertrudes. Empurrava a amiga e ela se despertava levemente. Olhou o professor Simão escrevendo no quadro e franziu ao olhar a amiga. 

— Onde estava? — levantou a sobrancelha. 

— Pensando sobre a estrofe que o professor passou. 

— Engraçado porque o professor começou o tema de gramática e não de literatura. 

— Tudo bem. Adormeci. 

— Adormeceu.

Josefina olhou para Cordélia, mas ela estava copiando tão concentrada que nem lhe notou. 

A menina Marques esperou que saísse antes de começar o interrogatório. 

— O que esteve fazendo para estar tão distraída hoje?

— Nada. — mentiu. 

— Gertrudes! — Núria vinha gritando desde a rua até o corredor das aulas. — Gertrudes!

— Senhoritas. — o professor Simão aparecia à porta de sua sala. — Façam menos barulho, por favor. 

— Desculpe professor. — Núria o olhou com vergonha. Puxou Bruna e sorriu balançando um papel e um frasco pequeno. — Olhe o que chegou para ti. 

— Chegou o quê? — Josefina dizia antipática para com a escandalosa. 

— Anônimo. — fez segredo com um sorriso ousado e entregou. — Tibério passou aqui e disse que é para a senhorita Santos. 

— Tibério fez o quê? — Glória, que era irmã do menino ruivo, veio se aproximando. 

— Abre, Gertrudes. — Josefina olhou animada para a amiga e logo olhou a Cordélia. 

— Eu vou abrir em casa. — sentia as bochechas ficarem vermelhas. 

— Claro que vai. — Bonifácia desdenhou com o olhar. 

— Será de um filho de coronel? 

— Quem mais teria dinheiro para comprar pedras rosa? — Constança olhava o frasquinho. 

— Podem ser falsas. — Bruna apontou. 

— O que está acontecendo? — Francisca saía da sala do professor alguns bons minutos depois do fim da aula. 

— Gertrudes recebeu um presente e não quer abrir. — Josefina colocou as cartas na mesa. 

— E de quem é? — a loira mais decidida da cidade olhou o grupo e se focou na herdeira Santos. 

— Anónimo. — Cordélia foi a primeira a responder. 

— Peço a todas perdão por me ausentar. — Gertrudes abaixou o olhar e guardou a carta e o frasco em sua bolsa e deixou a roda que se formou ao redor dela. 

Constança, Bonifácia e Filomena se colocaram uma ao lado da outra vendo o outro trio de amigas se afastar. 

— Rápida, não é? — Filomena comentou invejosa. 

— Desde que não se meta no caminho dos outros. — a filha da costureira resmungou sabendo que seria propício a união da menina Santos com o filho do coronel Gomes. 

Gertrudes olhava o outro lado do chafariz ansiosa para que fosse de Gregório o presente. Não tinha deixado nem um minuto de pensar nele. 

Tinha adormecido rapidamente, mas justo ao despertar o rosto dele vinha em sua memória, depois a voz, depois o toque que não sentiu. Agarrou o travesseiro com todo o carinho e sonhou que pudesse ficar na cama até que fosse hora de o encontrar novamente.

Magris A história de uma cidadeWhere stories live. Discover now