VI: Dia de Domingo

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— Pai. — Cordélia chamou de canto. — Minha mãe falou que não é para entrar no bar. — fez sinal e o pai foi até a lateral do estabelecimento. 

Severino ficava na caixa substituindo o pai enquanto o sonhador do primo trocava o sentimento de luto pela paixão.

— Acorda, Gregório. — o negro bateu com o pano de limpar as mesas no braço do primo quando ele vinha buscar duas bebidas. 

— Eu estou acordado, Severino. 

Martin vinha pela praça com seu terno sempre branco e arrumado. Os coronéis o olharam com desprezo, menos o arquiteto e o professor que mais estavam de conversa do que realmente bebendo. 

— O que foi, Cordélia? — franziu o cenho.

— Minha mãe mandou dizer que como está na cozinha com os salgados, o senhor que tem que me levar para ir buscar os livros na livraria do centro. 

— A sua mãe disse isso? — olhou para cima. — E eu saio do bar como? 

— Olá, muito boa tarde. — o loiro rico sorriu e tirou o chapéu. 

Pai e filha cumprimentaram e sorriram levemente. 

— Fique aqui. Eu aviso seu irmão e vamos lá bem rapidamente. Venha, senhor Martin, uma cachaça? 

— Com certeza. Adeus, senhorita. — novamente ia para puxar a mão e riu da luva de couro. — Vosso cabelo está brilhante, muito charmoso. 

— Eu não sei se está fazendo piada do meu cabelo ou da minha luva. — respondeu com bondade. 

— Senhorita. — tirava o chapéu para ela e entrava atrás de Camilo.

Cordélia ficava vendo o loiro ir embora com seu terno branco e seu cheiro picante. Ele olhou para trás curioso e sorriu ao ver que ela ainda lhe olhava.

A menina Bastos abaixou o olhar e esperou que o pai voltasse para irem até a casa de livros. O rosto da garota estava em chamas.

Encontravam o livreiro Tarcísio fazendo o pagamento de um livro pequeno para uma menina loira e jovem que era acompanhada de um rapaz de aparência igual.

— Você é nova aqui na cidade? — a loira se virou para Cordélia enquanto Camilo falava com o senhor Souza. 

— Sim. — sorriu. 

— Não te vi no baile. 

— Aparentemente não fui convidada. — sorriu levemente, para retribuir. — Sou filha do dono do bar. 

— Ah, o bar. Vai estar na escola normal? Sou Francisca. Meu irmão, Raimundo. — puxou o loiro. 

— Cordélia. — sorriu também e olhou aos gêmeos. 

— No próximo baile você estará com certeza. Você me soa bem, será fácil de se enturmar embora esta cidade tenha cidadãos ridículos. 

A filha de Camilo gargalhou, porém conseguiu se controlar. 

— Você tem dom para adivinhação? 

— Só para observação. Vai ver isso também. — garantiu a cidadã magreense com um olhar convencido. — A vi chegar com um rapaz alto, tinha longos cabelos e agora já os cortou. E essa é só a primeira amarra. Ah, tem que saber, nada nesta cidade fica escondido, portanto tenha cuidado. 

— Francisca, para de assustar a menina. Ela é que odeia regras, não significa que a cidade seja terrível. — informa o irmão, tentando apaziguar o desprezo que a loira mostrava.

Magris A história de uma cidadeOù les histoires vivent. Découvrez maintenant