Capítulo 12

17 2 0
                                    

Estou acordando em cinzas e pó
Limpo minha testa e transpiro minha ferrugem
Estou respirando as substâncias químicas

Estou acordando
Eu sinto isso em meus ossos
O suficiente para fazer meu sistema explodir
Bem-vindo à nova era, à nova era- Radioctive, Imagine Dragons

Eu estou enlouquecendo. Tenho plena certeza de que quando eu acabar o quarto nível, não vai sobrar qualquer resquício de sanidade em mim. Já tentei de tudo para conseguir os resultados das cores. A mais fácil de todas foi o laranja do Kareem, que eu achei que seria uma cor muito instável por ter a tonalidade muito aberta. Fiz diversos experimentos, com casca de cebola, urucum, e até flores. Gostei de todos e agora quero usar todos. Aproveitei e atualizei o catálogo de cores para os uniformes, assim como quem não quer nada. Vai que isso ajuda a ampliar a paleta do uniforme da casa conselheira, seria um bônus em todo o trabalho que estou tendo. Fico horas imersa em estudos, entre tecidos de várias fibras e panelas de água fervente. Já perdi as contas de quantas queimaduras ganhei, meus dedos estão coloridos além do reparo, e eu ainda não alcancei nem o roxo de Jabari e muito menos meu azul. Sei que vou conseguir o roxo dele assim que aprender a lidar com minhas tinturas vermelhas, mas o processo ainda é muito moroso e eu estou no limite do meu prazo para encontrar os tingimentos certos e começar a produção.

Se eu não conseguir logo identificar as matérias primas que resultam nas cores que eu preciso, vou perder o tempo que reservei para teste de imersão, de mordaçagem que é o processo de fixação da cor no tecido, e isso vai prejudicar todo o restante do processo...

- Estrelinha? Ayla?

- Que susto Jabari! O que você está fazendo aqui? Kareem?

- Viemos te resgatar. Faz semanas já Ayla, você tem falado dessas tinturas até com suas crianças do primeiro nível. Outro dia passei por lá para falar com o mestre conselheiro e ouvi um deles dizendo nomes de matéria prima que se usa para fazer tintura vermelha, por favor...

- Kareem está certo Estrelinha, você está perdendo a cabeça, e se encontrou uma parede na sua inspiração, precisa desanuviar. Vamos te levar para um passeio. Vamos!

- Jabari eu não posso sair agora, já tenho tão pouco tempo, se eu sair vou ficar atolada e...

- Querida, pareceu uma sugestão? Não é. Não estamos te dando uma escolha, tire seu avental e vamos. – Kareem está muito abusado para o meu gosto exigindo as coisas assim. Quem ele pensa que é?

Fui com eles até a área externa e percebi que estava perto do anoitecer. Perdi minha sessão de geografia. Bom, não estou conseguindo acompanhar ela mesmo, apesar de ser minha única eletiva.

Fomos andando até uma estação TEM que tinha próxima a oficina, pegamos um dos transportes disponíveis e fomos até o complexo do quarto nível, de lá caminhamos até o lago, tudo em completo silêncio. Dentro da minha mente eu só conseguia pensar em combinações químicas, com acetato de ferro, alúmen ou o que fosse que eu poderia usar para alcançar minha coloração azul tão querida.

- Ayla, adianta sair da oficina e manter a mente lá? Kareem está te contando sobre os experimentos que ele tem feito com a tecnologia de interface do sistema de comunicação da província.

- Perdão Kareem, desculpe Jabari. Você está certo. Eu durmo e acordo pensando nisso. Mas vou aproveitar esse pôr do sol maravilhoso. – Respirei fundo o ar mais úmido e frio por estarmos próximos ao lago. Quando olhei naquela direção vi um cobertor no chão com uma cesta por cima.

- Vocês fizeram um piquenique para nós? – Perguntei em completo choque.

- Faz tempo que não ficamos de bobeira, tava sentindo sua falta baixinha. – Falou Kareem de forma tímida.

Sociedade da LuaWhere stories live. Discover now