Capítulo 40

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Um pouco como um barco

Eu ando de frente para o mar

Eu velejo nas ondas

Um pouco como um barco

Eu vou em frente e estou orgulhosa

Do que as minhas costas carregam- comme un bateau, Indila

Pensando nisso resolvi mudar meu código de vestimenta, passei algumas noites reformando minhas calças e jaquetas sem graça em versões femininas e sensuais dos ternos de Kareem. Peças mais ajustadas ao corpo, com melhor caimento e fiz uma encomenda com Liliana.

- Liliana poderia pedir ao seu companheiro que ele fizesse para mim alguns saltos daqueles que ele gosta de usar?

- Mulher pra que você quer um acessório inútil daqueles? Machuca os pés, a coluna entorta, meu homem usa bem rapidinho e já tira. Tem algum macho seu que quer é isso?

- Não amiga, é para mim mesma. Diz pro seu homem que o que ele puder fazer mais confortável possível eu aceito porque é para passar várias horas usando. Pode ter alturas variadas, mas eu acho que entre 10 e 15 centímetros seria o ideal. Ah e meus pés são bem menores que os dele, mas eu mando as medidas para sua insígnia.

- Mulher, mas ele nunca fez nada assim tão alto, não sei se ele consegue manter o conforto em tanta altura

- Eu confio nele, você escolheu um companheiro muito habilidoso e inteligente, sei que ele vai dar o melhor.

Ficou combinado assim, ele mandaria para mim os modelos e eu diria se gostava e o que precisava personalizar e depois ele confeccionaria e enviaria os sapatos prontos. Mandei por insígnia algumas ideias que estive lembrando de pesquisas que fiz na casa conselheira. Aproveitei também alguns dos modelos que fiz por lá e customizei. O vestido cerimonial que fiz para minha cerimonia do sangue nunca tinha sido usado por exemplo, então eu tirei a calda dele, deixei mais curto atrás como já era a frente, e abri a parte da frente para acomodar calças. Passei a pintar meus lábios com um lipbalm mais escurinho que eu mesma fiz, os cabelos parei de usar trançados, e voltei a passar óleos e manteigas naturais para os hidratar e deixar com as curvas bem definidas. O efeito foi um cabelão volumoso e bem definido, que me deixava com um aspecto de leoa.

Eu sou ômega sim e isso tem muito valor, além de ter um alto custo. Ou ele me valorizava ou sofreria. Eu iria desviar a atenção de cada funcionário daquele setor e os tornar completos paspalhos. Nunca mais ele subestimaria minhas habilidades.

Enquanto os sapatos novos não chegavam eu fui mudando gradativamente minhas roupas e minha postura. Saia de casa e já pegava o café e chá de todo mundo antes de entrar na embaixada, adiantava a agenda do segundo secretario, e ainda ajudava na agenda do primeiro. Preparava tudo com antecedência e me adiantava para as salas de reunião antes de todos chegarem. Não tinha como ele me expulsar na frente de todos, ele não podia mexer comigo ainda mais nas minhas condições.

Descobri que no meu setor mais da metade dos funcionários eram barbatões por definição ou ainda estavam em seus clãs maternos, e isso foi ótimo pra mim.

Quando notei que apesar de já estar lá há quase três meses meu chefe ainda me desprezava, chegaram os saltos que encomendei com Liliana. Sandálias de tiras grossas que valorizavam meus pés, saltos grossos para darem estabilidade e maior conforto, experimentei todos na minha toca com as minhas novas vestimentas e deixei meus machos no chão literalmente. Precisei da ajuda deles para me equilibrar nos sapatos novos e fui treinando até conseguir andar com a postura correta, de forma imponente.

A primeira vez que entrei na embaixada com Kareem atras de mim, usando uma camisa de seda branca e botões, um manto sobre os ombros e calças de alfaiataria (presente de Kareem que me cedeu um terno para customizar), e sapatos altos com uma corrente dourada delicada no tornozelo, eu senti meu verdadeiro poder ômega. Estendi a mão e Kareem me apoiou para pisar na escada rolante, eu ainda era nova no uso daqueles sapatos assassinos, mas isso não diminui meu poder. Parei na cafeteria do primeiro andar e quem estava na fila abriu passagem para mim, Kareem se estendeu ao balcão e fez o meu pedido. O atendente perguntou: A senhora vai levar o café do setor hoje?

- Não, hoje quem leva é você. Já tem três meses que peço todos os dias a mesma coisa, espero que as 9h em ponto todos do meu setor estejam com suas canecas abastecidas, por favor. - Kareem pegou meu chá de cidreira com limão e gengibre que era a única coisa que me ajudava a manter meu café da manhã no estomago ultimamente, e subiu até meu setor comigo. Os enjoos matinais eram muito desgastantes e o chá era um grande aliado, e foi dica de Liliana, que agora que eu estava bem longe de seu covil tinha se tornado minha melhor amiga.

Assim que entrei no corredor que dava para minha sala, vi o segundo ministro parado em minha mesa, com o quadril escorado na lateral. Seus olhos encontraram os meus e vi a expressão surpresa refletida ali, além de olhos arregalados e boca entreaberta que também entregavam seus sentimentos. Ergui uma sobrancelha recriminatória para ele e ele desencostou rapidamente.

- Bom dia senhor segundo secretario, posso ajudá-lo em algo?

- Bom dia Ayla, você está diferente. Alta.

- Sim estou, o senhor veio a minha mesa por precisar de algo?

O homem estava sem fala, mas conseguiu pedir que eu o acompanhasse em uma reunião. Quando viraram para mim na porta da sala, valeu a pena. Finalmente estavam me vendo não como um fulano que estagia por ali, mas o ser Ômega que eu sou.

Levantaram-se em sinal de respeito, puxaram minha cadeira, Kareem colocou meu chá a minha frente, e disse: mandei trazerem algo para a senhora comer há cada duas horas, para não sentir fome, caso não queira é só dispensar o serviço.

- Obrigada querido. Pode ir, tenho trabalho a fazer agora. – Era incrível como ao mudar minha postura ninguém estava questionando a capacidade do meu macho em trabalhar e estar atento a mim. Isso nunca deveria ter acontecido para início de conversa. A prioridade de um macho acasalado sempre será seu ômega, não existe discussão sobre isso.

Kareem também ficou um pouco perdido e não sabia se beijava minha mão, se fazia uma reverencia e acabou fazendo os dois. Achei adorável.

Voltei minha atenção aos presentes na sala, cruzei minhas pernas deixando minhas sandálias novas em evidência. Percebi quando todos seguiram o movimento com os olhos e depois voltaram a me encarar. Olhei para o segundo ministro que estava hipnotizado e disse:

- O senhor não vai começar a reunião?

Achei ótimo que finalmente as coisas estavam girando no ritmo certo. Eu continuava estagiária, continuava aluna, mas agora eles me respeitavam, me ouviam e usavam meu nome.

Meu chefe saiu do meu encanto logo no segundo dia, sei que ele é acasalado e quando chegou em casa provavelmente que teve sua dose ômega abastecida, mesmo assim havia ainda um respeito bem maior e mais evidente dele para mim. E os outros do setor ainda estavam no meu encanto, então eu podia me dar alguns luxos. Agora não era mais eu quem pegava as bebidas de todos, tinha sempre um ou outro se oferecendo para trazer mais chá de cidreira, limão e gengibre para encher minha caneca, ou algum deles me ajudava com alguma tarefa minha mais desagradável, tinha sempre alguém me lembrando de comer. Quando ia almoçar com Kareem, ganhávamos a melhor mesa do salão. Por que ômegas se deixavam ficar em lugares tão vulneráveis? O poder era tão melhor.

No fim do dia, massagem nos pés, banho de espuma, carinhos e elogios dos meus homens, e eu não podia querer mais nada além disso.

Assim que minha barriga começou a fazer forma em minhas roupas, precisei reajustar tudo: calças, saias, blusas. Tive a ideia de usar uma faixa de malha de algodão na barriga para evidenciar e ajudar no ajuste das roupas.

E se eu pensava que os saltos altos me ajudaram a me impor, a barriga abria tantos caminhos! Todos sem exceção ficavam abobalhados com a minha presença, e me davam a prioridade em qualquer situação.

Uma vez me atrasei para uma reunião porque precisei ir ao banheiro, minha barriga já estava bem redondinha apesar de ser pequena por causa do meu baixo peso, quando entrei na sala, a reunião já estava correndo e não havia um lugar para mim me sentar. Houve uma comoção geral de quem me cederia o lugar, onde pegaria uma nova cadeira e acabou que me sentei em uma e estiquei as pernas em outra, deixando dois funcionários em pé. Foi bom que assim um deles podia trazer refil do meu chá, que a essa altura todos já sabiam como eu gostava.

Era divertido ir para o trabalho!

Sociedade da LuaWhere stories live. Discover now