Sociedade da Lua

Capítulo 30- Parte I

Outro momento decisivo
Uma bifurcação cravada na estrada
O tempo te agarra pelo pulso e
Te mostra aonde ir

Então, dê o seu melhor nesse teste
E não pergunte o porquê
Essa não é uma pergunta
Mas sim uma lição que se aprende na hora certa

É algo imprevisível
Mas no final dá certo
Espero que você tenha curtido o melhor momento da sua vida. Good riddance- Green day

Alguns dias depois da conversa com Liliana, acordei indisposta, uma sensação de pressão no baixo ventre e uma dormência pelo corpo. Ao tirar o lençol de cima do meu corpo, notei sangue em minhas pernas.

O desespero e o susto duraram uma fração de segundos até que eu ouvisse a porta se abrir e Liliana passar por ela.

- Ah que bom, você acordou. O cheiro de sua lua espalhou por todo meu covil, estão todos agitados. – Notei o tom malicioso e maldoso em sua voz. Mas tinha acabado de acordar, então só me mantive olhando-a andar por meu quarto. - Está na hora de te prepararmos pra sua cerimônia da lua, e então você irá embora. – Ela tentou fazer parecer que sua animação era por mim, mas deu para perceber que ela estava querendo ter sua privacidade de volta.

Liliana falava como se eu fosse uma convidada indesejada e aquilo me perturbou.

Ela entrou no banheiro do fim do corredor que eu dividia com alguns de seus filhos e preparou um banho imersivo com ervas para mim e me mandou lavar meu sangue no chuveiro, depois entrar na banheira.

Enquanto eu ficava submersa na banheira, ela me disse o que eram as ervas do banho e como o preparar, e todas as instruções ela já havia mandado para minha insígnia no meu pulso. Ela havia mandado também, os chás com ervas que eu encontraria em meu território. Esses chás eram importantes para ajudar com o desconforto desses dias, segundo ela.

Avisei a ela que meu covil era na ilha beta, e ela disse que eu tinha feito uma grande confusão em misturar as coisas, mas que eu poderia enviar meus filhotes para trabalhar nas embaixadas da casta de cada pai. Agora ela me dizia que pesquisou ervas que posso encontrar fácil onde eu morar, que farão o mesmo efeito das ervas que ela está usando hoje em mim. Lilian tinha um jeito peculiar.

Depois do banho ela me ensinou a usar a copa, que eu só deveria usar se estivesse na forma humana pois a fisiologia de loba é diferente. Mas que caso eu me transformasse teria que tirar a copa. A copa nada mais era que uma pequena taça maleável que inseria no canal vaginal para aparar o sangramento proveniente a lua.

- Sei que parece ruim, mas pense pelo lado bom: você só irá passar por isso uma vez ao ano querida.

Recebi massagens, tomei chás. Aprendi a fazer um ninho para o cio, que consistia em encontrar um lugar recluso e escuro, com luz indireta confortável e seguro, e eu faria meu próprio leito nupcial com a ajuda da minha loba, usando roupas usadas, talvez até flores e folhas (algumas lobas precisavam de estímulo sensorial por isso os machos ofereciam folhas largas de palmeiras, mas na minha ilha não sabemos como será)

Depois do almoço tive mais massagens, era importante estar relaxada para o que iria acontecer em alguns dias.

De noite teve uma festa, e eu pude usar meu traje cerimonial que fiz na casa conselheira. Me olhei no espelho e chamei meus amores.

- Uma deusa

- Maravilhosa

- Incrível

- Perfeita

Foi o que eles me disseram, enquanto viam por minha mente a imagem refletida do espelho

A festa foi realizada na praia, com tochas na areia para decorar, mas o destaque era a bioluminescência. Tinha uma fogueira, e todos os membros da alcateia estavam lá para celebrar o início da minha vida fértil. Era bonito e fez eu me sentir acolhida. Eu saí da toca, e passei por um portal que foi construído na areia, decorado com flores de plumária. Fui recebida sob uma chuva de aplausos, e em seguida Liliana veio até mim, segurou minhas mãos e disse:

- Foi uma honra e um prazer participar desse momento tão lindo de sua vida. Desejo a você toda a fertilidade, amor e reciprocidade que você merece. E que todos seus filhotes nasçam ativos.

Um silêncio respeitoso se estendia pela praia, ela me abraçou, beijou minha testa e ergueu nossas mãos, me apresentando para a sua vila.

Depois ofereceram um pouco de cada bebida para mim, de cerveja a hidromel e eu amei a experiência. Meus amores estavam dentro de minha mente, com seus lobos, observando o momento através de meus olhos. Todos estavam emocionados comigo.

***

Dia seguinte acordei com a boca amarga e dor na cabeça, nunca tinha sentido dor, mas agora sabia que era algo que não queria repetir.

Fui ao banheiro fazer minha higiene, limpei e reinseri a copa, e fui procurar algo para comer. Liliana percebendo minha cara, ofereceu caldo de legumes e musculo de algum animal que não me atentei ao nome quando ela explicou. Terminei meu caldo e voltei a dormir.

Passei assim até o dia seguinte, ia ao banheiro, tomava o caldo, voltava para cama. Foi bom porque no dia seguinte eu estava nova.

Quando acordei toda minha bagagem já estava no barco que me levaria para a casta beta. Todos já me esperavam e senti que estavam ansiosos para minha partida, então fui rápida em me despedir de todas as crianças e adultos que estavam na praia. Agradeci a Liliana por todo o ensinamento, por me acolher e por me presentear com um aparelho de chá, a primeira louça do meu enxoval.

Entrei no barco e me instalei, ansiosa para zarpar. 

***

( A bioluminescência a qual me refiro é um fenomeno que deixa a agua do mar azul brilhante a noite. Como Ayla está na casta delta, e essa casta é situada na oceania, aproveitei esse fato para caracterizar mais o lugar, e servir de dica. O covil que a recebeu está em Bali, na Indonésia. Um lugar com lindas paisagens naturais, praias fantásticas e esse evento de tirar o fôlego, que é a bioluminescência.)