Capítulo 22

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"Talvez eu não tenha te abraçado
Em todos aqueles solitários, solitários momentos
E eu acho que nunca te disse que
Eu sou tão feliz por você ser minha
Se eu fiz você se sentir em segundo lugar
Garota, eu sinto muito, eu estava cego

Você sempre esteve em minha mente." - Always on my mind, Elvis Presley

Kareem

- Irresponsáveis. Inconsequentes. Egoístas. O que estavam pensando? Que é fácil se desvincular de um ômega? Quase a mataram nessa ceninha de vocês!

Já tem algumas horas que estamos, Caius e eu, ao lado de fora do quarto de Ayla, ouvindo o sermão do Grão mestre.

- Entendo que Kareem não soubesse a extensão de seus atos ao se recusar ao vínculo com o ômega, mas você Caius? Como pôde? O que pensou que estava fazendo? Onde pensou que chegaria? Não saiam do lado dela até que ela esteja em completa integridade.

Ele se vai como uma tempestade que veio e arrasou tudo o que encontrou, sem deixar sobreviventes. Olho para Caius que pelo menos tem a decência de se mostrar envergonhado, e digo:

- Está na hora dela se alimentar, vou buscar algumas frutas e um pouco da sopa de carne com legumes que pedi para Caeser preparar para ela. Já volto.

Caeser ficou arrasado quando soube da situação em que a baixinha ficou. Pedi a ele que fizesse sua comida até que ela tenha condições de ir comer junto de todos, porque sei que se importa com ela. Apesar de precisar me deslocar por quase meia hora ida e volta só para trazer as refeições de Ayla. Quando a vi ontem no fim da tarde, ela estava tão abatida que mais parecia uma alma penada. Assim que percebi que iria perde-la fui imediatamente em busca de ajuda, saí correndo literalmente gritando pra quem eu pudesse encontrar que buscasse o mestre Elewa, o Grão mestre ou quem quer que fosse. E avisei: nosso ômega estava sucumbindo.

Tudo por culpa minha que pensei que seria fácil a recusar e ficaria por isso mesmo. E o pior é que eu não podia sequer dizer o quanto aquilo acabava comigo também. Aposto que Jabari do lado de fora a essa altura está me amaldiçoando por todos meus antepassados. Se a mim que estou no terceiro nível, a situação de Ayla já afeta muito, não posso imaginar como Jabari que tem um laço de quarto nível com Ayla, esteja sofrendo.

Cheguei em tempo recorde ao comunicador central do complexo, e consegui falar com Caius. Um tutelado de quinto nível não pode usar tecnologia sem supervisão, mas eu sou um tutelado de uma casta que mexe com isso, claro que eu sei burlar o sistema.

- Caius, é a Ayla. Ela precisa da gente ou não passará de hoje. – Assim que ele atendeu, só tive tempo de falar isso, e voltei correndo. Sei que ele veio rapidamente também, deve ter usado o vagão aéreo, só isso explica. Ficamos nos encarando com medo de não ter sido o suficiente. Caius vez ou outra acarinhava a cabeça de Ayla quase careca, com sua barba loira. Dava beijinhos como se quisesse cura-la num passe de mágica. E eu também fiz o que pude, dedicando minha atenção exclusiva a suas necessidades.

Por dois dias não pudemos movê-la se quer para o banho, mas conseguíamos fazer ela tomar um pouco de sopa e as vezes ela comia um pouco de purê de frutas frescas. Mas na maior parte das vezes ela só aceitava água.

Sua recuperação demorou mais do que esperávamos, sinal de que ela realmente estava por um fio, quase não agimos a tempo. Caius contava a ela sobre as viagens que fez, e todas as coisas que viu e que a aguardavam do lado de fora, dizia que ela precisava resistir porque precisava conhecer pessoalmente cada uma das experiencias que ele lhe narrava. As vezes ele cantava alguma música que tinha aprendido em seu intercambio, e sempre lhe fazia carinho, nos braços, na cabeça.

Eu a beijava no pescoço como tinha visto Jabari fazer algumas vezes, dizia a ela sobre o tempo fora do complexo, se fazia sol ou chuva, trazia suas flores favoritas para enfeitar o quarto. Durante seu banho Caius e eu sempre fazíamos um silencio respeitoso, evitando olhar muito por qualquer parte de seu corpo, que apesar de abatido e magro, ainda tinha um efeito impactante em nós. Mais nele do que em mim, já que eu tomava o inibidor de libido e ele não.

Sociedade da LuaWhere stories live. Discover now