1 - 𝙾 𝚝𝚎𝚖𝚙𝚘 𝚎́ 𝚖𝚎𝚞 𝚎𝚡𝚒́𝚕𝚒𝚘

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Cansado era pouco para expressar tudo o que sentia naquele exato momento. Em palavras mais firmes, ele estava exausto, farto de toda aquela monotonia empregada ao seu ser a mais tempo do se era possível lembrar. Então, uma ideia que em nada agradaria aquele de maior nome se apossou de sua mente. Precisava de novos ares, novas experiências que não poderia mais encontrar onde passou metade de sua vida.

- Não devia sequer pensar em algo assim, ele não lhe dará essa liberdade por muito tempo.

- E o que ele fará? Me matará? - O deboche gritava em suas palavras, e para sua infelicidade, a razão não podia ser tirada dele. - Essa não é uma possibilidade existente, então isso está fora da lista de ameaças. O que quer dizer que não sobra muito para ser feito. O tempo é o meu exílio.

- Está brincando com forças desconhecidas, caro amigo.

- Para variar, é interessante finalmente poder voltar a brincar com algo, Belphegor. Mas me diga, como eu estou?

- Sem dúvidas está parecendo com um daqueles seres medíocres.

De olho no próprio reflexo, Belzebu assentiu intrigado com a própria forma adquirida. Era algo simples demais, algo tão banal que apenas os humanos para se conformarem com toda aquela simplicidade. Ao menos conseguia ver naquela figura uma gloriosa representação daquilo que um dia ousou ser antes de ser direcionado ao inferno. Seres mortais criados a imagem da perfeição, mas sem nenhuma de suas glórias, e com mais falhas do que o próprio criador poderia prever. Esses eram os humanos.

Perspectivas, era disso que se tratava toda nova idealização que surgiam ao longo dos novos e velhos séculos. Muito se ouvia da degradação humana, do seu próprio avanço em meio a tanto retrocesso. Porém, decidido a não fazer mais julgamentos, Belzebu buscava por encontrar mais do que apenas um refúgio sobre a superfície da Terra. Mesmo descrente de qualquer boa mudança daquela raça, Belzebu estava atrás de novas perspectivas. Mas principalmente, ele estava atrás de diversão e novos passatempos. Estava certo de que os encontraria em meio a meros mortais.

- Peço para que cuide de tudo por mim, velho amigo.

- Se está mesmo achando que passará tanto tempo naquele lugar, tudo bem. Será o nosso acordo. - Com tais palavras, um forte aperto de mão selou aquele pedido. Um ato simples, mas característico das ações humanas.

Sobre a Terra, Belzebu era um ser conhecido, mas pouco comentado nos últimos tempos. Um dos sete príncipes do inferno, o nome por trás da personificação do pecado da gula, também condizente pelo chamado Deus das Trevas. Em alguns cantos, o próprio espírito de Satanás, um demônio realmente muito forte. Mas nem todos os estudos o agradavam, mesmo que alguns servissem para lhe tirar do tédio.

Demônio, um chamado um tanto fora de contexto na visão do próprio Belzebu. Achava a literatura humana um pouco forçada em alguns pontos, mas era capaz de entender que aqueles seres estavam longe de obter toda a compreensão por trás de uma figura como a sua. Um simples humano jamais poderia compreender toda a sua história, ao menos não aquela que realmente aconteceu. Se perderiam em lágrimas se o fizesse, perderiam o próprio juízo com tal experiência. Ele quase perdeu.

- Olha por onde anda, merda!

Analisando o próprio ombro, onde o homem havia esbarrado ao passar por aquele ponto da calçada, Belzebu notou o incômodo do outro enquanto seguia o próprio caminho. Então pensou no quão frágil era aquela raça. Não havia sentido nada, mas de alguma forma aquele homem parecia ter segurado sua dor diante o bruto contato acidental, o expondo em seu tom de voz ao reclamar com sua persona. Se fazia de forte, mas estava longe e demonstrar qualquer tipo de força.

- Patético. - Levando ambas as mãos até os bolsos do paletó que cobria a parte superior do seu corpo, o Deus das Trevas ressoou calmo e em um suspiro tranquilo, acolhendo devagar a suavidade do ar encontrado fora do seu mundo.

𝗕𝗘𝗟𝗭𝗘𝗕𝗨 • ꪜỉꪜꪖWhere stories live. Discover now