𝗕𝗘𝗟𝗭𝗘𝗕𝗨 • ꪜỉꪜꪖ

22 - 𝙽𝚊𝚍𝚊 𝚎𝚜𝚝𝚊́ 𝚍𝚎𝚌𝚒𝚍𝚒𝚍𝚘

Todos ainda presentes no apartamento de Lena Luthor, esperavam em silêncio por mais aquela virada de noite. Muito havia sido conversado, mas nada possuía a força necessária para convencer Kara a deixar a Luthor e voltar ao seu lugar no submundo, sua decisão não parecia poder ser moldada, e não importava o risco que estava correndo longe dos seus domínios. Se sentia na obrigação de manter a segurança de Lena a todo e qualquer custo, mas não era tudo o que se passava na mente da Zor-El.

Era tarde, a meia-noite nunca esteve tão perto, e enquanto uma parte da movimentada National City adormecia na espera de um novo dia, junto do que restava, Kara e os demais via o lento passar de cada minuto no relógio em seus pulsos. Pelo apartamento, estavam espalhados de forma estratégica, à espreita e aguardando qualquer sinal do desconhecido. Lena pensava ser um exagero, mas escolheu não palpitar quando até mesmo Samantha sentiu a necessidade de ficar em prontidão. Tinha sono, mas o clima pairando dentro do seu apartamento não lhe permitia dormir.

Na porta, do lado de fora Alex e Clark visavam proteger e averiguar qualquer entrada naquele andar do prédio. Eram a primeira linha de defesa, os responsáveis por fazerem o necessário para impedir que a força do inimigo pudesse se arrastar até o seu destino final. Lena Luthor era uma consequência, um meio para o fim desejado, mas o pecado e o juíz das almas justas possuíam a certeza de que Kara Zor-El era o foco principal. Estavam encarregados de proteger a Luthor, mas isso apenas por saberem das possíveis consequências decorrentes de um assassinato precoce da jovem mulher. A situação era clara, uma espécie de bomba nuclear pairava em suas mãos desde o primeiro momento. Deviam ter recorrido a ajuda superior quando o indício do caos foi apresentado, mas agora não dava mais tempo, ele estava perto.

— Porque não descansa um pouco, Lena? Estaremos aqui quando acordar — acompanhando cada um dos passos dados pela amiga, Samantha tentava mais uma vez a convencer do descanso. Uma pena o sucesso não estar ao seu lado naquela pequena batalha.

Guardada pela preocupação de Samantha desde o instante em que Kara se retirou após dar fim ao diálogo que trocavam sem ceder qualquer resposta para o que ouviu, Lena não conseguia deixar de pensar no que se passava em sua mente. Queria saber como acabar com tudo aquilo para poder enfim voltar ao que era a normalidade da sua vida, queria ter a chance de recomeçar, uma oportunidade para conhecer a Zor-El sem toda a frustração da possibilidade do fim do equilíbrio entre os mundos. Não estava acostumada com nada daquilo, a não estar no controle de tudo. Não era propensa a sentir medo, mas em segredo confessava a si mesma que a situação vivida a assustava com peso, e por isso deixava as necessidades mais básicas do ser humano a guiar para onde desejava estar, onde realmente conseguia se sentir em segurança.

— Eu estou bem, Sam. Essa não é a primeira noite que passamos virada, lembra? — deixando o quarto enquanto dizia, tentou não se entregar ao assunto que Samantha poderia trazer a vida a partir do longo suspiro que deixou escapar por entre os seus lábios. Existia algo que precisava fazer, e mesmo que todos ao seu redor deixassem qual a melhor decisão, ficava feliz por saber que sua presença importava tanto para a loira de brilhantes, mais carregados olhos azuis.

Kara não fazia ideia de quanto tempo estava naquela mesma posição, em silêncio e assistindo a pouca movimentação pelas ruas daquela cidade como se fosse o melhor filme já gravado na face da Terra, assim como também não conseguia decifrar o momento exato em que Leviatã se faria presente em sua frente. O sentia cada vez mais próximo, mas era tudo o que tinha. Algo lhe causava bloqueio para a clareza do que era a ligação dividida com os pecados à beira de um colapso interno, principalmente quando isso lhe afetava diretamente. Era como um radar, mas sentia estar quebrado naquele momento. Um motivo obviamente era existente, e não conseguia ver nada mais plausível do que a intensa preocupação que sentia com Lena, ao invés do equilíbrio seguro pela ponte entre os mundos. Talvez fosse culpa sua, mas não se importava de carregá-la se no fim a história ao lado da Luthor terminasse bem.