𝗕𝗘𝗟𝗭𝗘𝗕𝗨 • ꪜỉꪜꪖ

20 - 𝚃𝚘𝚍𝚊 𝚖𝚊𝚕𝚍𝚒𝚌̧𝚊̃𝚘 𝚙𝚘𝚍𝚎 𝚜𝚎𝚛 𝚚𝚞𝚎𝚋𝚛𝚊𝚍𝚊

De pé em plena madrugada, e com os pensamentos vagando para longe, Kara Zor-El se encontrava debruçada sobre a barra de proteção da varanda no apartamento de Lena. Temendo pela segurança da Luthor, decidiu que passaria as próximas noites ali, esperando por qualquer plano audacioso vindo da parte do seu usurpador. Mas aquele já era o terceiro dia em que a Zor-El não conseguia dormir sequer uma única noite completa, pois pesadelos e medos não lhe permitiam ficar tão perto quando não estava ligada. Ferir Lena era a última coisa que queria, e nem por isso conseguia se manter longe o suficiente, então ficar acordada era a solução mais simples em suas mãos. Ao menos era esse o seu julgamento pessoal, um com o qual Alex Danvers não estava de acordo. 

Cuidando para que Kara não precisasse sujar as mãos da forma como imaginava ser preciso para dar fim ao problema depositado em seu colo, Alex e Clark trabalhavam incansavelmente em um plano de contingência, em uma maneira não letal de levar o pecado da inveja de volta ao mundo inferior mesmo contra a sua vontade. Não vinha sendo uma tarefa muito fácil, mas esperavam ter algo antes que o pior viesse a acontecer. O tempo estava correndo, e claramente ele não era muito longo. 

Ao lado de Lena desde o cemitério, Samantha Árias assistia o levantar de Kara em todas as noites que a loira esteve ali junto delas. Lena estava cansada demais para perceber os movimentos em seu apartamento, mas a preocupação da Árias lhe permitia captar tudo ao seu redor. E se não bastasse a frustração por não saber o que fazer para ajudar, Samantha ainda precisava lidar com os flashes que não deixavam de atingir a sua mente como uma memória a muito tempo bloqueada. Estava farta de tudo isso, mas ficou sem reação quando enfim conseguiu enxergar Kara Zor-El por detrás da casca humana que era vestida, e o motivo para tal feito estava em seus olhos.

Passava das três da manhã quando Kara abandonou a cadeira ao lado da cama de Lena e se direcionou ao posto onde estava desde então, e pouco mais de meia hora antes disso, Samantha mergulhava a contra gosto em uma visão que a deixava muito confusa. Desperta por causa do que viu, no sofá feito uma estátua sem vida, a CFO assistiu quando Kara fez da varanda o seu porto seguro. Pensou muito antes de tomar aquela decisão, até que sentiu um duro incômodo em seu peito e resolveu ceder às vontades não entendidas. Precisava saber o quão real era tudo aquilo, e mesmo que Alex fosse quem julgava ser a mais direta dos três seres não humanos, algo lhe dizia que a Zor-El era a única que podia lhe confirmar tudo.

— Essa aura — atraindo a atenção da loira, Samantha sentiu um peso nunca experimentado antes — Você carrega tanta dor.

Ouvindo a voz da Árias, Kara se virou devagar para saber o que a teria levado ali. Então vislumbrou o amarelo encaminhado para o vermelho presente naqueles olhos, e para isso não pode evitar sorrir. Samantha não entendia, não conseguia compreender como alguém com tanto sofrimento era capaz de sorrir com tanta sinceridade daquela forma. Foi quando pensou em Lena.

— O que te fez despertar? — depositando uma das mãos sobre os ombros da morena, perguntou em suspiro agradecido. Aquele era um sinal novo, a prova de que Alex possuía razões sobre algumas coisas fora do seu compreendimento.

— Você realmente nos matou? — com a mão sobre a falsa dor em seu peito, Samantha perguntou recuperando o castanho dos seus olhos ao mergulhar no desesperador azul oceano de Kara. Uma confirmação sem palavras, e que a vez simplesmente abraçar a loira.

Perdida em memórias que serviam unicamente para reabrir cicatrizes a tempos fechadas, Kara fechou os olhos e se abrigou nos braços de quem uma vez a tirou da solidão indo contra todos os avisos jogados em sua cara. A amizade que nasceu naquele dia, permaneceu viva mesmo depois do brutal assassinato, e apesar do sentimento de culpa quando tudo foi descoberto meses depois, Kara ainda levava os amigos na lembrança e no coração, pois eles eram os únicos. Sentia que o amor fosse o seu maior inimigo, mas não sabia mais como o evitar.