Capítulo 17

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Ela podia ouvir os gritos da batalha, o tinir do metal das armas e o som dos golpes que os Pokémon disparavam, mesmo naquela distância. A noite parecia ter se tornado dia, pela claridade que os raios, golpes de luz e principalmente as chamas provocavam. Havia tanto fogo que mesmo a água e o gelo dos Pokémon desses tipos eram insuficientes para aplicar o caos crescente, combinados aos raios e venenos. E as ondas psíquicas faziam os demais golpes aumentarem, avançarem e se chocarem.
Pokémon gritavam e agoniavam tanto na terra quanto no céu. Cheiro de fumaça, gases venenosos e sangue de humanos e criaturas se espalhavam com a ajuda do vento, fossem eles provocados ou não. Uma fina chuva caía, não sendo suficiente para aplacar a destruição e o calor dos exércitos de humanos e Pokémon que batalhavam entre si.
Ela era capaz de sentir a força de todo o ódio, desespero e desejo de destruição daquelas vidas. Os gritos e guinchos de raiva e dor impossíveis de discernir se vinham de humanos ou pokémon.
A fumaça entrava em sua garganta e lhe dificultava a respiração em meio ás lágrimas e a dor lancinante que lhe cortava a alma.
O bebê em seus braços chorava e ela abraçou-o contra seu peito, correndo na maior velocidade que podia, apesar do cansaço e do ferimento na perna que a fazia mancar, deixando um pequeno rastro de sangue.
Por quê as coisas haviam chegado a esse ponto? Deveria ter lhe dado ouvidos. No fundo, sempre soubera que nunca deveria ter saído daquele lugar. Nunca deveria ter aceitado aquela proposta, nunca deveria ter entregado seu coração e traído seu dever. Quisera tanto e agora nada mais lhe restava.
Era a punição que merecia.

O pequeno Pokémon esverdeado flutuava a sua frente, procurando guiá-la pelo caminho do bosque. Após um clarão de luz, ela percebeu que as cores verdes do Pokémon estavam se tornando opacas e a pele dele extremamente ressecad . Mas, a despeito de sua expressão exausta, ele mantinha-se o mais firme que podia.
Foi então que ela parou subitamente ao ouvir um estrondo ensurdecedor seguido por um grito que cortou o ar.
Se virou e ergueu o rosto na direção de onde viera o som. E, entre os clarões de raios e chamas, viu o imenso pokémon branco desabar no céu em uma chuva de sangue, chocando-se contra a água e desaparecendo no mar.
Tudo estava acabado agora.

Abraçou a criança em seus braços e chorou enquanto ouvia os gritos exultantes de humanos e Pokémon inimigos.

~*~


Crystal acordou sufocando um arquejo e sentiu o coração descompassado. Sua visão estava embaçada e, ao levar a mão ao rosto, percebeu que estava chorando. Ergueu-se na cama e tateou o travesseiro notando a fronha úmida. Pelo visto, ficara chorando durante todo o sonho.
Mas, como era o sonho? Quanto mais tentava se lembrar, mais as imagens dele se desvaneciam.
Olhou ao redor.Na cama ao lado, Alice dormia, os longos cabelos pretos espalhados pelo travesseiro.

Enquanto arfava, esperando os batimentos do coração se estabilizarem e aquela sensação ruim na boca do estômago assentar, Crystal estudou o pequeno quarto da pousada, podendo ouvir o som da garoa que começava lá fora.
Aqueles estranhos sonhos estavam se tornando cada vez mais recorrentes desde que voltara a Johto e por mais que eles não se fixassem detalhadamente em suas memórias, a sensação que lhe causavam permanecia por dias. Sentiu como se algo estivesse queimando sua pele e pegou o cristal que mantinha no cordão em seu pescoço. Ele estava um pouco quente, talvez por conta do calor do seu próprio corpo. Mesmo na pouca luz podia ver a mescla de cores que nele havia. Quase podia crer que as cores dele estava mais vívidas, mas certamente isso era apenas impressão.

Ela voltou a se deitar. Talvez devesse contar sobre os sonhos para alguém, mas quem acreditaria?
Olhou para Alice que continuava dormindo.
Com um suspiro, Crystal se cobriu, virou-se para o outro lado da cama e tratou de tentar dormir.

~*~


Era uma sala de reuniões não luxuosa, mas também não simples. Era agradável e funcional, como o proprietário fazia questão que todas as coisas que tinha fossem.
O cômodo era de tamanho mediano, mobiliado com três grandes estantes de madeira sólida que iam até o teto, repleta com livros sobre Pokémon e relacionados. Um aparador com diversas gavetas estava na parede ao lado da porta e para cada estante de livros, havia á frente uma poltrona de leitura.
No centro da sala, haviam quatro sofás que rodeavam uma mesa baixa retangular, onde havia sido colocado um notebook, algumas pastas e papéis e até mesmo copos vazios.

A Lenda de CristalOnde histórias criam vida. Descubra agora