Capítulo 31

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Dizem que os pokémon possuem uma percepção especial referente a aura de humanos em determinados ambientes e situações. Como uma espécie de sexto sentido ou mesmo um instinto mais aguçado. Muitas pesquisas tem sido feitas para confirmar esta teoria e muitos especialistas de diversas áreas de estudos relacionados a pokémon debatem, especulam e comparam teorias e resultados sobre o tema, ainda que inconclusivos mas bastante promissores.
Mas, independente de resultados de pesquisas científicas, todos aqueles que convivem verdadeiramente com pokémon, desenvolvendo com eles uma relação de parceria e amizade, sabem que estas fantásticas criaturas são extremamente inteligentes.

E por conta disso, o Houndoom conseguia perceber que algo entre aqueles dois humanos não estava bom. Através de seus sentidos aguçados, ele sentia o cheiro, ouvia o retesar dos músculos e o som da respiração, via como eles se olhavam e se posicionavam. E sentia, através de seu instinto de pokémon, que aqueles dois humanos se detestavam e poderiam acabar se atacando.
Se isso acontecesse, o Houndoom não sabia se deveria agir ou apenas aguardar ordens de sua treinadora. Mas ela estava longe e provavelmente só perceberia quando já tivesse acontecido. Assim, cabia a ele ajudar um dos dois. Mas qual deles Alice preferia que ele defendesse?

— Parece que o seu programa teve um imprevisto e não vai mais acontecer. – Gary comentou provocativo, olhando para as garotas que conversavam mais á frente. – Sua vinda aqui foi desnecessária. Acho que é melhor voltar de onde veio.
— Me encontrar com Alice nunca é algo desnecessário. E pequenos imprevistos são sempre fáceis de se contornar e tudo pode ser reorganizado.
— Não pode ficar controlando tudo sempre.
Lawrence conhecia Gary Carvalho o suficiente para saber que o rapaz era um provocador típico.
Mas, quando queria, Lawrence podia ser um provocador debochado.

— Quanto tempo faz desde que nos vimos pela última vez? – o empresário começou. - Acho que foi em uma festa de fim de ano na residência de seu avô. Se bem me lembro, até então, pelo que todos diziam, você estava cursando a faculdade de Pesquisa Pokémon com ênfase em tipo Noturno. Mas você corrigiu seu avô no momento que ele comentava sobre isso para dizer que estava com intenções de...como era mesmo..oh sim, de se tornar tatuador. Uma mudança e tanto no quesito profissional!
— E o que isso te importa?
— A mim? Nada. É que eu acho um tanto quanto...interessante essa sua incrível capacidade de ser tão volúvel e impulsivo.
— Melhor ser assim do que ser um resignado prepotente preso á tradições e posturas sociais porque não tem capacidade de sair da zona de conforto!
— Mas sair da zona de conforto só para chamar atenção é um claro sinal de irresponsabilidade e não de personalidade.

A troca de farpas entre Lawrence e Gary parou quando perceberam que Alice se aproximava, acompanhada por uma Crystal cabisbaixa. Quando a treinadora percebeu que, não apenas Gary, mas Lawrence estava ali, tratou de enxugar o rosto com as mãos. Se bem que, havia chorado tanto antes que sem dúvida seu rosto estava péssimo.
— Bom, acho que tudo foi resolvido agora. – Gary falou, olhando para as duas. – Onde você foi, Crystal? A Alice ficou doida te procurando.
— Me...desculpem pela preocupação...
Lawrence notou os olhos inchados e o rosto abatido da treinadora, não podendo deixar de perguntar.
— O que aconteceu aqui?
— Duvido muito que isso seja do seu interesse.
Gary resmungou, mas Lawrence fez questão de não encará-lo.
— Eu não direcionei minha pergunta á você.
— Mas eu quis responder já que foi uma pergunta feita só para parecer que você realmente se importa.
— Você deve ter muita experiência nesse tipo de conduta para presumir que todos agem assim.
— Todos, não. Mas você sim.

Alice rapidamente se colocou entre os dois, tratando de desvincular o rumo daquela conversa.
— Então, é que a Crystal teve alguns contratempos e aí eu não estava conseguindo ligar pra ela e então me veio a ideia de tentar usar o Houndoom para encontrá-la! – ela riu, tentando descontrair. – Mas no fim, a Crystal apareceu e o Houndy me enganou porque quando ele saiu correndo, eu pensei que tinha achado o rastro da Crystal após farejar a blusa dela que eu peguei. Mas ele só tinha saído porque viu que o senhor e foi ao seu encontro! E sim, eu sei que tudo parece meio doido agora porque o Houndy não tem treinamento de busca...
Enquanto Alice tagarelava, o Houndoom se aproximou de Crystal, a farejando e rodeando com certa curiosidade. E Lawrence percebeu quando a garota estremeceu de leve e retesou os braços diante da aproximação do pokémon.
— Houndy, junto.
Á ordem de Lawrence, o pokémon imediatamente se afastou da treinadora e contornou o empresário, sentando-se de forma comportada e altiva do seu lado.
— Incrível como o Houndy te obedece! – Alice murmurou enquanto via o homem acariciar de leve os chifres da criatura.
— Ele é um pokémon apto a receber comandos de alguém que respeita. – Lawrence falou. - Ele sabe que posso ordená-lo para que cumpra comandos básicos de obediência, de batalhas, de exposições em torneios e até que ataque alguém.
Seus olhos se fixaram rapidamente em Gary ao final da explicação.
— Apenas quem não se garante no soco é que usa pokémon para atacar outra pessoa! Não é, Alice?

A Lenda de CristalWhere stories live. Discover now