Capítulo 35

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Capítulo 35 : beijo doce


As palavras  “último “ e  " fogueira" foram jogadas ao redor da mesa de jantar sobre hambúrgueres grelhados e pratos cheios de vegetais. Dan apertou seu ombro e o assegurou calmamente de que ninguém faria perguntas se ele se deitasse cedo naquela noite, mas Neil não tinha certeza se ele queria.

Depois do jantar, Neil subiu à sacada do quarto andar com Andrew para fumar um cigarro. Inclinando-se sobre o parapeito, Neil viu Matt, Kevin e Brian carregando braçadas de lenha pelo gramado em direção à praia. Andrew arrancou o cigarro da boca e inclinou a cabeça para trás para soprar a fumaça em direção ao céu azul-centáurea.

— Você está com aquela expressão esquisita no rosto — disse Andrew.  — Você está pensando em fazer algo estúpido.

Neil levantou seu próprio cigarro e inspecionou o brilho da cereja.

  — Talvez.

Andrew zombou e pegou a garrafa de uísque da mesinha entre eles para tomar um gole. 

— Pare de abrir velhas feridas para agradar os outros. É patético.

— Eu não faço isso por eles.

— Você começou a trocar de roupa com o time só para não deixar outro cara ser o mais marcado do vestiário*.

Um lado da boca de Neil puxou para cima. 

— Você sabe o nome dele.

— Nome de quem?

— Aposto que você tem um arquivo inteiro sobre Brian Hathaway.

Andrew tomou outro gole e não negou. 

— Então, você vai lá embaixo ou vai ser esperto pelo menos uma vez?

O sol estava se pondo, deixando o céu pintado com fileiras de tons suaves de laranja e rosa, e longas sombras azuis se estendiam. Neil olhou para o gramado onde Lizzy estava pulando, agitando os braços e gritando algo para quem estava no convés principal.

Brook estava ao lado dela, curvado e rindo. A voz de Kevin cortou o ar um momento depois e Neil percebeu que Lizzy o estava antagonizando novamente. Dan e Renée apareceram logo depois, carregando pratos, sacos plásticos e feixes de longos garfos de metal para assar. Renee olhou para a varanda, seu cabelo claro parecendo quase azul na luz fraca, e acenou para eles.

— Acho que posso fazer isso — Neil disse baixinho, acenando de volta.

Andrew resmungou algo em volta do cigarro, que Neil não ouviu direito, mas conseguiu adivinhar o que era. Ele pensou que Neil estava sendo tolo por se jogar de cabeça em seus gatilhos e esperar por um novo resultado.

Quantas vezes ele se queimaria nos pedaços escaldantes de seu passado antes de finalmente desistir de tentar atravessar para o outro lado? Mais uma vez, ele sempre dizia a si mesmo. Só mais uma vez. Ele não era mais uma mentira, mas ainda era um mentiroso. Talvez ele realmente fosse um viciado e simplesmente não sabia quando parar.

Neil não se preocupou em lembrar a Andrew que ele não precisava ir junto se não quisesse. Andrew não fazia as coisas a menos que quisesse. Ele não sorria para as pessoas, não respondia a perguntas curiosas, não guardava o gol a menos que pudesse estragar o dia de alguém. Se era uma forma de reclamar sua autonomia ou simplesmente estar muito exausto pelo esforço de viver, ninguém sabia.

Quando Neil desceu, Andrew o seguiu.

Allison lançou-lhes um olhar por cima do ombro enquanto caminhava para o convés. Seu cabelo estava preso no alto da cabeça e ela usava algo que a deixaria com frio em algumas horas se não houvesse uma fogueira para mantê-la aquecida.

Lessons in Cartography      AndreilWhere stories live. Discover now