1. Antônio

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Eu segurava o convite com as mãos trêmulas. Ela ia se casar. Porra, mil vezes. Eu lia e relia o papel, pedindo à Deus pra acordar daquele pesadelo.

"Amanda e Philipp convidam para a cerimônia de seu casamento, a realizar-se às dezenove horas do dia vinte e quatro de junho..."

Era quase como se o mundo estivesse acabando, e eu rezei pra que qualquer profecia a respeito disso se concretizasse. Que Nostradamus, os Maias ou o livro Apocalipse estivessem certos.

Segundos depois eu me sinto febril, começo a hiperventilar e o desespero rasga o meu peito em mil pedaços.

Não...não...não!

Quando as minhas mãos e pernas não conseguem mais, eu solto o convite como se me queimasse, e me deixo cair no chão, de joelhos.

Eu a amava, mas era um completo covarde, que sabia que não a merecia. Por um minuto sequer eu me achei digno. Mas doia, de uma forma que eu nunca achei que fosse doer.

Eu me deito, e me mantenho em posição fetal pelo que parecem horas. Eu não quero sair dali. Eu não quero ter que encarar o mundo. Não um mundo sem a possibilidade de tê-la pra mim.

Os calafrios começam a percorrer meu corpo de ponta a ponta, a cabeça pesa e o coração corre feito um cavalo desenfreado.

Me levanto atrás do celular, antes que tudo aconteça de novo. Disco o número e aguardo.

- Dindinho, eu preciso de ajuda, rápido - peço baixinho, com a voz estrangulada.

- Júnior, o que aconteceu?, está em casa? - perguntou já elevando a voz.

- No apartamento - consigo sussurrar.

- Deixa a porta aberta. Ouviu?, já estou chegando - ele ordena e desliga.

Com muito esforço faço o que ele manda. Volto para o sofá e tento me concentrar na respiração.

Um...dois...cinco...dez...trinta e oito...

O meu coração parece pressionar contra a minha caixa torácica do tanto que bate. O suor frio e a tontura me deixam desnorteado, o formigamento no meu corpo me traz de volta a sensação de ter perdido o controle, e eu só suplico à Deus que me leve logo, sem todo esse sofrimento.

Minutos depois, que mais parecem horas, o Dindinho chega. Eu estou sufocado, enquanto ele corre pelo apartamento atrás dos meus remédios e água.

Depois de me ajudar com a medicação, me abraça forte e fica ali comigo pelos próximos trinta minutos, até que meu corpo relaxe e eu caia em um sono profundo.

Acordo algumas horas depois, e o encontro sentado, me olhando.

- Ela vai se casar - eu solto.

- Eu sei, recebemos o convite. Duas semanas atrás - fala com calma.

- Por que não me contaram? - questiono tentando manter a calma.

- Pra evitar isso aqui. Estávamos esperando você voltar, mas eu não fazia ideia que ela mandaria o convite para cá - ele explica.

- Eu preciso falar com ela - falo enquanto me levanto, pronto para um banho.

- Não, você não vai. Você teve sua oportunidade, durante três anos você poderia ter falado qualquer coisa. E você não fez. Apenas a deixe seguir - ele pede com calma.

- Eu a amo - sussurro, enquanto volto e me sento na cama.

- Olha Júnior, você não é mais uma criança, devia parar de agir como tal - ele começa a se alterar um pouco.

DocShoe - Você pra sempreWhere stories live. Discover now