2. Amanda

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Eu me sentia triste. Não, decepcionada seria a palavra certa. Dez dias após ganhar o programa eu ainda seguia aqui, na esperança que ele apareceria a qualquer momento na minha porta.

As únicas coisas que eu recebi nesses dias, foram algumas mensagens e uma chamada de vídeo.

Após ganhar o reality, eu o procurei. Em cada novo lugar onde eu chegava os meus olhos buscavam-o. E ele nunca estava lá.

Numa dessas, a Pâmela percebendo o meu desconforto, se aproxima calmamente de mim.

- Ele não vem - fala baixinho, para que somente eu escute, enquanto continuamos olhando ao redor - ele voltou pra Miami quinze dias antes do programa acabar, e nunca tocou no assunto sobre voltar ou não.

- Tudo bem - falei, mas na verdade nada estava bem.

No oitavo dia pós final, eu estava jantando na casa do irmão dele, sendo super bem recebida pela família, quando a Roberta apareceu com o celular em mãos, conversando com ele em vídeo chamada.

Na mesma hora os meus olhos marejaram.

- Júnior, você não acredita quem está aqui com a gente? - ela pergunta e no mesmo segundo aponta a câmera pra mim.

- Amandinha? - ele pergunta parecendo confuso, como se a ideia deu estar ali, não fosse natural.

- Oi - é a única coisa que consigo responder enquanto tento segurar o choro.

- Já marcamos mil programas com ela, não íamos deixá-la sozinha no Rio de Janeiro - Roberta fala como se estivesse alfinetando ele.

- Posso falar com ela? - ele pergunta, e a minha vontade é de gritar um "NÃO" enorme.

A Roberta vem até mim, entrega o celular e chama a Maricota pra cozinha.

Eu seguro o celular com as mãos tremendo.

- Como estão as coisas? - ele pergunta com um pequeno sorriso nos lábios.

- Bem, na medida do possível. Muitos compromissos - falo, enquanto tiro uns pêlos imaginários do meu vestido.

- Me desculpa por não estar aí, eu queria, muito, mas os compromissos não puderam esperar - ele diz, mas não sei porque, não sinto nenhum pingo de verdade naquilo.

- Tudo bem, acontece - minto.

- Quando eu chegar no Brasil, eu espero te ver. Quero te levar pra vida Amandinha - ele fala e parece magoado com alguma coisa.

- Eu também, nada do que eu falei na casa era mentira - eu digo, e logo invento uma desculpa qualquer pra encerrar a ligação.

Os nossos contatos eram cada vez mais raros e difíceis. Por um tempo eu até me esforcei em procurá-lo, mas as mensagens demoravam dias ou horas para serem respondidas. As ligações?, nunca eram atendidas e a pouca disposição que eu tinha foi se esvaindo com o tempo.

Eu não sabia o que eu tinha feito de errado para aquilo estar acontecendo. Até que eu entrava nas redes sociais, e o que eu via ali parecia ser uma parte da resposta.

"Quando ela emagrecer uns 10kgs talvez ele olhe pra ela".

"Sapato só namora modelos, ele nunca ia olhar pra essa estranha".

"Fala sério gente, ele ter ido embora antes é mais do que resposta".

Eram sempre inúmeros comentários ruins, e esses nem eram os piores. Eu era xingada de coisas que eu nem sabia existir e minha autoconfiança que já era mínima, foi-se pelo ralo".

A primeira vez que eu o vi, foi em Miami, quatro meses após a final. E se eu não tivesse feito uma promessa de ir vê-lo lutar, eu certamente não estaria ali. Eu me sentia mal, constrangida até.

Na festa de ano novo, quando todo o Deserto se reuniu em uma praia de Pernambuco, ele apareceu com a primeira namorada, alguns meses depois com a segunda e, cerca de um ano atrás com a terceira.

Nos encontrávamos esporadicamente, e nesses encontros ele sempre me olhava muito, como quem tem muito a falar, mas preferia ser um covarde, e no final não falava nada.

Depois do primeiro ano, eu cai na real, e decidi sair daquele lugar que eu me coloquei a vida inteira, de aceitar migalhas de quem não sabia reconhecer o meu coração.

Eu continuava na mídia, fazia publis para grandes marcas, aparecia em alguns eventos, mas seguia exercendo a Medicina que eu tanto amava. Fazia um plantão semanal de quarenta e oito horas e alguns atendimentos, e o restante do tempo eu dedicava à cuidar de mim, do meu corpo e da minha saúde mental.

O primeiro ano foi especialmente difícil pra mim. Eu fui culpada e julgada por muitas coisas que não fiz. Recebia hate que nenhum ser humano seria capaz de aguentar e tinha medo até de caminhar na rua.

Sobrevivi à custo de muita terapia e cuidado das pessoas ao meu redor. E só um ano depois, pude ver as coisas mais claramente, inclusive os meus sentimentos.

Quando cheguei na casa do Fred, e o vi, resolvi deixar todos os sentimentos e emoções de lado. Mas era quase impossível ser indiferente à ele.

Me sentei com as meninas e ele começou a fazer aquilo que fazia sempre. Encostou em um canto, e enquanto bebericava da sua taça, colocava seus olhos de gavião sobre mim e não tirava, a noite toda.

Ele estava bebendo muito, e eu achei aquilo muito estranho. O Antônio era o cara certinho, que bebia pouco ou nada, ia embora cedo ou ficava pra ajudar quem passava dos limites.

Quando todos nos sentamos e a pauta passou a ser meu casamento, ele enrijeceu a coluna, fechou a cara e não deu um único piu sobre.

- Não bastasse fisgar um homem gato e gentil, pegou o maior bilionário da Alemanha - Tina brincou.

- Filantropo, gato, um gentleman, bilionário. Eu não ia reclamar se conseguisse um desse pra mim - Bruna brincou se abanando.

- Desculpa Amanda, mas naquele homem não tem como não babar - a Paula falou arrancando risadas de todos.

- E você pensa em ir morar na Alemanha? - o Alface perguntou despretensioso.

- Sim, está nos meus planos - e todos os olhos se voltaram para o Antônio que no mesmo momento quebrou a taça que estava segurando com as mãos.

Dois capítulos pra vocês. Engajem muito, curtindo, comentando pra ajudar a autora aqui. Beijos 💋









DocShoe - Você pra sempreWhere stories live. Discover now