5. Antônio

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Eu não durmo direito a uma semana. Nem os remédios conseguem me apagar.

Hoje é dia vinte e quatro de junho, dia do casamento dela, e eu decido sair pra fazer uma trilha. Eu não conseguiria estar lá. Não conseguiria estar presente no casamento da mulher que eu mais amei, sabendo que ela estaria construindo a vida com outra pessoa.

Resolvo fazer o percurso da Trilha da Gávea, e lá no topo, me sento e observo a cidade por horas, enquanto choro. Choro de arrependimento por ter ido embora. Choro de arrependimento por nunca ter dito nada. Choro de arrependimento por que hoje, estou perdendo o grande amor da minha vida.

Me lembro de todos os momentos junto dela, e do quanto eu era feliz. Do quanto ela cuidava de mim e me enchia de vida.

Fico ali até que escurece, e enquanto desço a trilha, olho no meu relógio e vejo que já são 20h. A esse momento ela já está casada.

Volto pra casa derrotado. Nenhuma sensação no mundo se compara ao que eu sinto. Tomo um banho, me encho de remédios e me deito para dormir.

Evito olhar o celular. Não quero ver as fotos, nem nada relacionado ao casamento dela. Mando uma mensagem para o Dindinho avisando que estou bem e em casa e desligo o celular. Até que caio em um sono profundo.

Acordo bem descansado. Olho o relógio e já são 15h. Ligo o celular e uma enxurrada de mensagens chega.
Na maioria todos querendo saber por que não compareci ao casamento, principalmente meus amigos do Deserto.

"Papato, a cerimônia começa em instantes, cadê você?".

"Vai chegar pelo menos pra festa?".

"Você e a Amandinha brigaram?".

"Responde pelo menos".

Entro no Instagram e vejo algumas fotos do casamento. Linda, como nunca antes.

Quero me afundar de novo na cama, mas não posso fazer isso. Resolvo agir, e pensando no meu futuro, compro uma passagem para Miami para o início da noite e começo a fazer minhas malas. Preciso voltar e encarar a vida.

Ligo para o Dindinho e informo sobre a minha decisão, ele resolve me acompanhar até o aeroporto.

- Tem certeza que você vai encarar isso sozinho? - pergunta preocupado.

- Sim, não tem mais nada aqui pra mim - respondo triste.

- Como você se sente?

- Como se a parte mais importante do meu coração tivesse sido arrancada de mim - falo, enquanto começo a chorar.

- Não posso passar a mão na sua cabeça, por que você é o culpado dessa situação. Mas você precisa seguir, ela se casou e está indo embora pra Alemanha em breve. É melhor que você esteja longe - explica.

- Obrigado por tudo Dindinho. Vou esperar vocês para assistirem minhas lutas - falo enquanto lhe dou um enorme abraço.

- Se cuida meu irmão. Estaremos aqui pro que você precisar.

Eu choro o voô inteiro. Não é um sentimento fácil de digerir. Eu penso que uma pequena atitude minha teria mudado toda a nossa história, e por covardia, eu a deixei ir.

Chego em Miami e resolvo mandar uma mensagem pra ela, me desculpando.

"Oi Amandinha. Primeiramente, eu gostaria de me desculpar por não estar presente no dia mais importante da sua vida. Mas espero que você me entenda e mesmo que não entenda, que sinta, que independente de tudo, eu sempre vou estar aqui torcendo muito por você. Hoje eu não vou te falar palavras tristes, apenas desejo que você se sinta especial, como você merece ser. Obrigada pelos dias sendo o meu Porto Seguro, pela conexão e pela parceria. Do fundo do meu coração, emano apenas os melhores sentimentos para você. E espero que você continue sendo a mulher que você batalhou para ser, por que você é incrível. Que você seja muito feliz. Com amor, Antônio".

Envio e vou olhar algumas notificações no Twitter. O nosso fandom está surtando na timeline comentando as matérias que saíram com fotos minhas chorando no aeroporto. Criando mil e uma teorias.

Não quero ler e com medo da resposta dela, desligo meu celular e vou resolver os problemas que se acumularam com a minha estadia no Brasil.

Já de noite, depois de jantar e deitado na minha cama, ligo o celular e vejo que chegou uma resposta dela.

"Oi Antônio. Obrigada por tudo. Estarei sempre aqui desejando o mesmo por você. Sempre estarei a uma ligação de distância, e falo isso de coração. O amor que eu sinto por você, como você mesmo diz, é raro, assim como a nossa conexão. Espero que você seja feliz, e que encontre tudo aquilo que o seu coração busca. E não se preocupe, não fiquei chateada por você não ter aparecido. No seu lugar, eu faria o mesmo. Beijos e fica com Deus. Te amo 💓".

Leio e releio a mensagem, querendo gravar aquilo no meu coração. E é com essa última lembrança, que volto para a minha rotina.

No final de setembro, por nocaute técnico, levo o cinturão da minha categoria para casa, e faturo pouco mais de dois milhões de dólares com o título.

Retorno para o Brasil em uma visita rápida apenas por nove dias, comemoro o Natal e o ano novo com minha família e logo volto para Miami. É melhor assim.

Eu me dedico exclusivamente aos treinos durante um ano inteiro. Não saio de casa. Não namoro. E todos os meus amigos e minha família ficam preocupados comigo, na medida do possível, tento tranquiliza-los.

Mantenho pouco contato com ela. Embora ainda a ame com todo o meu coração, cada um seguiu o seu rumo e é inevitável que seja assim.

Em outubro do ano seguinte, disputo a final do cinturão, e com toda minha família e poucos amigos presentes, levo o título e três milhões de dólares para casa.

Dia doze de outubro, estou retornando da consulta com a psicóloga quando escuto uma notícia na rádio.

"Morreu hoje o empresário alemão Philipp Erhl em um acidente de helicóptero na cidade de Hamburgo. A suspeita é que uma falha elétrica tenha causado o acidente que vitimou o magnata do ramo das telecomunicações. Ele tinha trinta e oito anos e era filantropo em várias áreas. Reconhecido por desenvolver inúmeros projetos em nações subdesenvolvidas. Tentamos contato com a esposa, a médica Amanda Meirelles, mas não conseguimos resposta até a hora dessa reportagem".

Me sinto mal, estaciono o carro no acostamento e ligo para o Dindinho.

- Você já soube? - pergunta assim que eu atendo.

- Acabei de ver na rádio. O que eu faço? - pergunto por que realmente não sei o que fazer.

- Falamos com a mãe dela um pouco, ela está bem, mas muito abalada. O enterro será na cidade dele na Alemanha, estarão presentes apenas a família da Amanda e a dele. É o último desejo. Mas acho importante você ligar ou enviar uma mensagem de apoio depois - me explica.

Eu desligo o celular atônito e então resolvo antecipar as minhas férias e volto para o Brasil.

Curtam e engajem muito o capítulo. É muito importante pra autora aqui. Beijos 💋

DocShoe - Você pra sempreWhere stories live. Discover now