4. Amanda

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É um filho da puta. Isso que ele era. Três anos me ignorando pra só agora soltar essa. Me ama, será possível?, não, ele só está confuso agora que vou me casar.

Rolo na cama e só consigo me entregar ao sono horas depois.

Estou dormindo quando a campainha começa a tocar incessantemente. Me levanto a contragosto e me dirijo até a sala. Abro a porta sem verificar pelo olho mágico, e logo me deparo com ele.

Com o rosto banhado em lágrimas e parecendo ter corrido uma maratona, Antônio está na minha porta.

- Posso entrar? - ele pergunta depois de um tempo parado ali.

Faço um sinal indicando a sala e ele entra.

Vou para o outro lado do cômodo, preciso de distância para pensar com clareza. Cruzo os braços, buscando alguma proteção sobre o que quer que ele vá me falar. E aguardo.

Ele leva longos minutos puxando o ar, até conseguir normalizar a respiração e se acalmar.

- Só escuta o que eu vou falar ok?, por favor, depois você pode me enxotar daqui se quiser - ele pede.

Eu confirmo com a cabeça.

- Eu te amo. E eu não demorei pra descobrir isso. Eu tenho certeza que você está pensando que eu estou apenas desesperado por que você vai casar. Mas eu te amo desde a convivência dentro da casa. Quando eu disse que te amava, eu não estava brincando. Mas aí, num lapso de raiva e burrice eu fiz aquilo, eu beijei ela, e fiquei com tanta vergonha e ódio de mim. Quando eu cheguei aqui fora eu tive tanto medo de você me odiar, de você não querer ter contado.

Ele fala chorando e com a respiração pesada.

- Eu tentei muito, eu fiquei aqui, mas a Internet é como um tribunal, e eu apenas não suportava mais. A minha mente brincava comigo o tempo inteiro, eu não sabia mais o que fazer.  Eu conseguia lidar com os julgamentos, mas aí passaram a envolver você, te culpando pelo que eu fiz - ele fala apontando o dedo para o próprio peito - eles falavam coisas horríveis de você, e eu apenas não podia deixar que continuassem.

- Eu tive tanto medo de você me odiar, eu chorei todas as noites, eu pedia uma luz e uma direção, que apenas não vinham. E só Deus sabe como eu teria ficado se eu soubesse que você passaria pelas coisas que me falou ontem. Mas eu sou falho, e fraco, e eu apenas não queria te prejudicar.

Ele se senta no sofá, com as mãos tremendo muito enquanto a leva até a cabeça e puxa os cabelos. Eu vou até o quarto e pego um calmante, não quero que ele tenha uma crise na minha sala.

Volto e lhe entrego o remédio com um copo de água, que ele toma prontamente. Então segue falando.

- Eu apenas não queria te envolver nos meus erros. Eu sabia que qualquer contato a internet iria pra cima de você, eu vivi um inferno dentro da minha própria cabeça. Ao mesmo tempo que eu queria te ver e te dizer tudo que eu sentia, não era justo com você, que sempre foi tão boa, tão gentil e amorosa, ser culpada pelo que eu fiz.

- Eu te amo tanto. E eu apenas tentei seguir e deixar você encontrar seu próprio caminho. Com alguém que a merecesse de uma forma que eu não fui capaz de fazer. Eu falhei em tudo, eu não conseguia fazer nada sem pensar em você. Meus relacionamentos fracassaram por que nenhuma delas era você.

Busca o ar, que parece faltar em seus pulmões, me olha derrotado.

- Talvez nem em mil vidas você acredite em mim ou me perdoe, mas eu só precisava te dizer, mesmo que seja egoísmo da minha parte soltar isso em você a essa altura do campeonato. Eu te escrevi cartas todo esse tempo, mas não fui corajoso o suficiente pra mandar. E quanto mais o tempo ia passando, eu apenas tinha a confirmação que não tinha mais como voltar no tempo.

Quando ele acaba de falar, eu não me permito chorar, não agora. Eu passei um inferno por conta dele, ele tinha que saber.

- De que vale isso agora Antônio?, eu esperei por essa conversa sabe quantas vezes?. Eu passei um inferno na Internet. Precisei ser medicada, fui parar em hospital com crises e só Deus sabe como eu sobrevivi. Você tem noção das coisas que eu lia?, ser culpada pelo que você fez era o de menos Antônio. Eu fui ameaçada de morte - na mesma hora que eu falo ele arregala os olhos como se fosse uma enorme surpresa.

- Eu tinha medo de sair na rua, e eu não fiz isso por um bom tempo. Eles zombavam do meu jeito e dos meus tiques e sabe o que eu fiz?, eu me achei indigna de amor mais uma vez. Eu entrava lá e eles estavam comparando o meu corpo com as suas namoradas e as modelos que você já ficou, e eu apenas me sentia péssima. Por que?, por que eu te amava, e isso destruiu meu coração e minha auto estima.

- Os comentários eram sempre me depreciando, falando do meu cabelo, do meu peso, do meu jeito de dançar. Nada era suficiente Antônio, nada. E eles sempre falavam que você foi embora fugindo de mim, por que eu era feia, desengonçada, por que eu não tinha o corpo das suas namoradas. E isso infiltrou na minha mente com as atitudes que você tinha comigo - nesse momento eu começo a chorar, profundamente, era apenas demais tocar nesse assunto.

- E mesmo assim, eu aceitei qualquer migalha de atenção que você me deu por muito tempo. Até que não deu mais, até que eu entendi que uma hora, eu seria suficiente pra alguém, e quando eu encontrasse esse alguém tudo faria sentido.

- Eu nunca li esses comentários que faziam sobre você nas redes, acho que a minha equipe limpava tudo e selecionava o que eu podia ou não ver - ele tenta se explicar.

- Apenas não importa mais Antônio, não acho que nós dois vamos conseguir voltar a ter uma relação como antes. Independente do que fizeram ou não comigo na Internet, o que me importava realmente foi o que você fez comigo, o que você fez com a nossa relação - explico pra ele enquanto tento me acalmar.

- Você me amou algum dia? - pergunta em meio ao choro.

- Com todo o meu coração, por muito tempo. Até que eu entendi o lugar que eu ocupava na sua vida, e que não importava o quanto eu fizesse, nunca ia ser o suficiente pra você. Aí eu aceitei o meu lugar e voltei pra perto das pessoas que me amam.

- Você é linda, maravilhosamente linda, do jeito que você é. Me desculpe pelo que você passou por minha causa. Eu nunca fiz nada conscientemente pra te ferir ou te magoar. Eu faria qualquer coisa pra voltar no tempo e fazer tudo diferente .

- Mas você não pode. O que está feito está feito. E não tem como voltar atrás. Agora eu acho melhor você ir embora - peço, já me dirigindo até a porta e abrindo para ele.

Ele anda até mim derrotado. Me dá um abraço demorado, um beijo na testa e se vai. E eu sei que aquilo provavelmente era o fim da nossa relação.

O que estão achando dessa fic?, comentem muito e engajem ora que eu traga o próximo capítulo pra vocês.

Beijos 💋

DocShoe - Você pra sempreDove le storie prendono vita. Scoprilo ora