3. A declaração

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Eu só percebi a taça quebrada, quando a Amanda já estava agachada ao meu lado segurando a minha mão enquanto examinava.

- Você pode fazer o curativo lá no banheiro Amandinha, a caixa de primeiros socorros está no armário embaixo da pia - avisou Fred, enquanto enrolava uma toalha na minha mão, e a galera dispersava como se quisesse nos dar privacidade.

Eu estava muito bêbado, mas ainda conseguia andar, mesmo cambaleando.

Ela me ajudou a chegar no banheiro e me sentou na tampa do vaso, enquanto pegava a caixa e verificava se tudo o que precisava estava disponível.

Ela limpou e analisou o corte antes de falar.

- Não vai precisar de pontos, apenas alguns curativos - anunciou.

- Você vai morar na Alemanha? - perguntei chateado, sabendo que não tinha esse direito.

- Está nos meus planos - ela falou, sem olhar nos meus olhos.

- Você não pode fazer isso - eu soltei sem realmente saber o por que estava fazendo aquilo.

- Até onde eu sei, eu sou uma mulher adulta e posso fazer o que eu quiser - ela respondeu petulante.

- Você vai abandonar sua vida por um cara que conhece há um ano, ir morar em outro país, longe da sua família e amigos? - eu quase rosnei.

- É isso que a gente faz quando está em um relacionamento Antônio. Nós abrimos mão dos nossos sonhos pra viver os sonhos do outro. É uma via de mão dupla. Agora ele, depois eu - explicou como se estivesse falando com uma criança.

- Nós vamos nos afastar, você não liga não é mesmo? - falei muito magoado.

- Eu não vou ter essa discussão com você Antônio. Você é adulto o suficiente pra entender que a nossa amizade, só chegou nessa situação por sua causa. Eu nunca te fiz nada, absolutamente nada. E foi você, desde o início que impôs uma distância. Foi você que se mandou e nunca mais voltou. Foi você que me ignorou todas as vezes. Então, não queira colocar em mim uma culpa que é só sua. Por que se teve uma coisa que eu cumpri, e sozinha, foram todas as promessas que fizemos - cuspiu todas as palavras na minha cara, antes de se virar e sair do banheiro.

Quando eu tive coragem de retornar pra festa, não a encontrei por ali.

- Onde ela está? - perguntei ao Fred.

- Acabou de ir embora irmão.

Saí correndo do apartamento, me escorando em todas as paredes, e a encontrei na garagem, pronta pra entrar no carro.

- Espera, por favor - pedi, enquanto buscava o ar nos meus pulmões.

- Você precisa de uma carona pra casa?, está bem para dirigir? - ela perguntou preocupada. E bom, uma carona seria ótimo, teríamos mais tempo para conversar.

- Sim, por favor. Minha cabeça está girando - e realmente estava.

Entramos no carro e ela iniciou o caminho em silêncio.

- Ainda mora no mesmo lugar? - perguntou indiferente.

- Uhumm.

- Você está bem para subir sozinho? - ela me perguntou quando estávamos chegando ao meu prédio.

- Você pode só me ajudar a subir e tomar meus remédios? - pedi, eu realmente estava trocando as pernas, e ficava com medo de tomar a dosagem errada depois de ingerir álcool.

Em silêncio, ela contornou o prédio pra entrar na garagem.

- Qual o código? - quis saber.

- O seu aniversário - falei um pouco envergonhado.

DocShoe - Você pra sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora