capítulo 3

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capítulo 3.

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andré.

por mais irresponsável que parecesse, tinha ciência das minhas obrigações e sabia que precisava trabalhar, ir até a agência naquela manhã.

minha vida podia ser um inferno a 25 anos, mas infelizmente eu estava vivo e tinha que seguir em frente.

o trânsito de são paulo era terrível, e a minha paciência que já não era muito grande ficava ainda menor a cada saída de casa.

tudo aconteceu muito rápido. senti algo pressionando meu carro juntamente com o barulho de alguma coisa se quebrando atrás de mim.

ouvi um gemido fraco atrás de mim, descendo do carro.

"foi culpa sua, foi você que atropelou ela!". a mulher protestou.

"se você não tivesse gritado comigo eu teria visto a mulher e não teria passado por cima dela!". uma multidão se aglomerou a volta de nós, praticamente querendo linchar o casal pelo que fez e eu estava incluso nesse grupo.

me agachei ao seu lado, enquanto a ambulância era chamada por uma das pessoas que passava pelo local.

o par de safiras azuladas me encarou.

um desespero sobre o mano me atingiu diante da possibilidade de presenciar mais uma morte.

tirei a bolsa de seus braços, colocando dentro do meu carro, esperaria ela até ir ao hospital e depois me lembraria de devolver.

"você está conseguindo me ouvir?".

meu desespero aumentou ao perceber sua dificuldade para respirar. ela tentou me responder mas não conseguiu pela falta de ar.

comecei a pensar em uma série de cenários.

aquela mulher era mãe?.

tinha um marido ou até mesmo uma família esperando por ela?.

"cadê a droga da ambulância?". ela está morrendo, precisa de ajuda!". as pessoas continuavam a cercar o casal para não saírem dali, durante minha súplica.

"se afastem, ela precisa respirar, vamos manter esses dois vermes afastados dela, o rapaz ali já está de olho nela e é melhor nós nos distanciarmos um pouco para ela poder respirar".

"aguente firme está bem?". "o socorro logo vai chegar e você vai ser tratada e vai poder voltar para sua família". eu não acreditava que ela teria chances de sobreviver, mas precisava de alguém para ser sua fonte de apoio naquele momento e se tinha apenas eu, eu faria isso.

disse a ela as palavras que gostaria de ter dito a carolina, e também que gostaria de ter ouvido na época que perdi minha família.

no fundo, despejava em outra pessoa o que eu desejava para mim e nunca tive.

senti um aperto em meu peito apenas em lembrar de carolina.

ela tentou falar mais uma coisa, desistindo, fazendo as lágrimas virem à tona naqueles olhos tão confusos e assustados.

uma das mãos frágeis deslizou pelo asfalto até encontrar a minha, tão grande perto da sua.

ela não queria morrer sozinha, estava morrendo de medo, muito assustada e usou as poucas forças que tinha para manter minha mão presa a dela como se eu quisesse soltar.

"por favor moça, só fica de olhos abertos, não fecha os olhos, não morre agora por favor!".

ela apertou minha mão com um pouco mais de força, era como se eu sentisse cada sentimento que se passava dentro dela, nós dividiamos o medo e aquilo estava óbvio para quem quisesse ver.

família greco.Where stories live. Discover now