família greco.

capítulo 9

capítulo 9.

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andré.

estou ciente de que não vou conseguir dormir essa noite, não apenas pelas revelações que recebi ou até mesmo a ausência da bebida que de certa forma me tranquilizava.

minha inquietação tem nome, emily.

aquela criatura pode não ter tamanho, mas tem uma sabedoria maior do que ela mesma.

a forma que lidou com a pergunta da amiga apenas por minha expressão deixou-me inquieto, e o presente, a bíblia.

perdi o costume de conviver com pessoas simples como ela, os seres que vivem comigo me ensinaram a desacreditar da bondade no mundo.

giovani é cristão assim como ela, no entanto, acredito que não julgou necessário me apresentar a bíblia como aquela mulher fez.

não tenho dúvidas de que sempre orou por mim, mas faltou a ação.

não devo julgá-lo, até porque minha expressão me faz aparentar ser alguém diferente da pessoa que sou realmente.

com medo de destruir o embrulho preparado com tanto carinho, comecei a desatar o nó com todo o cuidado, encontrando a bíblia.

abri a mesma, deparando-me com um papel logo na capa.

que através desse pequeno presente, deus possa mostrar os planos que ele tem em sua vida. e não se esqueça, que independente de tudo que você passou é muito amado por ele.

levantei me da cama, sentando-me na escrivaninha.

sem saber por onde começar, resolvi fazer isso do início.

saber como a criação do mundo realmente ocorreu foi incrível, até porque mesmo sem entender direito como tudo isso funciona, não tenho dúvidas de que cada letra contida nesse livro é verdadeira.

se não fosse assim, não existiriam tantas pessoas tentando combatê-lo, afinal de contas para muitos é bem melhor viver uma mentira do que conhecer a verdade.

sempre acreditei na existência de um ser superior, mas minha família nunca foi dada a religião.

ainda assim, não consigo entender o que alguém tão poderoso quanto ele, que detém o poder até mesmo do céu para fazer o mundo inteiro apenas com palavras pode querer com um estilhaço humano como eu.

são tantas feridas e frustrações que me transformaram em uma pessoa completamente diferente daquela que eu sonhei em ser na juventude, que simplesmente não vejo valor nenhum em mim.

embora eu não acredite em mim mesmo, se ele acreditar estou mais do que satisfeito.

não tenho exigências.

não quero uma vida perfeita, não quero viver um conto de fadas onde não terei mais problemas , deus não tem culpa da maldade humana e infelizmente estamos sujeitos a ela.

não quero riquezas, apesar de ter bastante.

só quero uma coisa, paz.

quero recuperar a alegria de viver minha própria vida, voltar a pintar, parar de sentir falta da bebida que nunca acabou com meu sofrimento, só o aumentou.

por mais que não suporte isso preciso concordar com meu pai em uma coisa, eu não sou mais uma criança, não sou um adolescente, estou entrando em uma fase de minha vida que me coloca em desvantagem para viver muitas coisas que eu deixei passar durante todos esses anos.

eu quero superar a morte da carolina, por mais trágica que tenha sido, eu continuo vivo e preciso aceitar que infelizmente não há terei de volta.
no caso dos meus filhos não adianta, nunca vou superar. perder filhos é o único caminho sem volta, jamais irei esquecê-los.