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Kiara Soulier 

Conto o dinheiro que Samara me entrega dentro de um envelope branco e amassado com atenção.

Na parte da frente, meu nome está escrito desleixadamente e tem uma mancha razoável de café.

Só pela breve observação, sei quem foi o responsável  pelo pagamento da semana. Era Edgar, o vice-gerente da Poppys e sobrinho mais novo do dono da lanchonete. E com isso, significava que eu provavelmente iria me estressar.

— Estão faltando dezoito dólares — retruco, enfiando tudo dentro do papel outra vez. — São duzentos e sessenta e oito pelo trabalho extra que fiz durante a semana. E as vezes que cobri Amanda quando ela pegou um "resfriado". Aqui só tem duzentos e cinquenta.

— Não é comigo que você tem que reclamar sobre isso. Edgar só pediu para que eu te entregasse. E foi isso que fiz. Se quer reclamar sobre algo, precisa ir na sala dele — Samara informa, dando de ombros, terminando de vestir sua farda.

Passo a mão pelas minhas madeixas castanhas e respiro fundo.

— E por acaso ele está lá? — indago, um pouco irritada.

— Deu uma saída. Disse que voltaria mais tarde.

— Tão previsível...

Era sempre assim. Edgar nunca me pagava o valor correto.

— Acredito que ele vá demorar, aliás.

— Aconteceu alguma coisa séria?

— Não tenho certeza, mas ele saiu às pressas. Parecia irritado.

— Isso nem é novidade. Quando aquele cara não parece irritado?

Conseguia contar nos dedos a quantidade de vezes que tinha visto Edgar sorrir. Até mesmo com os clientes, quando ele precisava resolver algum problema, um sorriso nunca era emitido.

— Se eu fosse você, Kiki, deixaria pra resolver isso amanhã, no seu turno.

— Não posso. Se eu deixar para falar com ele depois, Edgar vai me enrolar, como ele sempre faz, e então não vou ver a cor desse dinheiro nunca mais.

Sam prende o cabelo em uma rabo de cavalo emaranhado e fecha o armário com força, assustando uma das funcionárias que também se trocava com ela. Seu nome era Tati ou Tami, não me recordava muito bem, pois nossos turnos nunca dificilmente se encontravam.

Encarando-me de maneira suspeita, ela solta:

— Não me diga que vai ficar aqui e esperar.

— Não acho que tenho uma escolha melhor.

— Tem sim, ir para casa. Hoje é seu dia de folga.

— Sem o restante do dinheiro, fora de cogitação.

— Dezoito dólares, Kiki. São só dezoito dólares.

— Sabe o que eu faço com dezoito dólares?

— Muita coisa que não é, tenho certeza.

— Intero a porra do meu aluguel — conto.

Suspirando, minha colega de trabalho começa a caminhar em direção a cozinha da lanchonete com passos largos e vou atrás, apertando as mãos na alça da minha bolsa.

Estava contando com cada centavo desse dinheiro. Não era atoa que tinha feito extras e cobrido algumas garotas, pois o aluguel tinha aumentado mais de cem dólares esse mês e até eu encontrar um novo lugar para ficar que fosse habitável e barato, ou até finalmente uma vaga ser aberta nos dormitórios da universidade, era obrigada a pagar, se não, poderia me declarar uma nova sem teto.

Deathless - Jackson WangDär berättelser lever. Upptäck nu