Deathless - Jackson Wang

15

Kiara Soulier

Tento controlar os batimentos do meu coração enquanto o observo cada vez mais próximo de mim. E a vontade gritante que tenho de correr agora mesmo para longe, escondendo-me no primeiro local inusitado que encontrasse no caminho, por pura covardia.

Mas eu não era mais a mesma criança de antes. A adolescente que não sabia resolver conflitos e dependia de Josh em certas situações se quisesse sobreviver. Eu estava crescida, uma adulta em ascensão.

E por mais nervosa que estivesse, ficar ali, encará-lo outra vez e deixá-lo ver como eu havia mudado, era uma forma madura de mostrar que eu estava bem. Ele merecia isso.

Parado em minha frente, ele me encara por tempo demais e faço o mesmo, notando seu rosto cansado, junto as olheiras embaixo dos olhos e os resquícios do suor transbordando naquela roupa clara.

De repente, seus braços me puxam para si e Josh me envolve em um abraço mais do que caloroso. Um abraço que secretamente, apesar de negar, sempre gostei de ganhar.

Seu toque é apertado, acolhedor, e sou capaz de sentir um cheiro familiar me invadir enquanto estamos assim tão próximos. Uma mistura refrescante de folhas verdes e laranja, que que só ele possuía e que sempre fui um tanto obcecada.

Fecho meus olhos por alguns segundos, aproveitando-me daquilo.

Memórias da minha adolescência invadem a minha mente, automáticas, mas logo vão embora quando Josh se afasta, dando um curto passo para trás, após desfazermos nosso contato.

Está me encarando surpreso, como se estivesse, rapidamente, se dando conta de algo.

— Merda — fala, num sobressalto sincero. — Abracei você todo suado. Desculpe, Kiki, foi mais forte que eu.

— Não se preocupe, não sou feita de açúcar — solto em um tom brincalhão. — Certamente não vou morrer somente porque me abraçou encharcado de suor. E posso tomar um banho mais tarde.

Os lábios dele crescem para um meio sorriso provocador.

— Senti sua falta, garotinha rebelde. Falo sério.

— Você? Com saudades de mim? — semicerro os próprios olhos, cruzando os braços, provocando-o: — Testei sua paciência desde sempre. Deixa de ser falso, Josh. Você não me suportava.

Josh ri suavemente, seus olhos ainda fixos nos meus, como se quisesse capturar cada detalhe de minha expressão.

— Já faz um tempo desde a última vez que nos vimos— diz, um pouco mais sério. — Não posso acreditar que esteja aqui. Que seja realmente você.

Aceno com a cabeça, pois nem mesmo eu sou capaz de crer naquilo.

E tenho tantas e tantas dúvidas. Quer dizer, ele deveria estar há quase doze horas de distância daqui nesse exato momento. Deveria estar aproveitando sua vida em Harvard. Então o que diabos estava fazendo aqui como um jogador do norte?

— É, tem razão, já faz um tempo — admito, curiosa. — E eu não esperava encontrá-lo aqui também. Você parece estar... cansado.

— Não fui capaz de descansar muito bem quando chegamos na cidade ontem à noite — dá de ombros, como se não fosse nada muito sério. — E tivemos um jogo bastante intenso, como você mesma presenciou.

— Sobre isso... sinto muito pela perda do seu time.

Josh assente, agradecendo pelo gesto de compreensão.

— Faz parte da competição, não se preocupe. Vitórias e derrotas andam sempre juntas, ambas na mesma intensidade.

— Mas vocês jogaram bem — comento, ainda me sentindo emburrada com a situação.