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Kiara Soulier

6 anos atrás
Erie, PA.

O barulho selvagem de grilos ecoa pela floresta assim que terminamos de armar nossa barraca. Cansada e com fome, suspiro, apoiando meu corpo de qualquer jeito no tronco de madeira jogado mais cedo no chão pelo irmão da minha melhor amiga e seus colegas.

Já é tarde. Dez ou onze horas da noite, talvez um pouco mais, porém, eu era incapaz de saber, pois além de não estar comigo, meu celular se encontrava desligado.

— Papai me disse que eles só irão voltar na próxima semana — Eloy fala, batendo as próprias mãos uma nas outras para retirar a poeira da barraca. Ela se senta ao meu lado também. — E isso quer dizer que você pode dormir lá em casa o tempo que quiser.

Solto um breve sorriso enquanto encaro aqueles olhos amendoados e amigáveis.

A relação com meus pais definitivamente não era uma das melhores.

Muito pelo contrário, quando estávamos juntos, brigávamos o tempo todo e além de não conseguirmos agir como uma família normal, apenas nos aturávamos.

O que também significava que, por conta disso, eu preferia passar muito mais tempo fora de casa e ao redor da cidade, ao invés de junto a eles.

Eloy sabia muito bem disso. Havia presenciado algumas confusões no passado e, talvez com receio, ela me tratasse dessa forma tão protetora, como se a qualquer momento, fosse capaz de me perder por causa deles.

— Não precisa me aturar por uma semana inteira, Loy — minha voz sai calma e compreensível quando falo. — Eu posso voltar para casa amanhã mesmo, quando deixarmos a floresta, relaxa.

Uma ruga se forma na testa dela, o que torna quase previsível suas próximas palavras.

— Eu sei disso, tá bom? Sei que não preciso fazer nada, mas eu quero fazer. Poxa, aqueles dois são os maiores sanguessugas. Sempre se comportando como uns babacas com você, Kiki. Tentando tomar cada centavo do seu dinheiro suado, o seu futuro... — ela reclama, irritada. — Isso me deixa maluca. Porra, me faz querer matá-los. Mas são os seus pais, e...

— Você se controla. Eu sei. E muito obrigada por isso — agradeço com sinceridade. — Mas não estamos aqui para falar sobre eles e o quanto seus comportamentos horríveis afetam a vida da sua única e infeliz filha. Viemos aproveitar, não foi?

Eloy é a única amiga que tenho verdadeiramente aqui na cidade. O resto das pessoas são apenas conhecidos que me esbarro uma vez ou outra e troco algumas palavras justamente por causa dela e o seu comportamento sempre tão sociável, mesmo sem nenhum esforço.

E quando deu a sugestão de virmos ao Asbury Woods, uma reserva florestal bastante antiga em Erie, eu inicialmente neguei. Não gostava de florestas além das fotos do Pinterest e mesmo que insetos não me incomodassem, a ideia de passar uma madrugada inteira no meio do nada era um pouco assustadora.

Mas é claro que minha amiga sempre sabia exatamente o que fazia. Ao ponto de escolher acampar na segunda semana oficial do início do verão, onde os turistas vinham visitar a cidade e os festivais surgiam, junto às trilhas e aos acampamentos. E obrigar tanto o irmão quanto os seus amigos a participarem.

Ou seja, nós não estávamos sozinha nessa floresta gigante. Haviam mais adolescentes, alguns casais adultos, todos espalhados pela região e sendo barulhentos, como de costume.

— Você tem razão — ela concorda e, talvez para quebrar o clima pesado, seus olhos pousam em local um pouco mais distante de nós e Eloyse sorri, ao continuar, a voz um pouco mais divertida: — Por falar em aproveitar, você não vai falar com ele?

Deathless - Jackson WangOnde as histórias ganham vida. Descobre agora