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Kiara Soulier

O chute que recebo de supetão em uma das minhas pernas me faz abrir os olhos. E grito, assustava com a visão de Samara próxima a mim, o rosto franzido, em desconfiança pura.

— Puta que pariu! — as palavras saem automática e coloco a mão no coração, que estava acelerado. — Você me assustou, porra.

— Você que me assustou, caramba. Que merda está fazendo aqui dentro da lanchonete? E dormindo no vestiário? E por que todas as suas coisas estão aqui também? Kiki, o que você aprontou?

Retomo a consciência, ainda com sono, e recordo da noite de ontem. Da minha atitude impulsiva e toda a raiva que senti da situação.

Pensei em ligar para Charlie assim que saí pela porta, é provável que ele me ajudasse, pelo menos por alguns dias, ou até mesmo para Sam, mas detestava incomodar. Era uma sensação que corroía por dentro, e analisando minhas opções, com apenas cinquenta e poucos dólares no bolso e um estômago vazio, vim para o Poppys.

Acabei dormindo antes mesmo de me dar conta, e cá estava eu, sendo pega no flagra por uma das funcionárias. Graças a Deus que era Samara.

— Não foi o que eu aprontei, mas sim o que aprontaram comigo.

— Algum cara te deu um bolo?

— Pior — resmunguei. — Perdi meu bolo de dinheiro.

— Que história é essa?

— Roubaram ele. Da porra do meu quarto.

— Me diga que pegou de volta, por favor.

— Eu estaria aqui se esse fosse o caso?

Samara respira profundamente, sentando-se ao meu lado.

— Era um valor muito alto?

— Novecentos e quarenta dólares — falo.

E sinto uma ânsia crescer no meu estômago quando tomo consciência que na minha realidade, sem família, sem ajuda, aquele dinheiro era uma quantia absurdamente alta.

— Quem você acha que foi?

Sua pergunta soa calma, confiável. Sam parece acreditar em mim, sem por margens para dúvida e isso faz meu coração ficar um pouco mais leve. 

Gosto de como ela é tão parecida com o irmão nesse quesito. A bondade, e como são capazes de ver a maioria das pessoas com bons olhos, mesmo que sempre houvesse exceções.

— Não posso acusar. Não tenho provas.

— Mas tem alguém em mente, pelo visto.

— É apenas um pensamento, nada demais.

— Quem é a vadia, Kiki? Desembucha logo.

Apoio minha cabeça no armário atrás de mim, sem muito ânimo.

Minhas costas doem. Ter dormido sentada naquela posição não era algo agradável, mas se manter na rua não era uma possibilidade.

Além disso, é provável que fosse apenas um pensamento, mas tinha a sensação, breve, mas presente, que Vivianne tinha algo haver com aquilo.

— O nome dela é Vivianne.

— Vadia anotada.

— Mas, como eu disse, é apenas um pensamento.

— Se você tem essa sensação, duvido que esteja errada.

— Na verdade, pode acontecer. E tenho medo desse ser o caso.

Deathless - Jackson WangWhere stories live. Discover now