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Kiara Soulier

Só noto que estou sem a minha bolsa e a maioria dos meus materiais quando adentro a sala de aula, estranhamente vazia, dada o horário de toque.

Inquieta, peço um carregador emprestado a uma colega e me sento no fundão, colocando o meu celular para carregar em uma das tomadas disponíveis e permaneço analisando as nuvens presentes do lado de fora da janela, esperando o tempo passar.

Para o meu azar, as quatro primeiras aulas passam em uma torturante câmera lenta, e não consigo focar em nada pois, todas as vezes que a voz de Oscar, um dos meus professores de economia começa a ecoar, todos os meus pensamentos mudam, intercalando-se entre Josh Michels, Jackson Wang e acontecido dentro do Poppys.

Sei que não devo pensar demais, embora. Confiava em Josh e os problemas com Jackson não era algo que eu não soubesse lidar, pois eu sabia. O segredo era me afastar, evitar, deixá-lo o mais inalcançável possível de mim, ignorar todos os comentários, murmúrios.

Mas e quanto ao Poppys?

Trabalhava naquela lanchonete há meses e nada parecido havia acontecido antes. Nenhum assalto, nenhum vandalismo, até as brigas dentro do estabelecimento eram quase escassas.

Então algo tão inesperado assim acontecia? No mínimo, era de se estranhar.

Quando o horário do almoço se aproxima e o sinal toca, entrego o carregador a Belly e ligo o aparelho, analisando abismada a enxurrada de mensagens que recebo de Sam, incluindo ligações perdidas.

Atravesso a porta junto aos outros e sigo o fluxo de estudantes em direção à lanchonete enquanto leio cada uma delas. A maioria são indagações sobre o meu estado, onde eu estava, a razão de não estar atendendo. Sam parecia realmente preocupada e me culpo um pouco.

Por isso, ao invés de somente lhe mandar uma mensagem, retorno a sua ligação, embora Charlie provavelmente já tivesse entregue o meu recado.

Sam atende em questão de segundos. Sua voz ecoa na linha antes mesmo que eu seja capaz de falar qualquer coisa.

— Ainda bem que está viva, Kiki, pois agora quem vai matar você sou eu — diz, a voz levemente enfurecida — Por onde infernos esteve? Eu tentei te ligar tantas vezes, porra.

— A bateria do meu celular morreu — explico. — Sinto muito.

Ela emite um suspiro bastante alto do outro lado da linha.

— Pela mensagem que recebi de Charlie, suponho que você já sabe o que aconteceu, não sabe?

— É, ele me contou sobre a invasão no Poppys — admito o óbvio. — Assim como me contou sobre a sua preocupação obsessiva em ligar para mim e me avisar.

— Sabe exatamente porque eu fiz isso.

— Sei, é claro que sei. E agradeço a preocupação, Sam.

— Fiquei tão nervosa quando Bob me contou, você nem tem ideia. Só conseguia pensar em você, Kiki. Se estava bem, se conseguiu se defender, se fugiu. E nem pude falar nada para Charlie pois não queria foder a nossa promessa, mas ele ficou me encarando andar de um lado para o outro da casa como uma maluca.

Não consigo evitar o sorriso que surge seguido por uma leve gargalhada em meu rosto.

Dentro do refeitório, o movimento eufórico dos estudantes me obriga a falar um pouco mais alto.

— Não se preocupe, Sam. Eu estou bem — informo e, para evitar mais questionamentos, minto: — Acho que devo ter saído do Poppys antes disso tudo acontecer. Tive sorte, suponho. Em todo caso, foi muito sério?

Deathless - Jackson WangWhere stories live. Discover now