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Kiara Soulier 

Tento ignorar a forma como seus olhos castanhos analisam cada detalhe do meu corpo, enquanto caminho pela lanchonete, atendendo os clientes.

O jeito como ele parece relaxado todas as vezes que passo próximo a sua mesa, sorrindo para mim, provocando-me.

Aquilo era uma tremenda tortura. E o tempo, que normalmente passava rápido durante os horários de pico do trabalho, parecia se alongar cada vez mais, ao invés de diminuir.

Porra, eu queria tanto ir para casa. Ou que ele fosse embora logo.

— Kiki, atende a mesa sete para mim, por favor! — Samara informa ao passar por mim, a mão repleta de pratos, caminhando pelo salão atrás do dono daqueles pedidos.

Aceno, terminando de encher o copo de um cliente. Levando o jarra de café para o balcão, dou a volta, indo em direção a mesa próxima a janela e, para minha infelicidade, atrás do time de futebol.

Pela primeira vez em minutos, meu olhar pigarreia e encaro Jackson. Na ponta, como mais cedo, ele não pediu nada desde de chegou. Seus amigos em contraposição acabaram com duas pizzas grandes, alguns sanduíches, fritas e vários copos de refrigerante.

Passo por ele após o rápido contato. Suspirando, exibo meu melhor sorriso para o casal sentado ali, analisando o cardápio sem muita atenção.

— Boa tarde, já sabem o que vão pedir? — pergunto.

A garota folheia um pouco mais, pensativa, mas o cara está me encarando de um jeito que não é nada agradável.

Talvez pela rotina, mas era fácil identificar quando um homem agia fora do habitual dentro da lanchonete. E por mais que nossas fardas não ajudassem muito no quesito dignidade, não significava que eles poderiam se comportar como animais, sempre com segundas intenções nojentas. Ainda mais os comprometidos.

— Vou querer só um milk-shake de chocolate — ela diz, e entrega o cardápio para o namorado.

Ele nem sequer faz menção de ler. Apenas solta o papel plastificado na mesa, desinteressado antes de me encarar.

— Qual a sua recomendação? Não estou muito confiante no que pedir.

Evito outro suspiro pela atitude dele, e pelo fato que estou perto de alguém que desejo ao máximo evitar, aproximando-me apenas o suficiente para conseguir ler o prato do dia, já que não havia prestado muita atenção nele desde que comecei a atender.

— O x-bacon da casa é uma ótima opção. E está em promoção hoje, acompanha fritas grátis — falo.

— É isso que vou querer, então.

— Certo. Mais alguma coisa?

— Por enquanto, só isso, obrigado.

Termino de anotar seus pedidos e passo a comanda para Bob, retornando para servir as demais mesas. Então penso inconscientemente em como eu não teria nenhum dia de folga essa semana e isso quase me mata por dentro.

Deixava sempre a sexta livre porque era o dia mais caótico da universidade, ao ponto de que a única coisa que eu desejava fazer, após a última aula encerrar, era voltar para casa e dormir.

Ao menos, teria alguns trocados extras esse mês, o que não seria tão ruim assim.

— Pedido da mesa sete está pronto! — Bob grita da cozinha, ao apertar o sino.

Entrego um cardápio a três novos clientes e vou até o cozinheiro, tomando os pratos com cuidado para nada cair durante o percurso.

— Aqui, boa refeição — sorrio forçado, depositando-o na mesa.

Deathless - Jackson WangDär berättelser lever. Upptäck nu