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Kiara Soulier

Minha respiração está ofegante quando entro no Poppys pela porta dos fundos e vou direto até o meu armário me trocar.

E para minha surpresa, não sou a única naquele espaço minúsculo. Edgar, o vice gerente, está parado com os braços cruzados em frente as minhas coisas caídas no chão e pensativo. 

Havia o visto poucas vezes desde a semana passada, quando trabalhei na sexta-feira e fui roubada.

Samara dizia que o homem estava com alguns problemas familiares — a esposa tinha o traído —, e por isso, ele não conseguia fazer muita coisa além de beber e chorar. O que ocasionava nas faltas em seu trabalho.

— Algum problema? — pergunto ao me aproximar, meu corpo tenso.

— De quem é essa bagunça? — diz, inexpressivo.

Sinto minha boca ficar seca quando respondo, inquieta:

— São minhas, sinto muito.

Edgar finalmente me encara. Seus olhos parecem cansados, mas aquela sensação de superioridade e apatia ainda se mantém presente, como todos os outros dias.

— E o que as suas coisas estão fazendo no Poppys?

— Estou de mudança hoje — minto descaradamente, enquanto ele me analisa desconfiado, os olhos semicerrados. —  Não tive tempo de levá-las para casa nova ainda.

— Sabe sobre as regras, não sabe, Soulier?

Aceno levemente com a cabeça, encarando-o.

— Nada de amontoados sem sentido, é, estou ciente.

— Bem, então é melhor levar essas suas bugigangas o mais rápido possível para longe daqui. Detesto desorganização.

— Quer que eu leve isso embora agora? — franzo o rosto, confusa.

Edgar coça a nuca, evitando bagunçar as madeixas claras encharcadas de gel. Ele ajeita os óculos do rosto após um suspiro irritado, como se o  meu questionamento fosse o mais burro do mundo. Suas roupas são tão bregas, sem o menor estilo, e a gravata roxa está torta. 

— Não necessariamente — retruca. — Mas tem até o final do expediente. E não ouse me testar, se essas coisas estiverem aqui até amanhã de manhã, haverá consequências.

Não ouso contestá-lo. O humor dele deixava claro a resposta que eu receberia. E tento não pensar demais, ao começar a trocar de roupa e sair dali após arrumar minhas coisas, cansada.

O dia de trabalho no Poppys parece mais longo e exaustivo do que o habitual.  O que piora com Edgar, que me observava cada movimento, certificando-se de testar minha sanidade.

Enquanto servia os clientes, tentava manter o foco, mas meus pensamentos continuavam voltando para a oferta de Jackson sobre o quarto vago no dormitório da universidade.

Era possível que estivesse realmente considerando essa opção?

A ideia de morar com ele, de todos os colegas de quarto possíveis, era a última coisa que eu havia imaginado na vida.

Era impossível. Uma nítida catástrofe ambulante.

Mas a perspectiva de perder meu emprego no Poppys e não ter um lugar para morar era igualmente assustadora.

À medida que a noite avançava e o movimento no restaurante diminuía, meus pensamentos se tornaram mais turbulentos.

Será que eu deveria conversar com Charlie sobre isso? Ele sempre me aconselhava a manter a mente aberta e a dar uma chance às pessoas.

Deathless - Jackson WangWhere stories live. Discover now