01| T I T Ã

183 26 37
                                    

Amélia tinha uma teoria: o mundo fazia de tudo para a ver mal

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Amélia tinha uma teoria: o mundo fazia de tudo para a ver mal. Faltavam apenas dez minutos para que as suas aulas começassem e o autocarro precisava fazer mais quatro paragens antes de finalmente chegar ao seu destino. Como sempre, ela se sentou próxima a janela, os seus auriculares estavam no máximo enquanto Golden do Harry Styles soava aos seus ouvidos e os seus dedos cutucavam a sua perna seguindo a melodia calma da música.

Os seus olhos observavam as ruas já conhecidas, as mesmas pessoas ocupavam os mesmos lugares enquanto o motorista cantarolava as mesmas músicas. Após ter saído da casa dos seus pais, Amélia precisou de muito tempo para se acostumar aquela rotina, se acostumar ao fato de seu pai já não seria o seu motorista particular e que ela precisaria pagar sempre pelo seu bilhete para poder chegar na sua faculdade em segurança.

O veículo parou mais uma vez e mais pessoas entraram. Uma idosa se sentou ao seu lado usando o chapéu de apoiante do presidente atual, Amélia não gostava de política mas tinha toda a certeza de que se gostasse não votaria em Sebastian Mamduh, o homem que tanto queria revogar o direito ao casamento homoafetivo e que discursava tão frequentemente que casais homoafetivos não podiam adotar crianças senão as influenciaram a ser gays.

A música terminou, o que fez Amélia segurar o celular para colocar outra. Nesse espaço de tempo, ela ouviu a idosa proferir frases que violavam no máximo cinco direitos humanos, mas aquele era apenas o dia a dia de um apoiante de Mamduh.

- Sebastian está certo, essa nova geração é fresca demais. No meu tempo nós nos locomovíamos usando os nossos pés, os jovens de hoje mal conseguem dar dois passos sem se queixarem. - ela resmungou para o alto. Amélia continuava atenta ao seu aparelho.

Quanto mais velhos ficassem, mais se queixavam de coisas mínimas. Na semana passada Amélia tinha ouvido um homem se queixar que estava farto de celulares e que o governo deveria banir todos esses tipos de aparelhos. Aparentemente era melhor no tempo dele em que os pássaros serviam de correio.

Para a sua felicidade o autocarro finalmente parou frente a sua faculdade, Amélia desceu ainda ouvindo a idosa reclamar de algum outro direito humano que a deixava frustrada.

Os corredores da faculdade eram a pior parte do dia, estavam sempre muito cheios e haviam muitas pessoas batendo umas nas outras. Amélia era um alvo fácil, as pessoas pareciam não se importar em atirar coisas no momento em que ela estava passando ou simplesmente não a achavam relevante o suficiente para se importarem.

De longe ela avistou Nicolas, que estava parado ao lado do seu cacifo. Depois de conseguir esquivar dos brutamontes do caminho,ela aproximou-se do amigo.

- Bom dia! - Nico saudou com melancolia.

- Não são nem oito horas e você já está assim? - indagou; abriu o cacifo e tirou os livros que precisava ouvindo a explicação de Nico para o seu mau humor.

649 000 000 km de Júpiter à Saturno | ⚢ Where stories live. Discover now