Saturno Amélia Jordin sabia que não era especial, e aceitava bem o facto de sempre passar despercebida aos olhos das outras pessoas. Após anos e anos se questionando o porquê de nunca conseguir sobressair, ela finalmente aceitou que a sua existência...
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Amélia despertou sentindo seu corpo doer, quem diria que passar a noite com Thundra em seus braços seria tão agradavelmente doloroso. Sem precisar reparar, notou que não estava no seu quarto, o que comprovava a realidade da noite passada.
“Não foi um sonho”, ela pensou, se espreguiçando. A jogadora não estava do seu lado, os raios de sol que invadiam as persianas denunciavam a presença do dia. Amélia sentiu o seu coração apertar ao pensar na noite passada, e em como iria encarar Thundra sem sentir que explodiria de felicidade.
Namoradas.
Era isso o que elas eram.
Ela sorriu se levantando, mal podia esperar para contar aos seus amigos. Antes de sair do quarto, ela mirou o seu reflexo no pequeno espelho da penteadeira: o seu cabelo estava bagunçado, assim como o resto do seu corpo, mas não conseguiria arrumar-se sem saber onde estavam os utensílios necessários, por isso, saiu do quarto rezando para não encontrar ninguém para além da sua namorada.
“Namorada”, pensou sorrindo.
Aquela parte da casa estava silenciosa.
Parada na porta do quarto, a pasteleira conseguia ouvir o barulho de panelas e de vozes animadas, pensou que talvez fosse da cozinha. Sem saber para onde ir, ela seguiu o corredor azul pastel a sua direita.
Amélia reparou nas fotos presas na parede, Thundra e Theo, ainda crianças, apareciam abraçados em várias delas. Minjun, que parecia mais jovem, sorria agarrado a um peixe enorme; Ayeong e Peter apareciam em outra de mãos dadas, trocando olhares apaixonados.
No centro delas, havia a foto de uma mulher parecida com Ayeong; seus olhos eram pequenos, sua pele branca como a neve, seu cabelo longo era preto e o seu sorriso mínimo iluminava o seu rosto redondo.
— Harumi.
A pasteleira encarou rapidamente a figura ao seu lado.
— O nome dela era Harumi. — Minjun contou, olhando para a foto. — Nos conhecemos em mil novecentos e setenta, ambos tínhamos quinze anos. O meu pai era carpinteiro, e foi contratado para construir um abrigo para os animais da fazenda do pai dela, eu tive que ir para ajudar. Tivemos aquilo que os jovens hoje em dia chamam de “amor à primeira vista”.
— O que aconteceu? — indagou, também mirando a foto.
Minjun sorriu.
— Nos casamos e tivemos a nossa Ayeong algum tempo depois. Trinta anos de felicidade, infelizmente o tempo não é gentil com ninguém. Harumi tinha sérios problemas de saúde, seus pulmões nunca foram saudáveis e pioraram após complicações de parto, ainda assim, ela aguentou até ao nascimento dos nossos primeiros netos.
— Ela conheceu os gêmeos? — perguntou, sorrindo.
— Sim, eles nasceram em dois mil e dois, e ela faleceu no ano seguinte, faltando meses para o primeiro aniversário deles.
