— Fugindo de mim? — Mara indagou.Thundra pousou o copo vazio no lava louça, e olhou para a sua amiga. Mesmo não admitindo em voz alta, a jogadora sentia falta dos bons momentos que passaram juntas, tanto que o motivo de não estarem bem uma com a outra parecia insignificante. Apesar dos pesares, Mara era uma boa amiga, era carinhosa, compreensiva e estava sempre lá quando alguém precisasse, por isso, Thundra não compreendia os seus comportamentos recentes.
— Tenho motivos para isso? — retrucou.
A jogadora abriu o frigorífico para colocar a jarra de água, enquanto Mara se sentava no balcão da cozinha.
— Não sei, talvez os últimos acontecimentos não te tenham agradado. — deu de ombros. — Não tenho sido, propriamente, uma boa amiga.
— É bom ver que tens conhecimento disso. — respondeu, limpando a boca.
Mara soltou uma risada. Os seus olhos negros e cansados, miraram o rosto da jogadora como se não a vissem há anos. E bem, pareciam anos. Elas não passavam um segundo longe uma da outra desde que se conheciam, e passar todos aqueles dias sem se comunicarem parecia uma eternidade.
— Eu tive medo. — expressou. — Tu conheces a minha mãe, sabes como ela é emotiva e faz algo pequeno parecer enorme, e foi exatamente isso o que ela fez quando a minha tia casou.
— Esta é a parte em que o vilão explica o porquê de detestar a humanidade e desejar dominar o mundo? — articulou, sentando-se ao lado dela.
— Mais ou menos. Como eu dizia, a minha tia passou a priorizar o relacionamento dela, o que não é errado, mas que acabou por ultrapassar um limite que não deveria. — suspirou. — O marido dela proibiu que ela e a minha mãe saíssem juntas para fazer compras, elas já não podiam passar horas conversando por mensagem, não podiam ter um dia spa e todas essas coisas.
— E conhecendo bem a tua mãe, ela não aceitou isso muito bem. — comentou, fazendo Mara rir.
— Ela não tem amigas, a irmã dela era, literalmente, a única pessoa com quem ela podia conversar, já que na altura, ela e o meu pai estavam separados. Então, isso deixou ela de rastos, havia dias em que ela se recusava a sair da cama, tudo porque tinha “perdido” a sua melhor amiga.
— Mas não achas que o marido da tua tia proibir ela de sair com a própria irmã é meio tóxico?
— Aí é que está o problema, a minha tia casou grávida e ele só a proibiu de fazer essas coisas porque era uma situação delicada. Na altura ela tinha quarenta e dois anos, e a gravidez era de risco, ela precisava evitar esforços desnecessários. — explicou. — Mas ela não contou essa parte à minha mãe porque não queria que ela ficasse preocupada. E vamos ser sinceras, a senhora Clare consegue ser sufocante quando quer.
— Olha, a história foi linda, mas ainda não percebi como isso justifica as tuas ações.
— Não justifica. — proferiu. — Estou tentando dizer que fiquei com medo de sentir o que a minha mãe sentiu. E sim, eu sei que tenho a Milo, a Phoebe e o Apollo, porém, há certas coisas que sinto-me mais a vontade a partilhar contigo.
YOU ARE READING
649 000 000 km de Júpiter à Saturno | ⚢
RomanceSaturno Amélia Jordin sabia que não era especial, e aceitava bem o facto de sempre passar despercebida aos olhos das outras pessoas. Após anos e anos se questionando o porquê de nunca conseguir sobressair, ela finalmente aceitou que a sua existência...