12| E P I M E T E U

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Ainda pequena, Amélia criou um mundo dentro da própria mente, um lugar onde ela poderia ser verdadeiramente feliz

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Ainda pequena, Amélia criou um mundo dentro da própria mente, um lugar onde ela poderia ser verdadeiramente feliz. Porém, com o passar do tempo, aquele mundo se tornou tão concreto que a realidade deixou de ser real. A pasteleira habituou-se tanto ao conforto do seu paraíso que esqueceu, que precisava enfrentar os monstros da realidade.

Mas como poderia ela fazer isso se não conseguia distinguir a realidade da ficção? Como ela poderia aprender a ser dona da sua própria existência, quando tudo o que mais queria era desaparecer?

Por isso aquele momento parecia tão irreal. Por isso ela encarava Thundra como se a qualquer momento o sonho pudesse terminar. A sua pele arrepiou ao sentir os toques da jogadora, os seus corpos colados aqueciam um ao outro, Amélia sentia os lábios de Thundra beijarem o seu rosto.

Aquilo tinha que ser real.

— Posso te perguntar algo? — Thundra indagou; a pasteleira assentiu. — Quando começou a tua dificuldade em socializar?

— Não sei ao certo, acho que sou assim desde sempre. — suspirou, ao sentir Thundra acariciar as suas costas. — Penso que as coisas pioraram no início da minha adolescência. Os questionamentos se tornaram demasiado pesados, a minha situação familiar não era das melhores, não tinha amigos com quem conversar e tinha que aguentar o bullying calada.

— Como é que tu te sentes quando estás no meio de pessoas que não conheces?

— Nervosa, acuada, triste, perdida, com medo e assim a lista segue. Tudo isso tornou-se mais físico quando o casamento dos meus pais estava por um fio. Eles colocavam-me no meio das brigas, obrigavam-me a escolher um lado e, quando eu não fizesse isso, os dois me tratavam como se eu fosse a culpada por toda aquela situação. —  Thundra tocou o seu queixo, selou os lábios e sorriu a encorajando. — Eles não queriam que outras pessoas ficassem sabendo dos problemas de casa, por isso passei a ser a terapeuta dos dois. Ouvi coisas que não me diziam respeito, que deveriam ser mantidas entre marido e mulher, o que me fez ter uma nova visão dos meus pais. Para a minha mãe, o meu pai era um ignorante egoísta e para o meu pai a minha mãe era uma controladora tóxica.

— Tu não tens mais família? Talvez alguém confiável com quem pudesses conversar?

— Tenho uma tia, a irmã mais velha da minha mãe, e dois primos, mas não me sentia confortável a conversar com eles. Para ser sincera, eu morria de inveja dos gêmeos. Eles têm uma mãe amável, um pai que se importa, e um irmão com quem conversar.

— Bem, eu tenho um irmão gêmeo e posso dizer-te que não é tão bom quanto parece. — soltou uma risada. — Há vezes que tenho vontade de o sufocar enquanto ele dorme.

Amélia conhecia o irmão de Thundra, ele era um dos poucos rapazes daquela faculdade que não se colocava como rei. Para além disso, ele e Adara tiveram um romance que não terminou muito bem.

— Mas concordo que ser filha única deve ter sido muito solitário.

Amélia assentiu.

— Eu conheci o Nico no último ano do médio, um dos professores tinha sido operado, por isso a minha turma foi separada, e acabei por ser colocada na turma dele. Ele foi a primeira pessoa a saber da minha sexualidade, assim como eu fui a primeira pessoa a saber da dele. — sorriu. — Clio e Adara já se conheciam. Elas passaram a conviver conosco no princípio do verão, quando o Nico se mudou para Astoria.

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