Capítulo 28

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Comprovei as horas notando que ainda estava cedo, pois nem se passava das vinte e uma horas. Ouvi alguns passos contra a escada e franzi o cenho, Camila tinha acabado de subir.

Olhei atentamente esperando alguém aparecer e praguejei mentalmente, era só o que me faltava, a cereja do bolo para essa noite.

Assim que ela me viu, parou, me analisando com a mesma expressão que sua avó fez mais cedo. Tentei sorrir para quem sabe assim o clima não ficar muito pesado. Mas parece que não adiantou muita coisa.

- O que está fazendo aqui?

- Oi pra você também, Jenna - me levanto. - Como está? - me aproximo.

- Não lhe interessa - cruza os braços e faz uma careta. - O que faz aqui? - será que estou pagando pelo meus pecados?

Suspirei me segurando para não lhe dar a mesma resposta que recebi.

- Hm, irei dormir aqui - decido falar a verdade.

- Não tem casa não? - e pensar que eu era assim na minha adolescência... realmente existe carma. Novamente ela faz uma careta.

- No momento não - analiso bem seu rosto, pois diferente do que imaginei, suas caretas parecem ser de dor. - Está tudo bem? Precisa de algo?

- Como se eu fosse precisar justamente de você - é um coice atrás do outro. - Cadê minha mãe? - olha ao redor.

- Subiu há alguns minutos - coloca uma mão contra a barriga. - Me diz o que está sentindo, talvez eu possa te ajudar - seu olhar é frio para mim. - Cólicas? - continuo sem me importar com sua frieza. - Eu sei de um remédio milagroso, posso pedir pra você - pego meu celular. - Qual o endereço daqui? - questiono já discando o número da farmácia, e eu podia sentir seu olhar sobre mim, sem contar com a indecisão que ela exalava.

Coloco o celular contra a orelha e encaro a garota. Quando faço o pedido do remédio, repito a pergunta do atendente referente ao endereço e arqueio uma sobrancelha para Jenna, essa que me passa após soltar uma lufada de ar.

- Não ache que porque fez isso vai se tornar minha amiguinha - mal deixou eu encerrar a ligação. - Eu sei muito bem o que está tentando fazer e se acha que vou deixar minha mãe cair no seu papinho, está completamente enganada - é nesse momento que repenso minha vontade de me tornar mãe, mas olhando para mim e para onde estou, parece ser um pouco tarde demais.

- Jenna...

- E não ouse tentar me manipular - é firme, como se já tivesse sua própria certeza. - Saiba que eu não sou boba como Noah, não sou mais uma criança e não preciso de mais ninguém fingindo gostar de mim, então pode parar com esse teatrinho de boa moça porque eu não caio nessa! - mais uma careta.

Suspiro me vendo através daqueles olhos castanhos.

Ao meu ver Camila parece ser uma ótima mãe, pois pelo o pouco que conheço consegui sentir isso. Mas então porque essa garota grita tanto por amor e atenção ao ponto de já se manter na defensiva com qualquer menção de tudo isso?

- Eu vejo que você não é mais uma criança, mas pra me comprovar isso você precisa parar de agir como tal - a menina bufa. - Não estou aqui para manipular ninguém, se gostar de mim vai ser por quem eu realmente sou - me mantenho séria. - Eu gosto da sua mãe, amo ao ponto de querer viver mais de uma vida com ela, desejo formar uma família, ou na verdade fazer parte de uma que já existe - ela sorri sarcástica.

- Fala como se assim que você desse o golpe da barriga não faria minha mãe se distanciar dos filhos, pois é sempre assim que funciona, certo?

- Eu não sei quem te falou isso ou se você já vivenciou algo parecido, mas saiba que essa nunca foi minha intenção - novamente sorri sarcástica. - Quando sua mãe me contou sobre vocês, eu poderia muito bem me distanciar se assim eu desejasse. Mas eu escolhi ficar, mesmo com medo do que ainda possa vir, eu escolhi estar onde estou. Se tudo que planejo viver ao lado da sua mãe de fato se concretizar, vou amar todos vocês como se realmente fossem meus filhos, e eu não quero ocupar o lugar de ninguém - já deixo claro antes que ela retrucasse. - Pelo o contrário, desejo criar meu próprio espaço na vida de cada um e conviver da melhor forma possível, se assim também desejarem - ela me analisava com seus olhos levemente fechados. - E se por um acaso eu e sua mãe desejar aumentar a família, jamais farei distinção entre vocês, tem toda a minha palavra - novamente uma caretinha de dor. - Agora venha - seguro sua mão e isso faz ela se assustar levemente, tendo o reflexo de se afastar mas eu lhe seguro a tempo. - Te ver assim me faz lembrar de quando é a minha vez - puxo ela para que andasse comigo em direção de onde eu acho ser a cozinha. - Vou colocar água para esquentar, precisamos também de um pano macio - olho ao redor mas não acho nada. - Você vai beber o remédio assim que chegar e eu vou te ajudar com uma compressa morna tudo bem? - nada responde, mas continua sentada onde eu a deixei.

Procuro e acabo achando uma chaleira, coloco um pouco de água e ligo o fogão.

- Também costuma sentir cólicas? - a voz foi sussurrada. Lhe encaro com uma careta no rosto.

- Você nem imagina - me aproximo e sento na cadeira a sua frente. - Sofro com isso desde sempre, se não fosse as dicas da minha avó... - suspiro lembrando da mesma.

- Ela morreu? - parecia cautelosa e isso me fez rir.

Até que ela tem sentimentos.

- E já faz dez anos - comento pensativa. - Não sabe o quanto sinto falta daquela mulher - pressiono os lábios antes de levantar. - Mas isso não é assunto para o momento - olho ao redor. - Por acaso você tem algum pano limpo e macio no seu quarto? Vamos precisar - ela assente antes da nossa atenção ser voltada para a campainha. - Deve ser o remédio. Já volto - caminho em direção a porta principal mas no caminho sou parada por mãos me segurando firmemente.

- Não quis atrapalhar e por isso me mantive afastada - Camila confidencia em um sussurro. - E você ainda diz sentir medo - sorrio. - Conseguiu domar a maior fera de todos.

- Não seja boba, não podemos contar vitória antes do tempo - deixo um beijo em seus lábios. - Preciso atender a porta - aponto para a mesma.

- Eu faço isso - nego com a cabeça.

- Sua ideia de se manter longe foi perfeita, continue assim - ela estreita os olhos e eu faço o mesmo. - Não confia em mim? - ela levanta as mãos em sinal de rendição.

- Estarei no meu quarto, o último do corredor - comprova minhas suspeitas. Me beija uma última vez e antes que subisse as escadas, lhe puxo.

- Ela tem alergia a algum medicamento?

- Até então não - assinto lhe soltando.

Fui até a porta e realmente era os remédios. Voltei para a cozinha no momento exato que Jenna desligava o fogão.

- A chaleira apitou - assinto me aproximando.

- Tudo bem, vou colocar a água nessa garrafa para deixar no seu quarto ok? - assente. - Você vai ver o quanto isso é milagroso e a partir daqui nunca mais vai viver sem - pisco um olho para ela. Termino de armazenar a água quente e deixo de lado, indo pegar um pouco de água fresca. - Aqui - ofereço o copo em seguida de um comprimido, esse que ela bebe fazendo careta. - Vamos? - Chamo ao pegar a garrafa e um recipiente. 

A garota parecia tímida ao andar na minha frente, e eu não sei se essa receptividade é por conta do seu mal estar, mas confesso que desejo me aproveitar o máximo que eu conseguir.

Ela abre a porta do seu quarto e adentra me deixando para trás, faço o mesmo e fecho em seguida. Vejo ela caminhar até seu armário e pegar uma pequena mantinha.

- Essa serve? - estende contra minha visão.

- Perfeita - coloco a garrafa sobre a mesinha ao lado. - Já tomou banho, certo? - seus cabelos úmidos me diziam isso, e ela assente comprovando minha fala. - Pode deitar, o alívio será quase que instantâneo e assim você pode descansar um pouco - ela faz todo o processo desconfiada. - Não vou te atacar - sorrio para aliviar o clima pesado.

- Mama não entende dessas coisas - comenta já deitada enquanto eu preparo tudo.

- Não é culpa dela - revira os olhos. - Só quem passa por isso todos os meses vai entender melhor sobre o assunto - termino. - Pode erguer um pouco a blusa - faz outra careta no processo.

- Sua mãe também costumava lhe ajudar? - dessa vez foi eu que fiz uma careta.

- Digamos que não - coloco o pano contra seu ventre, percebendo um alívio estampar seu rosto. - Mamãe nunca foi muito atenciosa comigo - suspiro.

- Você tem irmãos? - sorrio para sua repentina curiosidade, me lembrava Noah.

- Não - respondo simples enquanto observo ela fechar os olhos. - Eu disse que o alívio seria quase que instantâneo.

- Não seja convencida - acabo gargalhando para seu tom usado.

Sim, acabei de comprovar minha teoria de minutos atrás. Toda sua receptividade se dava ao fato do seu desconforto.

Our World (G!P)Where stories live. Discover now