A SOMBRA DE VENEZA, Berlim ✓

﹙011﹚Aquele em que esperam a clarividência da morte.

TUDO QUE ESTÁ RUIM PODE PIORAR; essa é a ideia que permeia a mente de Veneza ao observar a mesa onde Arturo, ferido, repousa. Veneza se esforça para cortar suas roupas, buscando avaliar a extensão do ferimento, enquanto Rio e Denver, desesperados, observam. — Preciso falar com minha esposa, me deixem conversar com ela — murmura Arturo, agoniado.

Enquanto trabalha, Veneza relembra vagamente um livro que afirmava: "À beira da morte, conseguimos ver claramente nossa vida diante dos olhos."  Ela percebe o quão aplicável isso é a Arturo, que, perdendo sangue, aguardava apenas a clarividência da morte em um sopro de conforto em sua decisão de escolher entre sua esposa e sua amante. Não é segredo para ninguém no local de trabalho; todos estão cientes do seu caso, inclusive os sequestradores que estudaram sua vida.

Laura, sua esposa acerca de quatorze anos, ou Mônica, a mulher que o fez redescobrir uma juventude passada.  A única certeza que Arturo tinha naquele momento era que sua vida dependia da remoção da bala alojada no ombro, ao contrário ele morreria antes de se decidir.

Em meio a uma maca improvisada e mãos ensanguentadas, Veneza recorda sua aula, onde aprendeu o que deveria servir para salvar vidas, caso algum deles fosse alvejado.