A SOMBRA DE VENEZA, Berlim ✓

﹙016﹚Aquele em que o pedido é concedido.

MINHA MENTE ME TRANSPORTA para um tempo recente, um eco dos momentos que precederam a conversa de Berlim com o professor sobre a punição. As sombras do passado dançam, tirando a névoa da minha memória recente, revelando um capítulo ainda fresco.

Estamos no sofá que ocupa um cantinho da sala, Berlim, ainda inexpressivo, ocupa um dos cantos, enquanto eu, Veneza, encontro meu lugar em seu colo. Braços envoltos em seu pescoço enquanto minhas pernas encontram repouso sobre suas coxas, uma simbiose de cumplicidade enquanto o peso das palavras do professor ainda reverberam  em meus pensamentos. Éramos dois personagens, suspensos no palco do tempo, onde as entrelinhas do que estava por vir já começavam a se desenhar.

No silêncio que se segue, meu pressentimento sobre a punição cresce como uma sombra se espalhando por entre as fendas da consciência. Berlim, com sua postura desafiadora, provocou o professor, acendendo uma faísca que ameaçava incendiar uma tranquilidade que mal existia, era como se uma tempestade iminente pairasse sobre nossas cabeças. Estou envolta em seus braços e estávamos colados, mas uma tensão invisível preenche o espaço entre nós.

Sem dizer explicitamente, dou a entender meu desconforto com a provocação. — Não deveria ter pedido pela punição.—  deixo escapar, uma ponta de preocupação colorindo minhas palavras.

Ele, com olhos fechados e cabeça jogada para trás, refletia algo além da superfície, responde com a calma de quem navegou pelos oceanos da culpa. — Consegui sentir tudo que o ele sentiu. — Diz, revelando camadas de empatia que eu não esperava. Uma gama de emoções que transcende como uma correnteza.