A SOMBRA DE VENEZA, Berlim ✓

﹙013﹚Aquele em que é pedido uma punição.

— ESTÃO ENTRANDO, NÃO SEI POR ONDE.

Isso foi o que o professor nos disse, e no eco daquela revelação, o silêncio se tornou mais denso, como se as paredes da Casa da Moeda absorvessem o peso de uma ameaça iminente. Era evidente que a polícia buscava uma intervenção, um esforço necessário para eles dizerem que tentaram. Contudo, nós, como atores de um teatro, estávamos prontos para colocar em prática nosso próximo número.

A apreensão flutuava no ar, uma nota aguda que vibrava em cada corredor. Nossas máscaras, símbolos de nossa rebelião, agora eram trocadas por outras, mais sinistras, como se estivéssemos prestes a dançar com a própria sombra. A metamorfose simbolizava nossa resposta ao jogo ardiloso da polícia; se tentassem infiltrar-se, encontrar-se-iam perdidos em um balé terror.

Ángel, o subinspetor envolto em seu próprio dilema, emergia do ambiente cirúrgico como uma sombra em fuga. O tempo se esticava como uma corda tensa, e eu vi seu rosto assustado quando viu minha máscara, e viu que todos a sua volta já não estavam mais como Dalí. O desconforto se materialisava em gotas de suor que caiam sobre sua testa , uma antecipação inquietante. Se ele não chegasse à tenda a tempo de avisar a mudança dos planos, a polícia teria enviado dois homens para a cova dos leões, uma tentativa desesperada de confrontar o desconhecido.

E então, Ángel, expressando em seu rosto o desespero da corrida contra o tempo. Cada segundo parecia uma batida de tambor, ecoando no teatro clandestino que era a Casa da Moeda. Seus passos ressoavam como um compasso acelerado, enquanto eu, observava já na frente dos portões de aço seus passos acelerados.