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Angel
No banheiro do quarto que eu escolhi, há um espelho em cima da pia, que vai de um lado para o outro da parede, cobrindo toda a sua largura. Eu encaro o meu reflexo nele.
Depois do que aconteceu com Miguel naquela hidromassagem, nós ficamos quietos e agarrados, nos recuperando até que resolvemos tomar um banho de verdade. Viemos juntos e tomamos um banho quentinho. Miguel foi o primeiro a sair e foi direto para o quarto procurar roupas, enquanto isso, eu encaro o meu reflexo no espelho, sentindo as mudanças que poucas horas com ele foram capazes de fazer em mim.
Estou usando um roupão de banho e meus cabelos molhados caem sobre meus ombros e ele. Um sorriso surge em meus lábios com as doces lembranças de mais cedo. Eu andava tão desanimada e pálida, mas ao olhar para o espelho nem consigo mais me imaginar assim. Está óbvio que a cor voltou ao meu rosto e meu sorriso não quer se desprender dos meus lábios.
A não ser quando eu penso que a hora de ter aquela conversa chegou.
Só de pensar nisso sinto um calafrio e o sorriso some do meu rosto. Passo as mãos pelo rosto e pelos cabelos, tentando deixar isso de lado por um momento. Ele merece saber a verdade, mas não quero sobrecarregá-lo com meus problemas, não quando eu já fui a causa de vários em sua vida.
Amarrando o laço do roupão ao redor da minha cintura, saio do banheiro. O quarto é amplo e aconchegante quanto qualquer outro cômodo dessa casa. Miguel está sentado na ponta da cama, de costas para mim. Seu corpo está curvado. Eu diria que ele pode estar pensativo ou extremamente cansado. Talvez os dois. Ele está sem camisa, usando apenas uma calça moletom que deve ter achado por aí.
Meu coração acelera quando o vejo assim. Principalmente porque ele parece diferente. Sua aparência está mais séria e sombria. Ele também está bastante diferente. Acho que os últimos dias deixaram marcas em nós dois que foram além das físicas. Ele costumava sorrir mais. Eu costumava não ficar tão pensativa sobre as minhas escolhas.
Um suspiro escapa pelos meus lábios enquanto absorvo o que somos agora. Suas cicatrizes são ainda mais visíveis de costas. Quando retirei suas bandagens, mesmo de perto, estava tão envolta pelo prazer e paixão que tudo na minha mente pareceu embaçado. Mas agora vejo melhor. Ele carrega muitas marcas e parece se sentir inseguro com elas. O que mais me dói é pensar no que ele passou para ganhá-las. Aquela explosão foi horrível, ainda me traz calafrios.
