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Capítulo 68
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Angel
O som das sirenes ecoam na minha cabeça, como um anúncio de um mal presságio. Esse som sempre me assustou.
Mesmo quando eu ainda era apenas uma criança, lembro que não gostava da sensação de acordar com o som das sirenes. Morava em um bairro perigoso, por isso a escutava frequentemente. Não porque sentia medo dos policiais, ou achava que eles iriam fazer mal a mim, mas sim porque esse som sempre estava acompanhado de uma tragédia. Quando a minha professora descobriu os maltratos que eu sofria em casa. Quando uma bomba foi colocada em meu corpo e eu sabia que iria morrer. Quando Miguel me abraçou quando tudo o que eu queria era que ele ficasse vivo. Quando eu o abracei de volta. Quando a hora de morrermos chegou.
Sua mão acariciou a minha cabeça, me pressionando contra seu peito aconchegante. Meu nariz está encostado na sua camisa e eu consigo sentir o seu cheiro, que é como um bálsamo para mim. O adoro. Pressiono mais contra o mesmo, querendo o absorver mais e mais.
O aperto na minha direção. Minhas mãos em suas costas garantem que até o fim eu continuarei em seu abraço. Não choro mais como uma garotinha, e isso é tão surpreendente. O sentimento em meu peito nos meus últimos segundos de vida são completamente diferentes do que eu imaginei que seria.
Nunca senti nada parecido com isso. Essa sensação de pertencimento. É como se eu realmente fosse dele, não apenas por dizer ou porque escolhemos ficar juntos. Mas sim porque fomos criados um para o outro, assim como as estrelas foram feitas para deixar o céu noturno mais bonito. Assim como abelhas precisam de flores para se alimentar e as flores das abelhas para se reproduzirem. Assim como a minha versão criança precisava de Miguel para não sentir que estava sozinha. Assim como Miguel precisou de mim para lidar com a sua diferença.
E talvez esse seja o motivo de eu me sentir tão segura nesse momento. Como se nada pudesse me machucar, pois estou em seu abraço.
