Capítulo 18 - "Dói ser a borboleta?"

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 Capítulo 18 - "Dói ser a borboleta?"

- Eu já disse para parar de correr por aí assim! - Uma voz masculina gritou vinda de trás. Um homem andava confuso pela floresta logo atrás de mim, parecendo atordoado pelo som de cada graveto que quebrava ao ser pisado. Seu olhar acompanhava a direção dos sons como se fossem o aviso de um perigo iminente.

A folhagem de cor quente ao redor destacava um homem alto com cabelos prateados, como uma tela que ainda não havia sido pintada, mas permanecia refletindo o brilho de uma luz fria. Apesar disso, eu ainda não conseguia ver o seu rosto. Era como uma foto com a imagem borrada.

- É perigoso sair sozinho assim! Quando você vai aprender?! - A voz irritada se aproximou. O homem pegou-me pelo braço. Encarando a mão pálida com a pele coberta de sardas, reparei nas mangas longas e negras que eu vestia. Uma roupa incomum de novo.

Fui puxado para me afastar das águas de um riacho cujo inclinava para observar. A imagem que era refletida já havia sido vista antes. Meu cabelo sem as cores que uso normalmente e, desta vez, um véu sobre as aberturas repulsivas enfeitando a monstruosidade daquele rosto que eu carregava. Era um sonho, com certeza.

Mesmo assim virei-me na direção do homem que me levava. Ao fundo, vi um castelo negro no horizonte mas, de todas as coisas, nada me chamou mais atenção do que ele.

"Quem é ele?", eu pensei mais uma vez enquanto encarava as costas largas do desconhecido. A mão alheia deslizou pelo meu braço, descendo até o pulso e entrelaçando seus dedos nos meus. Meu olhar acompanhou o movimento e, em seguida, subiu novamente encarando a nuca do homem sem rosto.

O calor familiar do toque daquela pele fez com que eu sentisse um manto de afeto repousar carinhosamente sobre meu coração. Tudo me parecia familiar. Pareciam memórias antigas e empoeiradas guardadas para que eu sentisse nostalgia ao relembrá-las. Mesmo assim, se algo parecido com aquilo já havia me acontecido... eu não me lembro.

- Não consigo me lembrar de nada... - Eu sussurrei. O homem quente que me levava parou seus passos.

- Hm? Disse algo? - Ele perguntou e, então, eu acordei.

08 de Março.

- Lu! - A voz de Edward me chamou.

Abri meus olhos sentindo o incômodo da luz da cozinha. Quando senti minhas costas doerem, notei que havia dormido no restaurante, durante o meu horário de trabalho.

Lentamente estiquei minha coluna, sentindo meus músculos rígidos, talvez pelo cansaço. Mais uma dor nova que senti.

- Desculpe por ter dormido de repente... Eu te atrapalhei muito? - Eu perguntei, esfregando os olhos na intenção de afastar um pouco do sono que ainda sentia.

- Não, não. - Edward disse. O tom habitual de sua voz havia voltado. Era como se aquele colega de quarto amuado e exausto nunca tivesse existido. Ou ele havia melhorado de seja lá o que for que aconteceu, ou ele havia aprendido a fingir melhor. - É que a senhora Copper fez um pedido agora pouco. Ela parecia triste.

Eu franzi as sobrancelhas. Em tanto tempo a recebendo naquele restaurante, acho que nunca a vi triste ou desanimada. Acreditava até mesmo que isso fosse impossível de acontecer.

- A conhecendo eu acredito que ela te disse algo sobre o porquê de estar assim, não? - Eu perguntei.

- Ela disse que a sobrinha dela, Carla Cooper, foi encontrada morta ontem, na explosão do lar Santa Mary. - Edward disse, abaixando o olhar e agarrando-se à bandeja vazia que segurava. - O pior de tudo é que não sabem ainda o motivo da explosão. Falaram que podia ser terrorismo.

Lu de Lúciferजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें