Capítulo 29 - Não me assustou

13 1 1
                                    

Capítulo 29 - "Não me assustou"

12 de Março.

Ouvi o som do impacto do corpo de Aki contra o chão e, em seguida, vi um mar vermelho se formando sob o piso. Ele não estava se movendo.

"Por favor, levante", eu pensei, olhando fixamente para seu corpo mergulhado no sangue. Não sentia mais meu coração bater, muito menos ouvia as gargalhadas de Sally convencida da vitória. A única sensação que tive foi a do meu corpo, lentamente, ficando dormente. Meus ouvidos só ouviam um zumbido abafado, como o som de um monitor cardíaco indicando a morte.

Avancei um passo, desacreditado no que havia acontecido. Aki havia perdido? Aki estava morto?
Conforme andava, sentia a pele das minhas bochechas esticando-se como se fosse arrebentar. Ouvi o som de coisas emergindo do chão e, ao olhar, vi um caminho de higanbanas se formando por onde eu andava. Fui até Sally.

No caminho, olhei de canto na direção de C4, vendo tudo acontecer em câmera lenta. Pensei sobre como pude viver cinco anos sem C4...eu poderia viver o resto da minha vida sem Aki?

Quando me dei conta, a lança que prendia Sally foi desfeita e minha mão direita a erguia pelo pescoço, o apertando gradativamente enquanto sentia sua vida se esvair entre meus dedos. O desespero retornou ao seu olhar enquanto suas mãos envolviam meu braço em um desejo incessante de se soltar das minhas garras. Sim; garras. Minha pele estava manchada das mãos até o cotovelo, com veias azuis saltadas. Minhas unhas agora eram garras longas e afiadas que se cravaram na pele da bruxa que morria em minhas mãos.

"O que eu me tornei?", eu pensei. Na verdade, não importava. Eu só queria matá-la ali e agora.

Seus lábios se moveram proferindo súplicas por misericórdia, mas eu sequer as ouvi. Não me importava com mais nada além de sua execução. Ver seus lábios empalidecendo até ficarem azuis com a falta de ar foi o único conforto que tive naquela situação. Sally estava morrendo.

- Lu...? - Uma voz conhecida me chamou, vinda da porta. Eu arregalei os olhos, quase me esquecendo o motivo pelo qual estava naquele hospital.

Me virei na direção do chamado e vi Edward apoiado em duas muletas, encarando a cena inteira com um olhar completamente apavorado. Quando me encarou, ele começou a gritar.
As muletas caíram para os lados enquanto seu corpo desequilibrava, caindo sobre o chão frio do corredor do hospital. Ele recuou se arrastando enquanto gritava desesperadamente.

Involuntariamente eu afrouxei o aperto ao redor do pescoço de Sally, que caiu de joelhos no chão, tonta, mas consciente. Ela tossiu e passou por mim, deslizando por baixo da cama de C4, levantando-se ao lado dele. Suas mãos se ergueram acima do homem em coma e delas surgiram sombras que começaram a engoli-lo. Ela não se importava em me deixar vivo contanto que tirasse de mim o máximo que conseguisse.

Avancei um passo para impedi-la e ouvi Aki tossir, engasgando-se em seu próprio sangue. Aquilo fez com que uma luz de esperança acendesse em meu coração. Ele ainda estava vivo.

Sem pensar nem por um instante, eu me abaixei ao lado de Aki, virando-o para que não se sufocasse com todo aquele sangue.

- Aki...! - Eu o chamei, sentindo a esperança doer mais do que a aceitação.

Aki me encarou, seus olhos, lentamente, tornavam-se turvos. Seu rosto estava pálido e sua pele, normalmente tão quente, tornava-se cada vez mais fria. Suas pálpebras pareciam pesar enquanto suas forças o deixavam, mas, mesmo assim, ele ergueu uma das mãos e me empurrou. Eu o encarei sem entender suas intenções, esperando algum tipo de explicação, mas ele não tinha forças para isso.

Lu de LúciferOnde histórias criam vida. Descubra agora