Capítulo 28 - "Então, não tenho motivos para salvá-lo"

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Capítulo 28 - "Então, não tenho motivos para salvá-lo"

12 de Março.

Uma estranha sensação tomou conta do meu corpo no momento em que ouvi o ranger da porta se abrindo lentamente, como se uma brisa inexistente viajasse pelo corredor apenas para me mostrar o que havia naquele quarto.

O lugar revelado diante dos meus olhos era quase igual ao que Edward estava, com um diferencial que havia uma grande janela, por onde entrava a luz da lua daquela madrugada fria. Ao lado da cama hospitalar, há alguns passos da janela, havia uma mesinha onde jazia um pequeno vaso branco com rosas vermelhas prestes a murchar. Na cama, havia um homem que dormia ligado a vários aparelhos. Estava em coma.

O monitor tinha linhas brilhantes que subiam e desciam. Ao fundo, pude ouvir um singelo "bip, bip, bip" vindo daquela máquina. Eram seus sinais vitais.

"Por que este homem é raro e perigoso?", eu me perguntei enquanto me aproximava dele. O rosto era pálido como de quem já havia morrido. Seus longos cabelos negros pareciam ter crescido com o passar do tempo, as pontas de alguns fios tinham uma cor prateada quase imperceptível. Ele provavelmente pintava o cabelo antes de ficar assim.
Os longos cílios estavam deitados sobre as bochechas. Seu peito subia e descia em uma respiração calma e mecânica com a ajuda do respirador. Contudo, ele parecia dormir tranquilamente.

- Não era nada, no fim das contas... - Eu murmurei, dando as costas e indo até a porta novamente.

As luzes piscaram. Por um instante, pude ver centenas de olhos brilhantes revestindo as paredes, me encarando. Vigiando. A sensação permaneceu arrepiando minha pele quando as luzes normalizaram. Olhei em volta após isso e tudo estava normal. Em seguida, vi o corredor através da porta ainda aberta. Não havia nada. Nada incomum.

- Estou enlouquecendo... - Eu disse, rindo de forma nervosa enquanto passava uma das mãos pela cabeça, encarando o chão. - Só posso estar ficando louco...

Me sentei na cadeira ao lado da cama hospitalar para me recompor. Apoiei minha cabeça nas mãos e dei um longo suspiro. Estava totalmente exausto para alguém que tentava descansar até poucas horas atrás.

De repente, com a visão periférica, vi um dos dedos do homem em coma se moverem. Foi apenas por um instante mas foi o suficiente para eu erguer minha cabeça em sua direção, o encarando a espera de outro movimento, mas não houve nada.

Aquele hospital provavelmente estava sob controle de Verônica após ela ter perdido a fábrica que ela chamava de catedral. Deve ter sofrido retaliações por ter causado tanto prejuízo para a Ordem da Igreja uma vez que perdeu toda aquela pesquisa que faziam com não-humanos na floresta. Naturalmente, como uma organização que defende a soberania dos humanos comuns, eles iriam manter a função principal do hospital: salvar pessoas. Mas, por que manter uma pessoa que parece mais um humano comum como um espécime para estudo? O que de especial havia naquele homem em coma?

No fim, balancei minha cabeça e afastei os questionamentos irrelevantes.

- "Raro e perigoso", não é? - Eu comentei. Por um instante, pensei que estava conversando com o homem adormecido. Quando notei a situação, acabei rindo.

E, então, um de seus dedos se moveu de novo. Aquilo me fez encará-lo novamente. Desta vez, tinha certeza de que minha mente não estava me enganando.

- Você está me ouvindo? - Eu perguntei, curioso e a espera de mais um movimento. Naquele momento, eu percebi algo que me fez paralisar.

Olhei a mão direita do homem durante longos segundos e percebi seu pulso virado para cima. A agulha do acesso em suas veias perfuraram o relevo de uma sequência de longas cicatrizes. O padrão lembrava as listras de um tigre. Uma imagem conhecida. Marcas de mutilação semelhantes às minhas.

Lu de LúciferDonde viven las historias. Descúbrelo ahora