Dente De Leão | SOPE

Cabelos dourados

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O corredor largo do bordel era mal iluminado e Hoseok teve que tatear as paredes até encontrar uma vela acesa sobre uma mesa de canto. Não hesitou em levá-la consigo, era de se esperar que poucas pessoas passassem por ali, já que a maioria dos inquilinos parecia ocupada nos quartos a julgar pelos sons de movimento e gemidos que ele ouviu até encontrar a escada.

Desceu ao salão principal que agora parecia um ambiente completamente diferente, as luzes, música e risadas não existiam mais. As mesas haviam sido arrastadas para o canto e alguns funcionários lavavam o chão enquanto outros se ocupavam de recolher objetos espalhados pelo salão.

Alguns homens entravam com caixas pesadas de madeira por uma porta lateral que parecia fazer ligação com a rua. Um pouco de ar fresco lhe faria bem naquele momento, até porque não queria ficar ali e atrapalhar a limpeza dos funcionários que pareciam ansiosos para irem embora.

Ele passou pela porta no intervalo entre um carregador e outro chegando no pátio que imaginou ser os fundos do prédio. Era um espaço pequeno mas comportava uma área de terra batida com alguns bancos espalhados e um pequeno caminho de pedras, que fazia ligação com a rua principal, de onde vinham as caixas que estavam abastecendo o estabelecimento. Mais ao fundo havia o que parecia ter sido um jardim, agora apenas um espaço onde as plantas cresciam sem rumo.

A névoa da madrugada se misturava com a fumaça do cigarro de alguns funcionários que se encostavam por ali, deixando tudo esbranquiçado. Uma moça que parecia ter a sua idade se recostava sob uma lamparina, segurando as saias do vestido tão alto que Hoseok precisou desviar os olhos para não ver além de seus joelhos. Ela pouco parecia se importar e o encarou com desdém levando o cigarro que tinha na outra mão à boca.

- Está se fazendo de inocente agora?- Ela riu soltando a fumaça - Agindo como se nunca tivesse visto um par de pernas.

Outra mulher que estava ao seu lado riu baixinho, mas sua atenção não durou muito e logo virou o rosto, estava mais interessada nos homens que passavam carregando os caixotes. Essa parecia ser jovem, bochechas rosadas e a maquiagem borrada ao redor dos olhos mal disfarçava as olheiras.

Antes que pudesse responder, Hoseok sentiu um empurrão atrás de si o fazendo dar alguns passos à frente para não cair no chão. Sequer tinha notado, mas estava bloqueando a única passagem para fora do estabelecimento, já que a maior parte da porta estava sendo usada pelos funcionários.

Ele se virou esperando algum tipo de desculpas por ter sido tão grosseiramente empurrado, mesmo que estivesse atrapalhando, um simples aviso seria o bastante para fazê-lo perceber. Mas mal pôde ver a figura que se seguiu.

Um homem baixo de feições delicadas e cabelos loiros saiu do prédio e passou por ele, não dando satisfação alguma além de um olhar cortante e irritado.

O loiro seguiu o caminho de pedras em direção à rua principal pisando com firmeza como se até o chão fosse seu inimigo.

Hoseok olhou o rapaz se afastar assustado com tamanha grosseria.

- Não pense muito, ele é sempre assim. Pavio curto e teimoso. - a mulher mais velha falou. As duas tinham voltado a rir vendo Hoseok quase cair, ele tinha se tornado mais interessante até que os carregadores.

Ele assentiu com um sorriso falso e escolheu um dos bancos afastados para sentar. Se durante a noite os funcionários faziam tudo para entreter os clientes, na madrugada eram os próprios clientes que viravam motivo de risos, e Hoseok não queria mais que se divertissem às suas custas.

O banco de cimento estava frio e úmido de orvalho, fazendo seu corpo gelar mesmo com as calças de algodão grosso que usava. Podia ter sentado perto do jardim onde a folhagem protegia do sereno, mas tinha medo de que algum inseto voasse em seu cabelo e o tornasse a grande atração de noite, pulando e gritando de medo.