Capítulo 35 - E eu farei questão de matar todos

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Capítulo 35 - "E eu farei questão de matar todos"

13 de Março.

As memórias surgiram como uma enchente. Junto delas, as palavras doces vindas de C4 quebravam as paredes da minha mente, fazendo-me sentir que enlouqueceria.

Me encolhi, encostando os joelhos no peito. Apoiei minhas costas em uma árvore. Mesmo que abrigado da chuva, ainda tremia com o frio no meu corpo encharcado de água e sangue. A dor aumentava cada vez mais, mas não era tão agoniante quanto as lembranças que passavam diante dos meus olhos.

Entrelacei os braços no meu corpo, colocando as mãos nas costelas, pressionando com os dedos a mordida que ainda sangrava. A sensação dos dentes de Jeffrey afundando em minha pele jamais seria esquecida.

Aquela angústia fez com que eu desejasse por amparo. Queria sentir a segurança daquele breve período da minha adolescência, onde eu sabia que, não importa a altura que eu caísse, alguém sempre estaria lá para me segurar.

Apoiei o rosto nos joelhos, sentindo minha cabeça latejar e minhas pálpebras doerem com a força que usei para fechar os olhos. Os sentimentos contraditórios brigavam entre si enquanto minha pele ardia com a lembrança do toque de Jeffrey. Este, provavelmente, era o meu limite. Não sabia se conseguiria passar por aquilo sem que minha mente se partisse e meu coração parasse.

- Ei, você está bem? - Uma voz conhecida falou.

Ergui minha cabeça quase imediatamente, vendo a hospedeira de pé à minha frente. Seu rosto carregava preocupação, mas haviam outras coisas diferentes nela desde a última vez que a vi.

Seus olhos estavam castanhos como antes, o que significava que Stella havia retornado ao corpo. Sua pele estava coberta de ferimentos e algumas manchas de terra, como se tivesse lutado durante muito tempo. Até mesmo seus cabelos negros estavam bagunçados e com algumas folhas presas nele.
Abaixando o olhar, vi presa em sua cintura por um cinto que puxava sua calça jeans um pouco para baixo, estava uma espada japonesa. Uma katana de bainha negra com detalhes dourados.
Também havia olheiras em seus olhos e suas íris não possuíam o mesmo brilho das outras vezes. Algo mudou.

Mesmo parecendo abatida, ela estendeu a mão em minha direção com um sorriso cansado em seu rosto.

- Ainda não sei o seu nome. - Ela disse gentilmente.

Franzi minhas sobrancelhas ao sentir o nó se formar novamente na minha garganta. Meus lábios se moveram, mas senti que minha voz não saía. Minhas mãos penderam para o lado enquanto meu corpo não tinha mais forças para sustentá-las ao redor do meu corpo. Tombei para frente, sentindo meu corpo se desligando lentamente.

Stella se surpreendeu, abaixando bruscamente batendo os joelhos contra o chão enquanto esticava os braços para me segurar antes que eu caísse. Ela parecia confusa, mas instintivamente me envolveu com os braços.

Quando me dei conta de que havia sido encontrado, tive a impressão de que ficaria bem. Os pensamentos, lembranças e sensações ruins foram, lentamente, sobrepostos pelas pequenas mãos da jovem humana que parecia estar tão preocupada em me ajudar.

14 de Março.

Senti meu corpo pesar sob a superfície macia. Estava encolhido embaixo dos lençóis quando abri meus olhos, sentindo meu corpo doer. Olhei ao redor e percebi que estava no quarto de hóspedes, na casa da tia Mallory. Aquilo me deixou confuso, então me sentei lentamente, grunhindo com o movimento.

- Ashley, se comporte! - A voz de Stella disse, fora do quarto. - Vai acabar quebrando alguma coisa!

- Isso é muito divertido, Stella! Como eu poderia parar?! Sonhei com isso a minha vida toda! - Uma voz respondeu, quase idêntica à da hospedeira.

Lu de LúciferWhere stories live. Discover now