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Bruna Marquezine
19 de março de 2024
Los Angeles

- Maya, para de tentar ligar pro Javi, ele não tá podendo atender agora, não tem problema você ficar aqui. - Disse observando a garota mais uma vez olhar para o celular impaciente. Caminhei até ela e parei um sua frente. - Me dá.

- Que? - Maya disse confusa e eu estendi a mão. - Você só pode estar louca, tá achando o que?

- Anda, Maya, larga um pouco esse celular, deixa com som alto e sossega essa cabeça. - Disse e vi a garota revirar os olhos. - Fiore, pelo seu bem, anda.

- Tá, tá. - Ela disse aumentando o toque do celular e o deixando sobre o móvel ao lado. - E agora, vai me obrigar a varrer a casa?

- Não, mas tava pensando em uma coisa. - Disse sorrindo olhando pra garota. - Já tá quase na hora do almoço, quer fazer algo que tem aí? A gente já destrói dois problemas de uma vez.

- Sabia que tinha algum interesse por trás. - Maya disse rindo e eu quem revirei os olhos dessa vez. - Vamos, eu deixo você se aproveitar dos meus talentos secretos.

- Você gosta. - Disse dando um tapa leve em seu ombro e ela riu negando.

- Sou humilde, Bru, não gosto de humilhar os outros sendo boa em tudo, sabe? - Maya disse e eu concordei.

- Realmente, você é boa em quase tudo. - Disse enquanto pegava um pacote de legumes congelados e colocava sobre a bancada.

- Quase? - Maya disse e eu concordei.

- Sim, vai fazer aqueles legumes na manteiga que você me fez aquela vez. - Disse e ouvi Maya respirando fundo. Já havia comida pronta na geladeira, eu só queria ocupar a mente de Maya com algo.

- Você vai ficar sentada aí? - A garota disse apontando pra mim com a colher e eu concordei com a cabeça. - Tá querendo refazer aquela noite? - Maya disse e eu ri envergonha.

- Sim, vou aí te beijar agora. - Disse e Maya colocou a mão na cintura.

- Vai? - Maya disse e eu concordei, ela sorria de modo sapeca, nossos olhares estavam grudados, ninguém se mexia, ninguém sabia se ambas falavam sério ou não, apenas era uma brincadeira. Nossa bolha foi quebrada quando o celular de Maya tocou, a garota apenas o pegou e atendeu.

- Oi amigo, posso ir ficar na sua casa por uns dias? - Maya disse e eu respirei fundo em tristeza, eu estava gostando de ter a companhia dela ali comigo. - Ah, entendi, tudo bem, amanhã tudo bem eu ir? - Maya disse e me olhava envergonhada. - Eu dou um jeito, tá tudo bem, sério. - Maya disse e logo se despediu do garoto.

- E aí? - Disse virada pra ela e Maya coçou a nuca envergonhada, já até sabia o que ela falaria.

- Tudo bem se a gente ficar aqui hoje? Amanhã eu vou pro Javi o mais rápido que puder. - Maya disse nervosa e eu sorri pra garota.

- Maya, desde que você não se incomode, tá tudo bem. - Disse calmamente e ela respirou fundo. - Eu tô te falando sério, pode ficar quantos dias precisar, até bom que ganho carona pro set. - Disse brincando e vi um sorriso aparecer no rosto da garota.

Maya e eu contávamos sobre nossa vida enquanto estávamos separadas, sobre viagens, brigas, amizades, ficantes e até mesmo momentos em que sentimos falta uma da outra.

- Quando eu pisei na Itália sem você, acho que foi quando eu entendi que acabou de vez, sabe? - Disse enquanto observava Maya mexendo os legumes na panela, era literalmente manteiga e legumes congelados, mas o jeito que ela fazia, era como se fosse uma prato de chef de cozinha, sua concentração, a língua pra fora, os olhos focados na frigideira e pedidos para que eu repetisse o que havia dito, já que toda sua cabeça estava naquela comida.

- Eu acho que eu percebi nas coisas mais pequenas, tipo dormir. - Maya disse sem manter contato visual comigo.

- Como assim?

- Ah, eu não consegui dormir direito, sentia falta de sentir seu cheiro, seu abraço, seu boa noite. - Maya disse apertando os lábios. - Era como se meu ritual tivesse sido quebrado, na verdade ele havia sido.

- Entendi, sim, eu sentia falta disso, mas quando eu olhei pela janela do hotel em Milão, foi uma coisa maior, eu olhei aquilo e falei, Maya precisava ver isso, ela ia amar. Eu tirei até uma foto pra te enviar, mas aí eu lembrei, não dava. - Disse e Maya me olhou.

- Me mostra. - Ela disse rapidamente e eu continuava a encarar. - A foto, agora você pode me mostrar. - Maya sorriu gentilmente e eu concordei, assim pegando meu celular e procurando a maldita foto.

- Aqui. Achei. - Disse e levantei minha cabeça para encontrar Maya e virar o celular pra a garota, mas antes de qualquer movimento meu ocorrer, senti um calor ao meu lado. Maya estava ali, sentia sua respiração levemente, sua mão estava nas costas da cadeira e também tocando as minhas costas. Seus olhos percorreram a tela, enquanto os meus percorreram o seu rosto.

Faziam meses que não a via tão de perto, não via suas pintinhas, seus olhos, sua boca. Tudo continuava perfeito, tudo estava lindo como sempre foi.

- Uau. - Maya disse a abriu um sorriso. - Isso é lindo, muito lindo, me passa o nome desse hotel, um dia quero ter essa mesma vista. - Maya disse ainda centrada na imagem, eu continuava focada em seu rosto.

O olhar de Maya encontrou o meu, estávamos próximas, continuamos próximas, Maya teve a mesma reação que a minha, senti meu rosto ser queimado por seu olhar, meus olhos queriam a atenção dos dela, mas eu sabia que de qualquer forma eu estava reacendendo sua total atenção.

- Sim, é, passo. - Disse embolada com as palavras e Maya respirou fundo, se afastando um pouco, porém nossos olhos continuavam conectados.

Minha vontade era beijar Maya por horas, eu queria poder dar todos os beijos e carinhos que desejei por tantos meses, mas eu não podia, Maya não era mais minha.

A minha Maya não existia mais.

Competição - Bruna MarquezineDonde viven las historias. Descúbrelo ahora