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Capítulo 1 - O Prato Sujo De Suely

Pai: Aquele que tem filhos.
Aquele que sacrifica TUDO para dar o melhor aos seus filhos.


*

Papai, essa foi a primeira palavra que eu disse enquanto gaguejava as primeiras sílabas quando era uma bebezinha. Bom, é o que minha mãe diz, então eu acho que é verdade, ela sempre gosta de lembrar dessa história, não sei bem porque, talvez seja porque eu sempre fui muito apegada ao meu pai.

Minha casa é enorme. 

Tudo bem, não é tãaao enorme, mas é grande porque tem muito espaço para brincar. E, quando eu era criança, adorava brincar de pique-esconde com meu pai. 

Ele sempre foi bom nesse jogo, nunca consegui me esconder dele.

Eu lembro que quando ele me encontrava, eu corria para me esconder de novo, incrível como ele sempre teve a habilidade de me encontrar.

Era como se ele soubesse exatamente onde me achar.

Sempre tivemos essa conexão.

Minha mãe... Bom, ela é noveleira. Imagine uma pessoa que passa horas assistindo novelas. Imaginou? Essa é minha mãe. E eu odiava novelas, porque eu queria assistir meus animes e desenhos infantis.

Você sabe, coisas de criança que eu assisto até hoje. Oh, não é por ser adulta que não vou assistir desenhos infantis. Ok? Meus preferidos são do Looney Tunes. Nunca perdem a graça. E o que eu fazia quando não podia assistir?

Brincava com meu pai. 

Talvez por isso que era mais próxima dele do que com minha mãe, não sei. O que sei é que não tive um computador ou um smartphone até eu completar 14 anos, meu pai dizia que era para proteger minha infância. 

Naquela época, eu gostava de criar histórias para minhas bonecas; e brincar com meu pai. Brincalhão como sempre. Ele era minha diversão. E para ser sincera... continua sendo.

Todo ano, no dia 4 de junho, aniversário de casamento dos meus pais, minha mãe sempre repete para mim e para a Suely; a história de como ela conheceu nosso pai.

Ela disse que se conheceram na faculdade, eles cursavam nutrição, estudavam na mesma sala, e, alguns dias depois se tornaram amigos. Meu pai sempre interrompe dizendo que ela era a garota mais bonita da sala. Eu acredito. Minha mãe é linda.

Eles gostavam tanto de conversar que começaram a matar aula, ficavam horas no restaurante da faculdade. Minha mãe reprovou por causa disso, ela sempre brinca dizendo que o papai é o culpado.

Eles se casaram.

Dois anos depois, Suely nasceu. Ah, não sei se te falei antes, eu tenho uma irmã mais velha. Isso mesmo, eu sou a caçula dessa família.

Quando eu tinha 15 anos, minha mãe decidiu se dedicar ao sonho dela; jornalismo. E você sabe, né? Jornalista não tem hora para trabalhar, ela me chamou numa manhã e disse que quando ela não está aqui, a responsabilidade da casa é toda minha.

Claro, não poderia ser a Suely, pois ela nunca estava em casa, sempre tinha algum lugar para ir, se Suely souber fazer um ovo cozido é muita coisa, (se eu fosse mãe dela, ela seria bem diferente), já eu acho importante aprender a cuidar da casa e da família. E Aprendi cedo.

Três anos depois (agora com 18 anos), aqui estou eu lavando esse prato sujo que a Suely não teve tempo de lavar, e...

 — Gabe! — A suave voz do meu pai interrompe meus pensamentos. É suave até mesmo quando faz seus sermões — Ontem você não disse que iria sair hoje com seus amigos da faculdade?

Ele se lembra disso? Olho para trás e deixei escapar um sorriso por cima do ombro. Vejo ele sentar na cadeira da mesa de jantar.

— E deixar o senhor e a Suely sozinhos aqui? Vão destruir a casa, o senhor não faz nada sem mim.

— Caramba! E como eu iria destruir a casa? — nos entreolhamos por um segundo e soltamos gargalhadas igual duas crianças.

— Ah, pai. Sei lá. Não tô afim de sair. Eu vou outro dia — digo enquanto lavo um prato.

— Filha, eu sei me cuidar, vai lá sair com seus amigos.

— Aham, e quem vai fazer a janta, pai?

— Ué? Eu compro.

— São 10 da noite, pai. Não tem nada aberto. E lembre-se do que a mamãe disse, quando ela estiver fora, eu sou a dona da casa. Sério, não se preocupe com isso  faço uma pausa — Então... senhor Gabriel, que tal tomar um banho? Logo, logo a janta estará pronta.

Ele abre um sorriso tão meigo que quando ele me puxa para seu colo, nem mostro resistência, sentindo seus braços me protegendo e vários beijinhos na minha bochecha, eu sei que quer o meu bem, ele sempre foi assim, atencioso.

Me diz, isso é normal? Arg! O que estou falando? Claro que é normal. É só amor de pai e filha. Não é?


Continua...



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Tal Pai, Tal Filha [ Reescrevendo ]Where stories live. Discover now