Capítulo Um

3.1K 167 2
                                    

Luana estava de péssimo humor quando finalmente resolveu atender o telefone.

Uma das coisas que mais detestava era ser interrompida durante os exercícios de barra, já que sua concentração toda ia por água abaixo. Ao machucar o tornozelo vira-se obrigada a tirar uma licença e resolvera que o melhor seria passar alguns dias na casa de sua família em Wichita, Kansas.

Já era difícil o suficiente tentar se exercitar com os ligamentos feridos para ainda ter que aguentar telefonemas amorosos das namoradas do Sr. Caleb, que tinha passado a tarde jogando tênis com seu irmão, Gustavo, e com certeza dera o número do telefone do amigo para algumas das mulheres com quem costumava sair.

O fato de se ver obrigada a conversar com as namoradas de Caleb a irritava bastante, em especial porque se sentirá possessiva em relação a ele, mesmo antes de trocar Wichita por uma carreira de bailarina em Nova York.

- Caleb está? - indagou uma voz feminina. Só pode ser uma das amantes daquele presunçoso, pensou cheia de raiva. Bem, pelo menos poderei me livrar desta daqui. E é pra já.

- Quem está falando, por favor?- Seguiu-se um breve silêncio.

- Jane. Posso saber o seu nome?-

- Luana.-

- Oh! - A mulher pareceu hesitar durante alguns segundos e voltou a insistir. - Gostaria de falar com Caleb, por favor. - Luana enroscou o fio do telefone no dedo e abaixou o tom de voz, decidida a levar a encenação até o fim:

- Querido? - falou num murmúrio propositalmente íntimo e sensual. - Oh! querido acorde, é Jane ao telefone e quer falar com você. -

Ao escutar a outra respirar fundo, ela sufocou uma risadinha, sabendo que atingirá seus objetivos.

- Eu nunca fui... - explodiu uma voz ultrajada aos seus ouvidos.

- Oh, não? Pois deveria, querida. Ele é tão maravilhoso na cama! Caleb, querido, vamos, acorde...-
A mulher bateu o fone no gancho com força suficiente para arrebentar o tímpano de qualquer pessoa. Rindo feliz, Luana desligou o telefone também. Bem feito para Caleb, pensou.

Satisfeita com o desfecho da brincadeira, voltou para os exercícios de barra. Anos atrás Gustavo fizera questão de transformar o antigo salão de bailes da casa numa sala de ensaios para a irmã. Pena que quase nunca a usasse já que passava a maior parte do tempo em NY. De qualquer forma ela apreciava a delicadeza do gesto.

O irmão e ela possuíam ações da Torres & Lopez Air e Gustavo chegara a ocupar o cargo de vice-presidente da empresa.

Mas a fortuna da família acabará sendo dilapidada pelo pai de ambos que se tornará sócio majoritário logo antes de morrer. Como resultado de uma política aventureira, a empresa quase fora à falência. Se não fosse pela competência extraordinária de Caleb, que percebendo o desastre iminente tomoi as rédeas dos negócios com mãos de ferro, eles teriam perdido tudo. É claro que ele acabará se tornando sócio majoritário, e por merecimento, diga-se de passagem. Só Deus sabia o quanto aquele homem tinha se dedicado ao trabalho durante os últimos anos.

Enquanto se exercitava, Luana voltou a pensar no telefonema de minutos atrás. Talvez não devesse ter agido de maneira tão impetuosa, o que com certeza causaria problemas a Caleb e sua atual namorada. O noivado dos dois terminará dois anos atrás, portanto não tinha nenhum direito de se sentir possessiva em relação a alguém que não lhe pertencia.

Cansada, colocou a toalha ao redor do pescoço e se olhou no espelho. O collant de cor preta marcava as formas arredondadas do corpo de maneira sensual, porém o que mais chamava a atenção eram as sapatilhas de pontas. Sendo terrivelmente caras, costumava poupar seu melhor par e usar as velhas para ensaiar. Se alguém a visse naquele exato momento calçando sapatilhas tão gastas, acabaria julgando-a uma mulher sem recursos. O que de certa forma era verdade. Apesar de possuir ações da empresa fundada por seu pai e o pai de Caleb, vivia do salário ganho como integrante do corpo de baile da companhia à qual se juntara apenas há um ano.

Aliás, não fora fácil conseguir a vaga e só o fizera depois de passar muito tempo estudando com uma das mais famosas professoras de Nova York. Contudo, ainda teria que dançar seu primeiro solo, e se tornar uma das bailarinas principais do grupo, para receber aumento salarial.

Mas para realizar seus sonhos não podia repetir o desempenho da semana anterior, quando perderá o equilíbrio durante uma pirueta e caíra no chão. A lembrança do acontecido doía tanto quanto o tornozelo.

Aquele tipo de incidente, se repetido com frequência, costuma diminuir as chances de se chegar ao topo da carreira. Os exercícios recomendados pelo fisioterapeuta para fortalecer os tendões e os músculos estavam ajudando muito, embora fossem bastante dolorosos. Precisava se exercitar com cuidado redobrado para não acentuar o problema ao invés de resolvê-lo.

Luana voltou para a barra, um sorriso determinado no rosto. Embora tentasse se concentrar nos movimentos, os pensamentos insistiam em vagar em torno da provável reação de Caleb quando descobrisse a história envolvendo a tal Jane.

Era incrível como aquele homem parecia dominar sua vida desde que completará quatorze anos, época em que os pais de ambos se tornaram sócios nos negócios. Seu pai e Gustavo simpatizaram imediatamente com Caleb, tão logo o conheceram, mas ela não podia suportá-lo. Fora ódio à primeira vista.

A BailarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora