Capítulo Dezoito

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Mas se Luana esperava que aquele brilho especial nos olhos azuis mudasse alguma coisa entre os dois, estava enganada. Caleb já havia recuperado inteiramente o controle de si mesmo quando se reencontraram lá embaixo, para tomar café. Minutos depois anunciava que precisava ir embora. Discreto, Gustavo levou as xícaras para a cozinha com a única intenção de dar aos noivos um pouco de privacidade.

- Quando tudo isso terminar, você vai se casar comigo imediatamente, tão logo eu consiga arrumar os papéis para a cerimônia. -

- Está bem. - Larissa murmurou, percebendo que ele evitava fitá-la embora acariciasse seus cabelos longos.

- Ashley não é o que você pensa, sinto muito porém no momento não posso lhe dizer nada além disso, quero apenas que você tenha em mente que nem sempre as pessoas são o que parecem ser, eu lhe contarei tudo assim que puder. -

Aquelas palavras, apesar de não muito claras e objetivas, ajudaram a dissipar um pouco de suas dúvidas e medos, fazendo-a querer abandonar a máscara e desvendar os segredos da alma. Por um longo instante o fitou, o coração transbordando de emoção.

- Gosto muito de você, estou cansada de lutar contra os sentimentos, ficarei feliz com o que puder me dar, me contentarei com o que receber, não exigirei mais nada. -

- Não mereço isso. - Caleb falou por entre os dentes.

- Provavelmente não. - Luana sorriu um pouco tímida - Mas é a pura verdade. - Ela se aproximou e o beijou de leve, cheia de ternura. - Sinto muito que Gustavo não tivesse saído de casa para que pudéssemos fazer amor. Porque eu queria muito, muito, muito. -

- Eu também pequena, fica cada vez mais e mais difícil ficar longe de você. -

- Mas não difícil o suficiente para fazê-lo abrir mão da Ashley, não é? -

- Dê tempo ao tempo. - Luana suspirou fundo, cansada demais para lutar contra o inevitável.

- Eu te amo. - murmurou ficando nas pontas dos pés para beijá-lo na testa.

Caleb parecia atordoado, perdido num turbilhão de emoções. Embora acreditasse que Luana não confiava nele, tinha esperanças de que ela estivesse dizendo a verdade sobre os próprios sentimentos. O fato era que sentia já ter ido longe demais para voltar atrás agora.

- Vejo-a amanhã, é melhor que Chace já esteja a caminho do fim do mundo ou não me responsabilizo pelo que farei, ainda não consegui perdoá-lo. -

- Não o machuque, ele realmente me salvou, fez o que precisava ser feito diante das circunstâncias. -

- Eu sei muito bem o que ele fez, não precisa ficar me lembrando. Talvez a CIA resolva dá-lo a Wilmer, como presente de despedida. -

- Wilmer não vai embora já, não é? Pensei que ele estivesse de serviço em Washington, como representante legal de seu país. -
Caleb ia começar a dizer alguma coisa quando pareceu mudar de ideia.

- Você vai entender tudo dentro de um ou dois dias, agora que Chace precipitou os acontecimentos, as peças do quebra-cabeça vão começar a se encaixar, não se preocupe, você não correrá mais qualquer perigo. -

- Basta eu estar ao seu lado, onde quer que seja, para me sentir protegida. -

- Verdade? - ele indagou secamente. - Às vezes tenho minhas dúvidas. -

- Boa noite. - Luana sorriu e se afastou.

- Em circunstâncias diferentes, teria sido uma noite e tanto. - Caleb meteu as mãos nos bolsos e fitou-a fixamente. - Você é linda, e não apenas por fora, ainda não sei como fui capaz de deixá-la partir, de não prendê-la para sempre. -

- Porque não se sentia seguro comigo, e ainda não se sente, não é? -

- Sua carreira profissional vinha em primeiro lugar, lembra-se? Você estava decidida a ser bailarina a qualquer custo, o resto, inclusive eu, tornou-se secundário. -

- Fui uma idiota, não o conhecia de verdade, não sabia como lhe tocar a alma. Eu era jovem, tola e incapaz de enxergar as coisas além da superfície. Você tinha medo de se envolver, de se entregar profundamente a alguém. Talvez eu me sentisse assim também. E preferi fugir a enfrentar meus próprios medos.

- Você não é a única a experimentar sentimentos contraditórios. É estranho como as pessoas reagem de maneiras inesperadas em situações de estresse. Bastou você ser ameaçada para eu apresentar tendências homicidas. E quando sofri aquele atentado, você ficou histérica. Não lhe passa pela cabeça que já é um pouco tarde demais para qualquer um de nós dois se preocupar com os perigos de um envolvimento sério? -

- Tem razão, já estamos mais do que envolvidos. -

- Até a raiz dos cabelos. - Caleb suspirou fundo e tocou-a de leve no ventre. - E em mais do que uma maneira também. - Luana riu exultante.

- Dois anos atrás eu tinha tanto medo de engravidar, agora vou para a cama sonhando com isso.

- Mas quero que pense bem numa coisa: um filho significaria o fim de sua carreira de bailarina, mesmo que seu tornozelo finalmente sarasse. Seria impossível levar a criança para Nova York durante o período de ensaios e apresentações. Por outro lado seria impossível educar um filho a distância, deixando-o sempre aos cuidados de uma babá. -

- Pensei que talvez fosse uma boa ideia abrir uma escola de balé, aqui em Wichita. Eu poderia dar aulas. É algo que sei fazer muito bem. Além do mais conheço duas bailarinas aposentadas que adorariam participar do projeto. Acho que não deverá ser muito difícil conseguir um empréstimo no banco e achar um estúdio para alugar. -

Num impulso, Caleb beijou-a na boca com carinho e ternura. Ela ficou surpresa. Nunca imaginara que o faria tão feliz com aquela decisão.

- Eu poderia ajudá-la a encontrar um estúdio. Quanto ao financiamento, é claro que tenho condições de lhe emprestar dinheiro a uma taxa de juros bem menor do que a cobrada pelo banco, quanto ao resto, bem, o projeto é todo seu. -

- Oh, amor. - Caleb sorriu e a enlaçou pela cintura, apertando-a com força.

- Tem certeza de que não sentirá falta dos palcos da Broadway? -

- Não se puder trabalhar em algo que realmente gosto e continuar vivendo ao seu lado, Nunca pensei que você fosse aceitar minha ideia. -

- Não? - Luana passou os braços ao redor do pescoço forte e o beijou com avidez, sugando os lábios masculinos com paixão.
Caleb tentou se afastar, mas não conseguiu se mover um centímetro sequer.

- Me beije. - Ela murmurou com a voz rouca, pressionando-o de encontro a si como se não pretendesse soltá-lo jamais.

Ele deixou escapar um gemido e se abandonou aos instintos, entregando-se ao desejo poderoso e insistente. As línguas de ambos se contorciam num prazer alucinado, desvendando segredos da boca um do outro com uma sofreguidão que não conhecia limites.

De repente, um ruído estridente rompeu o silêncio da noite, porém Caleb e Luana estavam envolvidos demais para se darem conta de qualquer outra coisa que não fossem as sensações maravilhosas e intensas que os consumiam.

Segundos depois, alguém tossiu discretamente atrás dos dois. Ainda tonto de paixão, com os lábios inchados devido à voracidade dos beijos, Caleb se afastou.

- Chace acabou de ligar. - Gustavo avisou, mal conseguindo disfarçar o sorriso malicioso. - Ele me pediu para dizer a vocês dois que há uma câmera de vídeo colocada na varanda e os agentes lá fora estão discutindo os direitos de filmagem -

- Dane-se Chace. - Caleb falou por entre os dentes, olhando diretamente par o possível lugar onde a câmera devia estar instalada.

- Amor, não fique irritado, Chace é incorrigível, qualquer dia desses alguém ainda vai deixá-lo dependurado numa corda sobre um rio cheio de piranhas. E a corda estará em chamas. -

- Por favor, dê algumas dessas suas ideias ao chefe da CIA. -

- E você acha que o treinamento dos agentes não inclui situações parecidas? O pessoal é altamente capacitado, não é Chace? - Luana indagou virando-se para a câmera. Caleb resmungou qualquer coisa incompreensível, beijou-a rapidamente nos lábios e saiu sem olhar para trás.

A BailarinaWhere stories live. Discover now