Capítulo Dez

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Luana passou o resto da semana tentando fazer os exercícios recomendados pelo fisioterapeuta e evitando pensar em Caleb e Ashley. Gustavo pouco falava, mas através de um ou outro comentário, deixou escapar que Caleb e a secretária iriam sair juntos naquela noite. A notícia foi uma punhalada em seu coração.

Na quinta-feira, chateada com tudo e com todos, resolveu telefonar para Ricardo, empresário de sua companhia de balé.

- Que bom que você ligou. - ele exclamou satisfeito. - Parece que encontrei uma maneira de saldar as dívidas da companhia. Acha que vai estar de volta a Nova York na próxima semana? Vamos recomeçar os ensaios.

Luana ficou tensa. Dentro de uma semana somente um milagre seria capaz de fazer seu tornozelo sarar. Ainda assim hesitava dizer a verdade. Não queria admitir que o progresso fora mínimo, apesar das longas sessões de fisioterapia. Por mais que tentasse, não conseguia formular as palavras. Dançar era a única alternativa que lhe restava depois de Caleb tê-la rejeitado de forma tão definitiva. Não valia a pena alimentar esperanças.

O sonho de abrir uma escola de balé estava tomando forma, contudo existia um senão: seria obrigada a trabalhar em Wichita. Teria condições de suportar a proximidade do ex-noivo?

O fato de ser amigo de Gustavo o tornava uma presença constante na casa. Não. O tornozelo precisava sarar de qualquer jeito. Era sua única chance de ir embora dali já que não havia espaço para ela na vida de Caleb. Ele fizera questão de lhe dar o recado de maneira mais clara possível. Lutando contra o pânico crescente, Luana se obrigou a rir.

- Se poderei voltar à ativa dentro de uma semana? Claro! E estarei com as minhas sapatilhas de ponta calçadas. -

- Garota esperta. Então direi a Victória que você quer seu antigo quarto de volta, ok? O tornozelo está indo bem? -

- Ótimo. - ela mentiu.

- Nos veremos na próxima semana. Tchau. -

Luana desligou o telefone e permaneceu imóvel durante um longo tempo, assustada com o desenrolar dos acontecimentos. Uma mentira sempre puxa a outra, mas como poderia sustentar a ilusão estando nas pontas dos pés, no meio de um palco? Sua incapacidade de dançar com perfeição ficaria evidente aos olhos de todos.

Ignorando os pensamentos pessimistas, ela voltou para a barra. Se trabalhasse duro e se concentrasse, talvez conseguisse superar o problema físico.

Ao chegar em casa do trabalho, na sexta-feira, Gustavo parou na porta do estúdio onde a irmã se exercitava e observou-a atentamente.

- Como vai o tornozelo? - ele indagou tentando disfarçar a preocupação da voz.

-Melhorando, devagar e sempre.

- Qual a opinião do fisioterapeuta? -

- Oh, ele diz que essas coisas levam tempo. - Luana virou o rosto para o lado, incapaz de sustentar o olhar penetrante do irmão.

- Pelo que me consta, você deverá recomeçar os ensaios dentro de um mês. Tem certeza que terá condições de dançar? -

- Na verdade, os ensaios vão recomeçar dentro de uma semana. Falei com meu empresário ontem. - Claro que Gustavo protestou com veemência, expondo as dificuldades que Luana não tinha coragem de admitir nem para si mesma.

- Por favor, pare com isso. Vou ficar bem. -

- Ok, eu paro, pelo menos por agora. Wilmer virá nos buscar às seis horas em ponto. -

- Sim, me lembro do combinado. E não é preciso ficar tão preocupado comigo. Já sei que Caleb e Ashley estarão presentes.

- Sinto muito. - Embora soubesse o que estava acontecendo, Gustavo não podia colocar a irmã a par do assunto. Seria expô-la a um perigo sério e desnecessário.

A BailarinaWhere stories live. Discover now